sexta-feira, 29 de julho de 2016

Irlanda: Primeiras impressões, regadas a música celta e dança irlandesa

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No Parque Saint Stephen, em Dublin.
"Good afternoon! How're you?", me perguntou a voz rápida e automática de uma das aeromoças (aerocoroas seria mais apropriado) da Aer Lingus, que mais pareciam as versões modernas das Bruxas de Salem, agora trabalhando na cia aérea nacional irlandesa.

O nosso capitão mui irlandês se chamava John O'Connor, nome de protagonista de filme de ação (quase John Connor, o personagem de Exterminador do Futuro). Uma hora e meia depois da decolagem em Amsterdã, chegávamos a Dublin, a simpática capital da República da Irlanda.

Um branco gordão, careca e com atitude de ogro  que parecia já saturado do que estava fazendo e nem olhou pra a minha cara  perguntou quantos dias eu iria ficar, carimbou o meu passaporte, e mandou seguir.

Era inverno, e do lado de fora do aeroporto reinava uma paisagem nublada, onde o céu, o cimento do chão e as estruturas de metal tinham todos tons de cinza. Típico ambiente desta parte da Europa.
Aeroporto de Dublin. A outra, linda língua aí é o gaélico, o idioma nacional irlandês. Seu status, contudo, é mais simbólico que prático. Na real, todo mundo fala inglês; os irlandeses estudam gaélico na escola, mas é difícil achar alguém realmente fluente nele.
O cinza que impera. Imagine aí a atmosfera quieta, em que você ouve mais o vento e a chuva que pessoas.
Dublin se parece muito com as cidades do Reino Unido  aquela mistura de prédios, igrejas e universidades medievais em pedra de um lado, e ao lado muitos cafés, pubs, bares e lojas à là "loja de 1,99" com letreiro colorido contrastando. Só que Dublin é mais verde. Não me refiro a arborização, mas às cores das lojas, das marcas, das decorações, das luzes à noite... Verde é definitivamente a cor nacional. Até o carimbo da imigração no meu passaporte é verde.

A segunda observação é que parece haver mais brasileiros que irlandeses em Dublin. (Ok, um leve exagero.) Mas você se impressionará com a quantidade de jovens tupiniquins na rua, sobretudo estudantes. Na minha fila da imigração no aeroporto havia tantos estudantes brasileiros que a segurança pediu que aqueles chegando para estudo formassem uma fila separada, pois estavam atrasando os turistas (como eu), que passam por uma checagem mais rápida.

Ao chegar no albergue, eu não deveria ter ficado surpreso ao descobrir que vários dos meus colegas de dormitório eram brasileiros. Vários deles ficando lá enquanto procuravam uma acomodação mais permanente. Quando eu entrei no dormitório lá encontrei um catarinense, Marciano. (Era o nome dele  e, não, ele não era verde.)

Saí com o Marciano pela rua para explorar o centro de Dublin e comermos algo. Marciano nunca havia saído do Brasil, e estava fascinado por pisar em solo europeu. Eu, a esta altura já morando há mais de cinco anos no norte da Europa e habituado àquelas ruas quietas, cinzas, frias e molhadas como o meu cotidiano, não consegui deixar de achar aquilo curioso, como quando você mora na praia e assiste à reação de alguém que vê o mar pela primeira vez. Fiquei sorrindo sozinho enquanto caminhávamos.

Levei Marciano pra comer um prato tailandês numa das cosmopolitas cafeterias dessa região da Europa. Ele ficou fascinado pela ideia de comida tailandesa, mas não curtiu muito o sabor.

