terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Epílogo - Grécia

Vida boa, hein? Na ilha de Patmos, à beira do mar.

Naquele dia em que visitei a caverna ainda dei umas voltas em Patmos. Aproveitei para checar uns souvenirs (encontrei cópias do Livro do Apocalipse em não sei quantas línguas), e ver um pouco mais da ilha. É um lugar pacato, diferente de Santorini e das ilhas mais movimentadas. Aqui a maior parte dos visitantes são fieis fazendo turismo religioso (principalmente italianos), mas em outubro a alta estação já havia acabado.

Falando nisso, programem-se para vir à Grécia assim em final de estação (setembro-outubro), pois os preços caem todos pela metade. Em maio, junho e julho é tudo o olho da cara e lotado. Já entre novembro e abril está quase tudo fechado, pois não há turistas. Então vale a pena se programar.

Quanto à minha estadia, esta estava chegando ao fim. Saí de Patmos depois de 1 dia, no barco em direção à ilha de Samos, onde nasceu Pitágoras, e que fica no caminho para a Turquia.

A ilha de Samos é um pouco maior; tem dois portos. Pra facilitar minha conexão, eu chegava de Patmos num e minha conexão para a Turquia saía do outro, então tive que pegar um táxi. Motorista esperto, quis cobrar a tarifa inteira de cada um e ao mesmo tempo fazer lotação, pra ganhar em dobro. Não reclamei. Não havia nenhum outro taxista na área, meu tempo era curto, e além do mais, quem achou os outros passageiros foi ele, não eu. Ele de quebra parou na estrada para eu tirar umas fotos.
Vista para o porto de Vathi, na ilha de Samos.

Já no porto de Vathi, de onde sairia meu barco para a Turquia, eu sentei para almoçar, com vista para o mar, um prato de macarrão. Aquela coisada toda de pirão de suco de uva, arroz no espinafre, etc, é a comida caseira dos gregos, não é o que eles servem nos restaurantes, e pra isso a brasileira que encontrei morando aqui já havia me alertado. Infelizmente, nos restaurantes de turista aqui você não acha nem metade da culinária grega. Nesses só se acha essas bobagens de macarrão, kebab (que é uma carne de terceira, prensada igual madeirite pra ser comida no espetinho ou no pão), e umas entradinhas mais decoradas que lhe dão a ideia de que a Grécia tem culinária, mas que são só a ponta do iceberg. Então, não se enganem. Se tiverem a sorte, façam algum amigo grego e vão comer na casa de algum (eles são extremamente amistosos). Ou, senão, procurem os restaurantes onde os gregos vão comer, fora das áreas bem turísticas.

Isso é mais fácil em Atenas. Nas ilhas é mais difícil, pois nelas os restaurantes são quase que exclusivamente para turistas. Então fiquei com o meu macarrão mesmo, e fui andar pra fazer a digestão antes de pular no barco.
Ruas de Samos à beira do mar. Parecendo cidade de praia no Brasil, exceto pelo pavimento.
Senhor grego caminhando pelo cais.
Promenade à beira do mar, para se apreciar a vista.

Apesar de haver inúmeras pensões, bares, e o que você imaginar com o nome de Pitágoras na ilha, não há muito sobre o próprio aqui em Samos. Pra quem não sabe, Pitágoras foi muuuuito além do teorema dos triângulos. Aquilo lá dos catetos e da hipotenusa é o que te ensinam na escola, mas na verdade Pitágoras fundou toda uma corrente filosófica que ligava matemática e misticismo, e que influenciou muito Platão, e consequentemente o pensamento ocidental. Ele se mudou para Croton, no sul da Itália, e lá fundou uma escola - tipo uma versão antiga da Academia do Professor Xavier. Isso lá pelos idos de 550 AC, por volta de 150 anos antes de Platão. Pitágoras estava tão à frente do seu tempo que, naquela época, já falava até de direitos dos animais.
Pitagóreos celebram o nascer do sol, quadro do pintor russo Fyodor Bronnikov (1869)

Finalmente, era chegada a hora de dizer "até a próxima" à Grécia. O barco para a Turquia, pertinho, a 1h dali, já me aguardava. Me dei conta de que na minha mochila havia leituras de viagem assim ótimas para se cruzar fronteira e passar por alfândega (crianças, não façam isso em casa): Why do people hate America? ("Por que as pessoas odeiam a América?", com uma bandeira dos EUA queimando na capa. Na verdade, um livro ótimo, de autores britânicos, sobre a atitude dos EUA em relação ao restante do mundo e vice-versa), e Muhammad: Prophet of Our Time ("Maomé: Profeta do Nosso Tempo", outro livro muito bom, de uma ex-freira inglesa, desmistificando preconceitos acerca do Islã, e contando como Maomé combateu a ganância e o individualismo no século VII na Arábia, coisa também muito comum à mentalidade capitalista de hoje).

Por sorte, o país a entrar é a Turquia, que é muçulmana, então não havia problema. E zarpei rumo ao oriente, deixando um belo pôr do sol para trás, em direção a mais um país.

domingo, 23 de dezembro de 2012

A Caverna do Apocalipse na Ilha de Patmos

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"Eu, João, vosso irmão e companheiro nas tribulações, na realeza e na paciência em união com Jesus, estava na ilha de Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. Num domingo, fui arrebatado em êxtase, e ouvi, por trás de mim, voz forte como de trombeta" (Apocalipse, 1: 9-10)


Não era domingo, mas já eram 22h quando eu me encontrei no ferry saído de Syros. Era daqueles grandes, que leva carros, e novamente eu não tinha lugar de dormir. Circulei pelos corredores, havia restaurantes e tal, vesti o casaco e me deitei num pranchado de madeira no interior do ferry usando a mochila como travesseiro. Não seria uma noite longa - às 3.15 da manhã o ferry estava marcado para chegar em Patmos, a histórica e bíblica ilha onde João, já velho, escreveu o afamado Livro do Apocalipse (que em grego quer dizer "revelação").

Às 3.15 estávamos lá atracando. Não consegui dormir mais que duas ou três horas. Tudo iluminado, e com movimento, fica difícil. Sem falar no sub-consciente sabendo que daqui a pouco você tem que acordar  ou, se não acordar, acabar indo parar em alguma outra ilha pra onde o ferry segue viagem. Por sorte, um filho dos donos da pousada onde fiz reserva estava chegando nesse mesmo ferry, e ganhei carona. Às 3.45 já estávamos na pousada, e eu acomodado. A ilha é bem pequena, basicamente um porto, montanhas e algumas matas ao redor, além do Mosteiro de São João e uma vila ao redor, no alto.

Mas quem disse que consegui dormir? Às 4.45 eu ainda estava rolando na cama. Rolling in the deep, como diz Adele. Tentei de tudo: banho, etc. Nada. Foi aí que mudei de ideia. Resolvi tomar um café (havia uma chaleira no quarto) e sair para a caverna no escuro mesmo.
Caminho de pedras na Ilha de Patmos, do porto ao Mosteiro de São João, numa das colinas, passando pela Caverna do Apocalipse.

Ainda estava tudo escuro quando deixei a pousada. Refiz o caminho até o porto, e de lá me orientei na direção do mosteiro. Eu sabia que ele ficava a poucos quilômetros dali, e sabia mais ou menos a direção geral. No mais, havia sinalização para quem soubesse procurar (às vezes era um spray pichado num poste, deixado por outro turista).

A caverna em si fica a 1,5km do porto, mas subindo. É na metade do caminho para o mosteiro. Já há muito tempo (desde o ano 1088) existe uma Capela de Sant'Anna construída à entrada da caverna, e hoje há também um colégio nas proximidades. Rodei e virei pra ver se achava alguma entrada, mas nada. Tudo fechado. Eu sabia que o mosteiro, mais acima, abriria às 7.30, então resolvi seguir caminhando e deixar pra visitar a caverna na volta.
Ainda escuro na madrugada, mas o sol começando a querer aparecer no horizonte da ilha de Patmos.
As primeiras luzes da manhã no caminho até o Mosteiro de São João. Visão do vilarejo à beira do porto em Patmos.

O caminho já a luz dos primeiros raios de sol, e estava um pouco mais fácil caminhar. Para vocês terem uma ideia melhor do visual do caminho, esta foto foi tirada mais tarde, já em plena luz do dia.
Caminho até o Mosteiro de São João na ilha de Patmos.