Até hoje eu me lembro da música de "rock cristão" que era o despertador dele toda manhã  e que, obviamente, também me despertava. (Flyleaf - All around me, caso alguém esteja curioso.) Até hoje quando escuto a música, ela me evoca aquelas manhãs frias, cinzentas e paradas do inverno irlandês.
Jeitão geral das ruas.
À margem do Rio Liffey, que corta a cidade, numa daquelas quietas tardes de inverno.
Eu estava aguardando respostas de umas tentativas de emprego na Holanda, e vim passar uma temporada em Dublin para não esgotar os 90 dias em que poderia permanecer na Zona Schengen de fronteiras abertas da União Europeia (a Irlanda é parte da UE, mas não aderiu às fronteiras abertas, então o tempo passado aqui não conta). Afora as visitas pela cidade e país afora, eu passava boa parte do tempo num desses deliciosos e aquecidos cafés onde servem quitutes e doces, e onde por todo o norte da Europa você assiste a pessoas trabalhando em seus laptops acompanhados de uma xícara de café.
Minha mesa de trabalho. Café com doce e uma cumbuca cheia de iogurte com geléia e cereal. Dá fome só de olhar. 
Vitrines tentadoras nestes cafés. (Este, pra quem quiser a dica, é o KC Peaches, no centro de Dublin.) Não vejo muito na comida britânica e irlandesa, mas as cafeterias merecem aplauso.
Já este era o café da manhã do albergue, completíssimo, com leite sem café e um copo de refresco. Vocês hão de convir que um complemento se fazia necessário. (Desta exata mesa eu leria, poucos dias depois, o e-mail de aceitação ao emprego que eu havia pleiteado. Jamais esquecerei.)

No próximo post eu relato as minhas visitas às principais atrações de Dublin, mas quero ainda neste post terminar de "apresentar" o país e relatar a minha ida a um concerto de dança irlandesa e música celta, num bar.

Os irlandeses têm um orgulho imenso de verem-se como os naturais descendentes da cultura celta. Esse é talvez o principal elemento de sua identidade nacional. (Conferir ao gaélico o status de língua oficial é um ato mais simbólico que prático, já que quase ninguém o fala.) Eles aqui adoram aquele astral festivo com que vemos a cultura celta, aquela atitude despreocupada, do curtir uma vida simples e alegre.

Eles adoram também o lado "mágico" da cultura celta, onde estão as raízes do Wicca e do movimento New Age contemporâneo (onde se inserem cantoras como Enya e Loreena McKennitt). Não é à toa que obras popularíssimas como Harry Potter e O Senhor dos Anéis representam elementos da cultura celta e sua mitologia. Os irlandeses devem ver os hobbits sossegados e dançantes como típicas representações do seu ideal. (De fato, o inglês Tolkien era um crítico ferrenho da industrialização que tanto transformou a Grã-Bretanha e a Irlanda, e era nostálgico daquele passado idílico. Você pode ver como, na obra de O Senhor dos Anéis, o industrializador mago Saruman que devasta florestas para usar como lenha é um dos vilões.)  

Mas vamos ao bar, e às músicas. O pub  bar de estilo fechado, geralmente com mesas de madeira e ambiente escuro  é uma das instituições mais características de todas na Irlanda e na Grã-Bretanha. Nada mais natural, portanto, que seja o lugar onde as apresentações culturais "de raiz" ocorrem.


Música instrumental irlandesa, de clara raiz celta.

Neste abaixo há uma palhinha da dança irlandesa, que não é nada fácil. Em O Senhor dos Anéis você vê os hobbits fazerem um pouco desta dança alegre e saltitante.

Aqui outra com mais umas belas moçoilas. Se reparar bem, você verá também influências depois passadas à música country dos Estados Unidos, pra onde emigraram milhões de irlandeses.

No fuzuê do pub, chegou a minha sopa de batata. É bem aquela comida de hobbit mesmo: batatas cozidas com ervas, peixe assado com maçãs e legumes... não é má, mas não espere nada condimentado ou de sabor muito forte. (Não estamos na Índia.)

A garçonete, me vendo tomar algumas notas, perguntou-me se eu era escritor. Respondi que sim.

Eles aqui na Irlanda tem um respeito imenso por literatura. Talvez o gosto por contar histórias e por fantasia os influencie tanto. Ainda que você considere que o Prêmio Nobel de Literatura é enviesado e eurocêntrico (e é mesmo), a Irlanda desponta na Europa como o país que mais tem títulos per capita: 4 prêmios Nobel de literatura (Seamus Heaney, Samuel Beckett, W.B. Yeats, e George Bernard Shaw) numa população de pouco mais de 4 milhões de habitantes  menos que a cidade do Rio de Janeiro. Isso sem falar em outros autores renomados mais antigos como James Joyce (Ulysses), Bram Stoker (Drácula), Oscar Wilde (O Retrato de Dorian Grey), e Jonathan Swift (As Viagens de Gulliver). Claramente uma sociedade de forte paixão literária.