Quando cheguei lá àquele vilarejo de casas brancas ao redor do mosteiro, o dia já havia amanhecido. Percebam que é um mosteiro meio fortaleza, pois era usado também com esse fim, como quase todos os mosteiros da Grécia, pra o caso de qualquer invasão (normalmente, dos turcos).
Entrada do Mosteiro de São João, pela manhã, ainda com a lua no céu.

Passei pelos labirintos de ruelas da vila até chegar à entrada do mosteiro. Como ainda estava fechado, zanzei um pouco mais pelo que parecia ser um cenário de jogo de Zelda ou Final Fantasy, e fui apreciar o amanhecer.











Uma hora depois, retornei para a entrada do mosteiro, onde já havia fiéis. A esta hora, nem sombra de turista. No interior do mosteiro, pátios com ares muito simples, parecendo cenário de filme: os aposentos dos frades, cisterna, canteiros de flores aqui e ali. E a capela de São João, bastante escura, com os sacerdotes de barbas longas e vestes pretas lá dentro começando a ler em voz alta e bem gutural os versos em grego. E fazem como se fossem mantras, repetindo várias vezes, como é a tradição do cristianismo ortodoxo.

O interessante é , mesmo depois de tocar o sino, virem dois sacerdotes de preto e começarem a bater com um martelo, de forma cadenciada, numa longa barra de madeira com partes de metal na entrada do templo. Faz um ruído danado, e eles ficam nisso por uns 10 minutos. Ecoa por toda parte.
Do pátio principal do mosteiro. Entrada para a escura capela de São João, e a barra de madeira onde os sacerdotes batem com o martelo.
Interior do Mosteiro de São João.

Acompanhei um pouco a cerimônia para conhecer. Mas não fiquei até o final porque a repetição cansa um pouco, e o silêncio e a sobriedade do lugar te dão a impressão de que se seu estômago roncar vai todo mundo ouvir, e um daqueles sacerdotes barbudos olhar pra você por cima dos oclinhos que usam para ler a Bíblia.

E eu estava com fome. Nem só de pão vive o homem mas um pãozinho às vezes faz falta. Além do mais, era um luminoso dia lá fora. Eu segui pela vila esperando encontrar algum lugar que já estivesse aberto e servindo café da manhã. Encontrei um casal de idosos numa vendinha que aparentava ser simples, mas que tinha um belo mirante no fundo.
Mirante na Ilha de Patmos.

Sentei, veio a velhinha sorrindo, e olhei o cardápio. É aquela hora em que você bate o olho nos preços (e eu sou do tipo que começa a ler o cardápio pela coluna da direita), vê o omelete a 7 euros, e olha de volta para a velhinha sorrindo. Aah vovó malaca. Mas não havia outra opção. Não só não havia nada mais aberto àquela hora, como eu também fiquei sem jeito para levantar da mesa ou dizer que ia dar uma volta. Foi o omelete mesmo, com suco de laranja de 4 euros. E a velhinha ainda me cobrou a cesta de pão, que na Grécia quase todo restaurante traz de graça. Mas foi um café da manhã agradável. Com uma vista dessas, é difícil não ser.

Com o estômago forrado, desci o caminho de volta até a caverna, que agora estava aberta. Entra-se pela Capela de Sant'Anna, e gregos não pagam (portanto, eu e minha barba não pagamos). No interior há uma lojinha (claro), alguns aposentos, e o caminho para a caverna, descendo umas escadas. No lugar não é permitido fotografar, mas se trata basicamente de uma gruta, ainda em rocha nua, onde há um pequeno altar, e destaque para o lugar onde João se abrigava, junto com o seu discípulo que lhe ajudava nos afazeres diários.

A história conta que João foi um dos poucos seguidores de Jesus que não foram martirizados (vejam a morte de Pedro e dos demais, com crucificação de cabeça pra baixo, etc). Diz-se que ele foi viver com Maria, mãe de Jesus, em Éfeso, na atual costa da Turquia, a poucas horas dali, já que Jesus havia dito na cruz o famoso "Mulher, eis aí o teu filho. Filho, eis aí a tua mãe". Acredita-se que Maria veio a falecer cerca de 10 anos depois da crucificação de Cristo, mas João seguiu pregando na região. Porém, por volta do ano 85, ou seja, muito depois, quando João, que era adolescente na época de Cristo, já era idoso, o imperador Domiciano o baniu da região, na sua perseguição aos primeiros cristãos. João foi banido para a ilha de Patmos, e anos depois, por volta de 95, diz a tradição que houve a afamada revelação.