No post seguinte eu conto mais do que vi em Dublin, antes de rumar para outras partes do país.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Em Liverpool, na terra dos Beatles

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Liverpool.
Eis Liverpool, a afamada terra dos Beatles! Poucos brasileiros vêm aqui, apesar da fama eterna da banda em nosso país. Não sabem que, na verdade, há um sem-número de atrações relacionadas aos Beatles aqui  tours, museus, bares históricos onde eles tocaram, lojas, etc. 

Resolvi que uma ida a Liverpool na minha mais recente visita à Inglaterra estava na ordem do dia. Pra qualquer fã dos Beatles, é uma visita épica e obrigatória. É equivalente a uma peregrinação a Meca. 
Visual de Liverpool na sua área portuária. Deste porto saíram muitos dos navios que levaram colonos ingleses à América do Norte. 
O inglês do rapaz do albergue era incompreensível. Simpático, o liverpooliano falava com o típico sotaque daqui, um embolado fonético que desafiará mesmo os mais versados em inglês. Não espere o típico sotaque britânico da BBC de Londres em Liverpool  os sotaques ingleses variam consideravelmente de cidade a cidade. O de Liverpool é considerado dos mais desafiadores, talvez menos apenas que os do interior da Escócia. 

Estava começando um dia repleto de Beatlemania, após chegar na noite anterior. O princípio, claro, é sempre aquele "café da manhã inglês", composto de ovos, torradas, batatas fritas no estilo inglês (chamadas de hash browns), cogumelos, feijão de lata em molho de tomate, e salsicha (que no meu caso era vegetariana). Além de chá. Eis o English breakfast, que você encontra mundo afora e que você talvez não soubesse precisamente o que é.
Típico café da manhã inglês. Contrasta com o chamado café "continental", de geléias e coisas doces. O nome é o usado pelos ingleses para referir-se às coisas da Europa continental. (Aí hotel brasileiro usa o nome "café continental" pra parecer chique e não sabe nem o que é.)
Olha a lambança!
Para o dia eu já havia comprado um ingresso para o Magical Mystery Tour, um passeio de algumas horas em que você viaja com um guia num ônibus que simula o das turnês de outrora dos Beatles, e vai visitando pontos históricos da cidade (onde os Beatles nasceram, onde moraram, onde tocaram pela primeira vez, etc.) Pra quem gosta da banda, é um passeio inesquecível. (Recomendo comprar antecipadamente pela internet, na página do tour.)
Minha mãe empolgadíssima antes do tour.
Na lendária Penny Lane, cantada pelos Beatles. ("Lane" é em inglês é tipo ruela.) O engraçado é que, nos contaram, ao longo dos anos a placa com o nome da rua foi várias vezes furtada por fãs. A prefeitura chegou ao ponto de apenas escrever o nome na parede, para não ter mais trabalho. Depois puseram essa aí que é mais firme, e difícil de arrancar.
 Strawberry Field (literalmente "campo de morangos") era um orfanato perto de onde morou John Lennon. Em 1967 ele escreveu a canção Strawberry Fields Forever para os Beatles, lembrando de sua infância. A localidade continua lá, embora o orfanato há muito já não exista mais.
A casa onde cresceu Paul McCartney, em Liverpool.
O tour é rico de detalhes sobre a vida pré-fama de cada um dos Beatles, e sobre os bastidores da época áurea da banda. O nosso guia  cujo inglês era um pouco melhor de compreender  orgulhava-se de ter uma foto dele com Paul no papel de parede do celular.

Não é parte do tour, mas você ouvirá muitas referências à Kasbah e ao Cavern Club, bares onde os Beatles tocavam sobretudo antes do estrelato. Você pode visitá-los, pois eles continuam lá. (Obviamente que hoje o ambiente é outro, já sem aquele furor enérgico da juventude dos anos 60.)
Mathew Street, no centro de Liverpool, dos bares onde os Beatles surgiram como banda.

O que você também não pode deixar de fazer, além do Mystery Magical Tour, é ver o museu The Beatles Story, que contêm ainda mais detalhes e peças da vida da banda. Não dá pra vir aqui a Liverpool sem vê-lo.

Há um submarino amarelo onde entrar, réplicas daqueles bares do jeito que eram na época dos anos 60, e um monte de coisas  além, é claro, de uma loja com milhares de souvenirs da banda e de seus integrantes.
Em frente ao museu The Beatles Story, em Liverpool.
Réplica de um dos bares onde os Beatles tocavam no início da carreira, na época em que ainda se chamava The Silver Beetles. Depois é que mudaram o nome e adotaram a grafia Beatles, cuja palavra beat quer dizer "batida" em inglês. Os cortes de cabelo padronizados e os ternos também viriam depois, como técnica de marketing do empresário da banda.
Uma réplica do Imagine, memorial a John Lennon cujo original está no Central Park em Nova York, cidade onde ele foi assassinado em 1980. Faz referência à música homônima do cantor e seu sonho de um mundo melhor.





sexta-feira, 15 de julho de 2016

Ko Phi Phi

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Este será um post bastante visual. Não há como ser diferente; Ko Phi Phi é um paraíso na Terra, daqueles que a gente vê em cartão postal e papel de parede de computador. A água do mar é tão clara que dá até pra ver os peixes nadando. Só não se esqueça do calor, que as pessoas sempre se esquecem de imaginar quando veem essas fotos, e que aqui equivale a um dia quente de verão no Nordeste ou no Rio de Janeiro.

Phi Phi (Ko significa "ilha") é uma das mais populares das ilhas que pontuam a costa da Tailândia  dessas ilhas pequenas onde você poderia dar a volta a pé em poucas horas. Aqui gravaram o filme A Praia (2000), estrelado por Leonardo DiCaprio, e que acabou lançando também Ko Phi Phi ao estrelato. (Um dos "poréns" disso é que muitas destas praias hoje estão superlotadas de turistas e sujas. Então pergunte a alguém  que não seja o vendedor  antes de escolher aonde ir.) 

Diariamente há ferries e passeios de barco dos mais variados saindo de Phuket Town para Ko Phi Phi.  Ficar na ilha é caro, mas possível. (As opções de acomodação são limitadas, como você pode imaginar numa ilha pequena.) Nós optamos por um passeio de barco que incluía o snorkel na beira de um desses vários rochedos lindos da costa.
Barco de tamanho razoável, com vários andares e belas vistas. A viagem é tranquila, mesmo pra quem enjoa fácil.
A cor da água vai variando, do azul profundo nas áreas de maior profundidade, ao verde claro perto da costa. É lindo.
Estes grandes rochedos onipresentes na costa da Tailândia dão o charme.
Pés e alegria.
São poucas horas de Phuket a Ko Phi Phi. No caminho, o mergulho de snorkel. As imagens são fortes.
A cor da água nos esperando.
(A bandeira é da Tailândia, que tem as listras na horizontal.)
O visual do lugar; o porto de Ko Phi Phi ali já ao fundo da foto.
Delícia pura.
Banho bom!
O mais engraçado desta parte era o "capitão" do barco, um tailandês enfezado, com cara de professor cansado de repetir a explicação aos alunos. Ele instruía exaustivamente como proceder com o snorkel, que tinha que formar fila ali, depois assinar o nome na lista (pra te cobrarem caso você danifique o equipamento), etc.

Pés de pato não estavam incluídos no preço, eram à parte, e nos assentos havia copiosas fotos hiper-dramáticas (nível novela mexicana) de indivíduos que supostamente haviam cortado os pés, sem os pés de pato, pisando em coral. Era uma comédia. (Se você tiver noção de onde pisa, eu não acho que os pés de pato sejam tão necessários.)
O nosso capitão enfezado e uma de suas assistentes. (Ah, Tailândia!) 
As fotos que tínhamos diante de nós coladas nos assentos da frente, para nos encorajar a alugar pés de pato.

Após uns 45min na água, era hora de desembarcar para almoçar. A ilha propriamente dita não se compara com o mar, e a parte "habitada" se limita a dois bequinhos com vendas e lojas de souvenir. Não há veículos motorizados na ilha.   

É a proverbial sonífera ilha que descansa os teus olhos e te enche de luz.
Ko Phi Phi
Peixinhos no mar, perto de onde atracamos.
Bequinhos com vendas e restaurantes no povoado.
É a glória!
O almoço, que estava incluso no pacote, não teve nada de sonífero. Foi um dos almoços mais frenéticos da minha vida, a ponto de chegar a ser engraçado.