O que foi revelado está lá na Bíblia para quem quiser ler (levando-se em conta as possíveis alterações e perdas devido às traduções ao longo da História). Há controvérsias entre os teólogos sobre se esse João é o mesmo discípulo de Jesus e o mesmo que escreveu o quarto evangelho. Há quem diga que são três pessoas distintas, enquanto que a versão principal sustenta que é o mesmo João. De um jeito ou de outro, o lugar tem uma forte significação histórica, e a experiência é fascinante.



terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Tranquilidade na ilha de Syros

Terminado o tour em Santorini, era hora de conhecer as ilhas menos turísticas da Grécia. Deixe as casinhas brancas de lado e descubra há também outras belezas. Fui então à ilha de Syros, a Patmos (onde, segundo a tradição, João escreveu o Livro do Apocalipse), e Samos, onde o filósofo Pitágoras nasceu.
Igreja na ilha de Syros, Grécia. Como sempre disse, o céu aqui não tem nuvem.

Cheguei em Syros já em meados da tarde vindo de ferry de Santorini. A ilha é quase toda de pedra lisa, dessa que você vê na igreja da foto, inclusive o pavimento das ruas, pois aqui não há asfalto. Imagine aquele calor, mas pelo menos tinha uma brisa vindo do mar.

Syros, na verdade, era só uma parada de algumas horas enquanto eu aguardava meu próximo ferry para a ilha de Patmos, que sairia à noite. Mas até lá, eu tive algumas horas para explorar  eu e minha mochila de 15 kilos.

Pouca sorte foi a ilha ser toda íngreme, cheia de escadarias que levam do centrinho lá embaixo, à beira do porto, até o alto das colinas, onde ficam as igrejas  e onde eu queria ir.

Não havia outro caminho; era ir subindo. (Ah, diz-se que há um ônibus, mas nunca vi).
Suei feito escravo no canavial pra chegar até aí com a mochila. Só os gatos me olhando, cachorro latindo, e idosos me assistindo passar.

A cidadezinha bem quieta. Vi mais idosos e animais de estimação do que tudo. Mas bonita, com palmeiras pra lembrar que aqui é o Mediterrâneo.
O pavimento de pedra de que falei. Não são calçadões não, é a rua mesmo. São todas assim. Não há asfalto. Dá uma sensação diferente. Gosto dessas experiências porque elas nos mostram que nem tudo é como a gente está acostumado a ver, e que as coisas podiam ser diferentes.
Praça central na ilha de Syros
As palmeiras em Syros
Garotos jogando futebol debaixo do sol numa praça. O calor fica por conta da sua imaginação. Mas a pedra esquenta menos que o asfalto.
Idosos prosando na frente de casa nesta quieta ilha.

Antes do pôr do sol, e depois de muita água, eu cheguei no topo. Lá havia a igreja da primeira foto, e dois idosos boa-praça que estavam conversando. Um falava inglês, me abordou, disse que morava na Dinamarca mas que passava metade do ano ali na ilha, que não trocava aquilo por nada. Só voltava à Dinamarca porque a mulher e os filhos estavam lá.

Desci ainda a tempo de ter luz sol, mas muito cedo para a janta. Voltei àquela praça onde os meninos estavam jogando bola e vi a cidade ganhar um pouco mais de animação com o chegar da noite. Sentei no banco da praça e me pus só a observar. A garotada estava jogando bola de novo, e agora havia um grupo maior. Me dei conta de que nada mudou muito nesse sentido em relação ao tempo em que eu é que estava na rua jogando. Tem sempre o gordinho; o que gosta de enfeitar com a bola e que acha que vai ser o próximo Lionel Messi; o que vem vestido com camisa de time (só que agora é da seleção espanhola); aquele que reclama quando o outro erra o passe e que faz aquele escarcéu todo... aqueles mesmos tipos que se veem no Brasil. Parece que, em algumas coisas, gente não muda.

Se isso fosse um livro de ficção, se diria, naquele estilo poético, que passaram-se horas sem eu perceber. Mentira; não passou nem meia hora.

Ainda faltavam algumas horas até o meu ferry, então fui jantar (uma pechincha). Me atenderam em grego, e eu tive que pedir o cardápio em inglês pra ter alguma chance de entender o que é que ia pedir, hehe.

No fim das contas, não vi um turista sequer. Às 21h peguei o ferry, que me deixaria na ilha de Patmos no belo horário das 3 horas da manhã.
Cidadãos tendo o dedo de prosa no barzinho em Syros. Esses bequinhos são característicos. E perceba que a pedra está por todo lugar.
Olha que cardápio deliciosooo? Mas belo ambiente.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Santorini

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Santorini, a rainha das ilhas gregas

Pense na Grécia. Se você não imaginou ruínas (ou a crise econômica), é bem provável que tenha pensado em casinhas brancas junto ao mar azul. Pois é, isso é Santorini.



Santorini é talvez a mais clássica das ilhas gregas, aquela aonde você não pode deixar de ir. Muita gente pensa que todas as ilhas gregas tem esse jeitinho de casas brancas e telhados azuis, mas não é. São basicamente só as ilhas chamadas Cíclades, um grupo de ilhas que fica entre Atenas e Creta, no Mar Egeu. E Santorini é a "rainha" delas, aquela aonde você vem e gasta todo o cartão de memória da sua máquina. Você vai entender por que.

Quando eu cheguei era dia  saí de manhã cedo de Creta, e cheguei em Santorini a tempo do almoço. Santorini é uma ilha pequena, coisa de uns 15km de norte a sul e somente uns 4km de leste a oeste. No porto já me esperava o Seu Giorgios (Jorge), da pensão onde eu fiquei. Sujeito alegre, de seus 40 e poucos anos. Chegando lá estava, com um balde lavando o chão, a Tia Stella, da mesma faixa. Ela dá nome à pensão.
Pensão Stella, onde fiquei.

Por toda parte só se vê branco. Quase todas as casas são pintadas de branco com detalhes em azul  acho que o governo fornece tinta branca gratuita, hehehe. Karterados, a região da ilha onde fiquei, é menos turística, e por isso mais barata. Mas havia uns restaurantezinhos em conta pra se visitar, embora tudo em Santorini seja mais caro, devido ao turismo (meu recorde foi o suco de laranja que encontrei a 8 euros. Vai um?).

Meu almoço  confesso, não foi assim um banquete  incluiu aquele pão com azeite de oliva e tomate com queijo feta por cima (dakos), mais purê de berinjela temperado, e rolinhos de arroz em folha de videira (pé de uva). Nada mal. Ainda mais sendo que o cara do restaurante resolveu me trazer sobremesa de graça, como cortesia (e funcionou, pois eu voltei pra comer lá durante toda a minha estadia). Um maravilhoso iogurte de cabra com doce dessa frutinha aí preta, que em Portugal eles chamam de amarena ou ginja, e que eu nunca vi no Brasil (é da família da cereja, só que mais azedinha).
Almoço em Santorini. Dakos (pão em crosta, com tomates, azeite e queijo feta por cima) com rolinhos de arroz na folha da videira, salada, e purê de berinjela.
Sobremesa 0800. Iogurte de cabra (MA-RA-VI-LHO-SO) com doce. Iogurte grosso que parece um creme;  você pode virar o prato de cabeça pra baixo que ele não cai. Aí há também o mapa de Santorini virado de lado. A região mais turística fica no meio e no norte, que está aí à direita na foto.

Mas Santorini é mesmo para as paisagens. Algumas pessoas vão à praia, mas aqui as praias são de pedregulhos, e pra quem vem do Brasil não faz muito sentido. Melhor é andar pelas ruelas, entre as casinhas, e avistar o sol dos penhascos (vejam abaixo).

Fui caminhar no primeiro dia até a vila de Fíra, ali pertinho. A brancura com a luz do sol às vezes até lhe dói a vista. E, sim, saia com uma garrafinha de água, caso contrário vai passar ou sede ou o desgosto de ter que desembolsar 3 euros numa.
Uma das muitas portinholas para o mar, do alto de Fira.
Os penhascos de Santorini, com o mar lá embaixo.