Todos recebemos uma "ficha" indicando em que mesa sentar no restaurante de um hotel grande em frente ao porto. Na nossa já havia outros cidadãos: um casal quieto de chineses, um par de coroas  australianas, uma família peruana conversadeira com uma filha adolescente, e por fim um casal jovem que me pareceu indiano. Tirei tudo no ouvido ou por escutar as conversas entre eles, pois ninguém dirigiu sequer uma palavra a ninguém. Uma aura de tensão competitiva pairava no ar. Sentamos-nos todos feito retirantes da seca atacando vorazmente a comida (deveras insossa, diga-se de passagem: macarrão com molho de tomate de lata, rodelas de cebola frita, frango frito, legumes refogados no molho de soja, essas coisas básicas, nada de particularmente tailandês). 

Uma roda girante no centro da mesa permitia que você aproximasse de si o prato desejado. Era comum você estar se servindo e alguém começar a rodar para aproximar outra coisa de si. (A minha mãe, sendo minha mãe, daí então passou a levantar o que queria e a tirar da roda, pra o olhar estupefato dos outros com aquela cara de "isso não vale".) Sério, parecia o programa Silvio Santos, com alguma competição pra ver quem comia mais.
O pega-pra-capar da nossa roda de almoço.
Esse almoço serviu para apimentar o tempero da nossa doce estadia em Ko Phi Phi. 

Tivemos um tempo para circular, e por ali ficamos a apreciar o mar. Imagino que isto aqui numa bela noite de lua cheia também deve ser um espetáculo. 

Assim encerrávamos a nossa estadia na Tailândia, um país pra lá de fascinante e diverso. Marcante na sua "libertinagem", nos lindos templos budistas, na badalação de Bangkok, na tranquilidade de Chiang Mai e Chiang Rai, na deliciosa comida, nos seus santuários de elefantes, nas curiosas tribos das colinas do norte e em tantas outras coisas. Apaixonamos. Até mais ver, Tailândia.
É claro que nós amamos Ko Phi Phi. E a Tailândia também.


sábado, 9 de julho de 2016

Phuket: Praias e música no sul da Tailândia

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Phuket: Praias e música no sul da Tailândia

Pôr do sol na Praia de Kata, em Phuket.
Poucos ainda não ouviram falar das praias da Tailândia. Mundialmente elas são famosíssimas. Mesmo para nós, que no Brasil temos praias belíssimas "em casa", não dá para vir à Tailândia sem conhecer este sul do país, de mar, praias, ilhas e sol  ah, e também de perdição, muita bebedeira, festas à luz da lua cheia, etc. Pra quem não sabe, o sul da Tailândia é geralmente o ponto de "iniciação" dos mochileiros europeus e norte-americanos.

Phuket é, seguramente, o coração deste sul, embora não seja o seu lugar mais bonito. (Tailandês não é latim, então o Ph se pronuncia com som de P mesmo, seguido de um H aspirado, não de F.) Trata-se de uma grande ilha, tipo 1h de uma ponta a outra, e ligada ao continente por uma ponte. Perdeu o Ko ("ilha") que precede quase todos os outros destinos daqui (Ko Samui, Ko Phi Phi, Ko Pha Ngan, e dezenas de outras ilhas).

Eu vim porque queria conhecer este tão afamado lugar. Já é um destino turístico um tanto "batido", mas que não deixa de ter uns atrativos  e, o mais importante, serve de ponto de partida para se conhecer as demais ilhas.

Prepare-se para um nível maior de malandragem que nas outras partes do país (tipo o que ocorre com Bali em comparação ao restante da Indonésia), e para o calor, é claro. 
Rua simples no centrinho de Phuket Town, as pessoas montando o Sunday Night Market. Essa é a principal atração "urbana" de Phuket, que tivemos a sorte de conferir.

Acordamos às 4h da manhã para seguir ao aeroporto de Chiang Mai, e trocar o fresquinho suave do norte da Tailândia pelo abafo quente do sul. Aqui é calor tropical o ano todo  chegando a ser tão quente no verão (jun-set) que despenca o céu em chuvas quase todos os dias. Mesmo neste inverno (dez-mar), a sensação era de estar num dia de verão na Bahia.

Desembarcando no aeroporto, após um cochilo reenergizante no avião, fomos apresentados à muvuca comercial pega-turista que é Phuket. 

Antes mesmo do portão de chegada, você passa logo após pegar as bagagens por um saguão de agências de turismo chamando você, abordando, querendo saber a que hotel você vai, o que vai fazer, qual a sua idade, etc. Os preços aqui são altíssimos se comparados ao que depois encontraríamos pela cidade, então nem perca o seu tempo e nem a sua paciência. Os vendedores aqui farão drama, dizendo que depois que você sair pelo portão não haverá mais volta, e alguns são inclusive desaforados, mas ignore todos.

Ignore também os taxistas na saída. Há um serviço de van que leva você a várias partes da ilha por preços bem mais em conta, é só se informar no aeroporto. (Se disserem que esse serviço não existe mais, é mentira. Pergunte a outra pessoa até descobrir.)
Eu, depois, almoçando numa das bodegas de Phuket Town.
Na van, Travis encheu uma sacola plástica de um líquido verde  vômito com cor do picolé artificial que chupou, disse-me sua namorada. Na frente, uma figura andrógina (creio eu uma mulher, com jeito de cara baixinho arrumador de caixas) arrumava os passageiros e ficava de olho em Travis para que ele ficasse bem  e não vomitasse nas poltronas. Sua namorada, como ele da Califórnia, falava comigo com aquele nauseante sotaque californiano estilo As Patricinhas de Beverly Hills ("Like, oh my God, it was so awesome"). Contou-me que ela e Travis estavam em lua de mel, mas que passaram a maior parte do tempo na Tailândia com dor de barriga. Recomendou-me Siem Reap, no Camboja. 

Uma hora depois, chegamos à rodoviária de Phuket Town, onde os funcionários não tinham o menor senso de direção. O lugar é todo a céu aberto, apenas com um teto amplo, tipo posto de gasolina. Estávamos a 20min de caminhada para o centro da cidade, mas ninguém parecia saber nos indicar para que direção ele ficava. Num guichê, um funcionário de ar preguiçoso me deu provavelmente a conversa mais gesticulada de toda a minha vida  mais que qualquer uma que tive na Itália — a ponto de o meu amigo nos observando começar a rir sozinho, eu ainda tentando fazendo sentido das "instruções". Não fiz.

O meu palpite da direção, de toda maneira, estava correto, e seguimos debaixo do sol daquela manhã quente até fazer uma pausa para tomar café e comer uns quitutes simples de arroz com leite condensado  uma delícia!
Nós com as bagagens e um dos bolinhos de massa de arroz cobertos com leite condensado e enrolados em folha de bananeira. Uma delícia! Comemos rápido e não nos lembramos de fotografar.
Na pousada, fomos recebidos por Pai, um rapaz tailandês baixinho, sorridente e muito simpático.

Phuket Town, a principal cidade da ilha, têm belas e antigas casas de estilo português, de quando os lusos tinham um entreposto comercial aqui, embora o "geralzão" fora do centro histórico seja pouco atraente. E o mais importante: é daqui de Phuket Town que sai a maioria dos ferries para as ilhas menores deste sul da Tailândia. (Há quem opte ficar em Patong, uma praia notória por suas festas, do outro lado da ilha, mas eu escutei que a praia lá é bastante suja. E fica mais distante se você quiser fazer passeios de barco.)

Fomos, em vez de a Patong, à Praia de Kata, que nos haviam recomendado. É bastante limpa e, embora não tenha exatamente o charme das praias brasileiras, nos pareceu legal.

Nós almoçamos naquela bodega que eu mostrei numa das fotos acima, circulamos um pouco pela cidade, e tomamos um dos camburões que fazem as vezes de ônibus aqui. Eu chamaria de "pau de arara" se não fossem cobertos. Você entra pelo fundo, tipo camburão militar.