E vocês devem estar imaginando como é pra descer lá embaixo, até o porto. Bem, eis o meio de transporte mais tradicional:
Burrinhos lhe levam do alto até o porto e vice-versa; por um custo, é claro.
A escadaria onde os burros andam. E lá embaixo você dá com os burros n'água (não resisti). 

Eu não fui nos burros, pois lá embaixo não há muito o que fazer  é basicamente um bate-e-volta. Além do mais, o bem-estar dos burros não me convenceu, então eu preferi não compactuar com a coisa. Além do mais, é caro e eles fedem pra cacete (num calor desse, com pêlo e sem tomar banho, nós também federíamos).

Preferi ficar no alto de Fira para apreciar as ruas, ruelas, e as vistas, e cada cantinho.
Lojas para turista na cidadezinha de Fira, em Santorini.
Muitas lojas estilo butique, com coisas às vezes melhor de olhar do que de comprar.
E a vista.

O trajeto clássico a se fazer em Santorini é vir a Fira e, daqui, ir a Ía. (Tá bom, não vou fazer trocadilho desta vez). Ía, que fica naquela ponta ali na foto, é de onde as pessoas apreciam o pôr do sol, e dá pra se fazer o caminho a pé margeando os penhascos.

Estava com a minha sandália de couro, que uma amiga belorizontina uma vez chamou de "sandalinha de Jesus pregando no deserto". Não é assim o calçado mais robusto que se pode ter, mas o paveamento nas vilas é tranquilo. É só mesmo o sobe e desce  haja coxa! As mulheres podem vir pra cá na certeza de que sairão daqui saradas da cintura pra baixo.
Pelo caminhos e descaminhos, com o que você se depara mais frequentemente são recém-casados  chineses. Acho que é moda na China se casar em Santorini. Só numa tarde eu vi três. E as asiáticas já têm medo do sol, coitadas, passam um mal bocado aqui.
Foto a caminho de Ía. Com Fira já lá atrás na foto.
As subidas e descidas íngremes de Santorini. Tudo branco.

O problema foi que eu ACHEI que aquela ponta ali era Ía. Não era. Pra se chegar em Ía ainda era preciso contornar umas montanhas. Olha as fotos abaixo.
Caminho a Ía.

Então de repente o caminho ficou assim:
O chão já começou a ficar menos amistoso.
E a ficar assim.
Mas também assim, com a esplendorosa vista.

O negócio é que, não sei se vocês notaram, mas o sol está quase se pondo. Conseguirei eu chegar até Ía? Bom, eu me atrevi. Até porque a essa altura não fazia sentido voltar.
Só que aí a coisa lascou, pois foi ficando assim.
... assim...
E de repente assim.

Eu e minha sandália já estávamos competindo com Paulo pregando pelo deserto nos tempos da Bíblia; pé preto daquele bom de se entrar numa loja de souvenir. E escuro também já estava o arredor. O caminho já tinha virado um mato, Ía ainda lááá na ponta no fim da foto, e aí que você começa com aqueles pensamentos Eita diacho, e se eu tiver que dormir aqui nessas pedras, como é que vai ser? 

Bom, eu persisti.

No final das contas, lá já dentro da noite, eu cheguei em Ía. (Vai, sacana!)
Ruelas de Ía à noite.

Jantei por lá (eu estava la classe, suado e sujo no restaurante, mas faz parte). Como eu sabia, havia um ônibus pra voltar a Fira e redondezas, então peguei ele após dar um bordejo à noite. Falhei em chegar em Ía a tempo de ver o famoso pôr-do-sol de lá, mas no dia seguinte eu estava ali batendo ponto. Não, não caminhei tudo outra vez; o ônibus fazia o sentido reverso também, então foi mais fácil.

Cheguei em Ía durante a tarde, e estava lá junto com centenas de turistas (metade deles chineses) vendo o pôr-do-sol.  Deixo vocês com as imagens, pra entenderem melhor o porquê de eu ter dito que aqui você usa todo o cartão de memória.
Ía.




Uma sacada dessas na sua casa?
Ía
Pôr do sol em Ía.


E dali eu me fui. Santorini: parada obrigatória.