Junto de nós havia um homem nórdico com uma garotinha de seus 10 anos (que parecia ser sua filha), uns jovens gringos, e um tailandês ou outro indo pra casa.
Casas de influência portuguesa no centro histórico de Phuket. Os portugueses aqui chegaram em 1511 e foram os primeiros europeus a estabelecerem relações com o então Reino de Sião, que depois viria a se chamar Tailândia. Hoje são apenas resquícios históricos; não espere encontrar nenhum português aqui, exceto turistas.
Lojinhas boutique, pra quem gosta de compras.
Mas a Phuket "real", da maior parte dos lugares, é esta aqui. Mostro porque eu não sou revista de bordo de avião e não quero iludir ninguém.
O nosso camburão-ônibus rumo à Praia de Kata. Aquela mulher alegre ali coletava as passagens. Não me lembro quanto foi, mas foi barato.
Foi engraçado quando o nórdico, antes de darmos partida, nos perguntou pra se este ônibus ia, quando ainda estávamos aguardando o motorista voltar ao ônibus e decidir sair.
 "Praia de Kata", respondi eu prestando assistência.
 "E a Praia de Kuta?", perguntou ele com aquela cara séria imutável, típica dos homens nórdicos.
 "A Praia de Kuta fica em Bali, na Indonésia.", respondi eu sem conseguir esconder o sorriso. "Você está um pouco longe", completei.
Ele, imune à ironia, manteve aquele semblante nórdico a-emocional digno do Mika Hakkinnen e não disse nada. Saltou do ônibus com a menina e foi embora. (Não sei se resolveu ir pegar um avião para Bali.) Cinco minutos depois, ainda estávamos lá, e ele voltou com a menina. Acho que se resignou e aceitou ir pra Kata em vez de Kuta.

Sem mais delongas, um vídeo curto da Praia de Kata, pra você sentir uma palhinha da atmosfera do fim da tarde. (Esse ruído de fundo são os passarinhos nas árvores, e a música estava lá mesmo, não é edição minha.)



A praia, verdade seja dita, é legal, tranquila, mas eu não acho que se compare às praias brasileiras. A água é bonita e bem quieta, bom pra quem vai com crianças. Quase todos os visitantes são turistas.
Praia de Kata, Phuket.
Turistas a valer.
Lindo pôr do sol.

Para voltar, à noite não tem mais ônibus  você está refém dos táxis. 

Foi aí que conhecemos um dos personagens mais inesquecíveis da minha vida: Mr. Thong. Passei 45 minutos com ele no seu táxi e não compreendi ao certo qual o seu sexo e nem orientação sexual. (Não que seja da minha conta, mas você fica meio desorientado.) Como ele se apresentou como "Mr. Thong", suponho que se identifique como homem, embora na foto da licença do táxi houvesse o nome dele com a foto de uma mulher  no escuro, não deu pra ver direito se era o próprio. Eu, ingênuo, havia a princípio achado que era a esposa dele, até me lembrar que estava na Tailândia. "Tolinho, não é a esposa dele, é ele próprio", me dei conta depois. Quando a matéria é sexo e gênero aqui na Tailândia, eu só sei que nada sei, como dizia Sócrates.

Mr. Thong foi o único que topou fazer-nos o preço tabelado de 550 bahts na corrida de volta para a cidade. (Todos os outros taxistas, malandros, queriam mais.) Mr. Thong falava um inglês quebrado, tinha anéis nos dedos e o hábito de bater na própria coxa pra dar ênfase ao que dizia. O meu amigo estava tendo espasmos de riso no banco de trás enquanto Mr. Thong e eu íamos conversando na frente. Quando o assunto era comida, ele dava gemidos de prazer listando seus pratos tailandeses favoritos. (Tom Yam! Oh! Tom Kha Gai, oh! ah!)  

À noite, chegamos a Phuket Town a tempo do mercado noturno de domingo. Como no caso do mercado de sábado em Chiang Mai, é uma bonanza de comidas de rua, frutas exóticas, artistas, e souvenirs de todo o tipo. Embora seja lotado de turistas, você vê que os tailandeses também curtem e marcam presença em peso.

Abaixo uma palhinha de um músico tailandês na rua. O tio tem o típico visual dos tailandeses do sul, que têm a pele mais escura e o cabelo mais crespo. 




O mercado noturno de domingo em Phuket. É pra quem não liga pra quantidade de gente.
Tia vendendo jaca no mercado noturno em Phuket.
Garotas tailandesas vendendo sabonetes artesanais.
Acho que esse mercadão semanal é a grande atração de Phuket. Afora ele, usa a cidade basicamente como ponto de passagem para as ilhas menores, mais bonitas. No dia seguinte, iríamos à lendária Ko Phi Phi.

Deixo vocês por ora com outro vídeo do simpático tio cantor de rua ali.