sexta-feira, 27 de maio de 2016

Pelas ruas e mercados de Bangkok experimentando a comida tailandesa, a melhor do mundo

Veja uma versão de melhor visualização deste post no novo site, em:
Pelas ruas e mercados de Bangkok experimentando a comida tailandesa, a melhor do mundo

Experimentando coisas num dos mercados de rua de Bangkok. A Tailândia é uma diversão. Está no espírito dos tailandeses, como no dos brasileiros.
Esse "a melhor do mundo" é a minha desavergonhada opinião pessoal. Talvez. Sempre me perguntam qual a minha culinária favorita, e esta é sempre uma pergunta difícil. Amo a Itália, a Índia, a minha comida baiana de origem, mas a Tailândia também está sempre em disputa lá no topo. Embora essa seja uma questão de gosto pessoal, é indiscutível que a culinária tailandesa é riquíssima em sabores, e que uma viagem aqui não está completa sem experimentar as comidas.

Não seja como os que viajam para o exterior e comem apenas em McDonald's e Subway. Aventure-se. Faz parte do conhecer o outro país. E, aqui na Tailândia, essa é uma descoberta intensa e gratificante  se você estiver preparado para os seus sabores. A culinária tailandesa é das mais celebradas do mundo, admirada Europa afora e na América do Norte. A nós na América do Sul faltam os imigrantes, mas na hora que os tailandeses descobrirem o Brasil e abrirem restaurantes aí... vai ser uma febre.

Eu como foodie assumido, fissurado por experiências gastronômicas deliciosas, fiquei contentíssimo em poder experimentar aqui na origem  e por preços bem mais camaradas  o que eu já conhecia de restaurantes tailandeses no estrangeiro, além de mais algumas coisas novas.

Comecemos pelas frutas nesta Ásia tropical, seguidas pela comida tailandesa propriamente dita, e depois passo às coisas realmente estranhas, exóticas, que os ocidentais se divertem em encontrar na Ásia. Os mercados de rua na Tailândia são uma folia. (De quebra, como um país oriental e barato, a Tailândia também acontece de ser um ótimo lugar pra comprar aquelas decorações exóticas por um preço bom. Melhor que a Índia até, embora os produtos não sejam idênticos. Mostrarei um pouco disso também.)
Tomando sorvete de côco na casca do côco, junto com a fruta. A coisa mais maravilhosa do mundo. De cobertura, tirinhas de abóbora doce. Quem já imaginava que o clássico abóbora com côco também tinha a sua versão gelada, e aqui do outro lado do mundo?

Eu sempre digo que o Sudeste Asiático é a contrapartida asiática da América Latina. Eles aqui têm a mesma riqueza tropical que nós. Inclusive, muitas de nossas frutas tropicais como a manga, a jaca e a banana, entre outras, são originárias daqui, e foram levadas às Américas pelos portugueses. Em contrapartida, o mamão, o abacate, o abacaxi, o maracujá  e todas as pimentas coloridas hoje essenciais à culinária tailandesa  são originários das Américas e fizeram o caminho contrário.

Você encontrará algumas frutas familiares, outras não. (A gente no Brasil tende a achar que conhece todas as frutas que existem. Ledo engano.)
Frutas à venda nas ruas de Bangkok. Abacaxi ali amarelo, e o vermelho à direita que eles estão traduzindo como "rose apple" é jambo. O vermelho-escuro é mangostim, uma fruta azedinha e branca por dentro que não costumamos encontrar pelo Brasil. (Se você estiver curioso pelos preços, pra ter uma ideia em reais basta cortar um zero, aproximadamente.) 
A fruta-dragão, chamada assim por lembrar os dragões do folclore chinês, é na verdade original das Américas, onde se conhece em português e espanhol por pitaia. Rara de achar, mas aqui no Sudeste Asiático ela está por toda parte.
Por dentro ela é branca com carocinhos pretos. Não tem muito gosto; os sucos em geral são batidos misturados com laranja ou limão pra dar mais sabor.
Manga seca, uma coisa que poderíamos vender no Brasil.
Os tailandeses têm muitas das mesmas frutas que nós, mas, como os mexicanos, às vezes gostam de adicionar molho de pimenta por cima. Argh!
Suco de romã, também muito comum aqui. Mas saiba que aqui eles o vendem batizado com água.
Uma fruta asiática que (graças a Deus) não fez a travessia às Américas foi durian, conhecida como "o rei das frutas" em partes do Sudeste Asiático. Parece jaca por fora e por dentro, mas tem bagos bem grandes, como você vê na foto, e o gosto é bastante diferente. É horrível, embora muitos tailandeses o amem. Essa minha cara de felicidade aí foi antes de experimentar. (O diacho aqui estava meio verde, pois não era estação. Quando maduro, o cheiro disso chega longe, e é inebriante, pois a fruta contém enxofre.)
Numa das pousadas onde ficamos. Isso deve lhe dar uma ideia do quanto a fruta fede.
Apesar dos pesares, eu ainda fui atrevido e comprei picolé disso. Tudo pela experiência. O gosto dura horas na boca.

Mas vamos à comida tailandesa propriamente dita. É uma culinária de sabores fortes, como a indiana. Porém, se os indianos se especializam nas especiarias (curry, pimenta-do-reino, cravo), os tailandeses capricham nos temperos verdes (coentro, cebolinha, e até erva-cidreira), no leite de côco e nas pimentas. Prepare-se. Os restaurantes voltados aos turistas tendem a dar uma amenizada, e normalmente servem versões "café com leite", "pra criança", quase sem pimenta. Se você quiser a experiência autêntica como eu, coma onde os tailandeses comem.

Nós descobrimos logo um supermercado 24h (é cheio deles nos distritos comerciais mais badalados) perto do hotel e que tinha também uma praça de alimentação. É comum aqui. Pratos pelos quais te cobram 15-20 euros no Europa aqui saem a R$ 5. Eu me esbanjei.

A base é o arroz, como em todo o leste e sudeste da Ásia, sempre acompanhado de um prato principal com molho, que pode ser de carne, peixe, camarão, e/ou verduras. O molho, segundo os próprios tailandeses, podem combinar de três a cinco sabores básicos  doce, salgado, azedo, amargo e apimentado. É comum haver toques de doçura, mais suave que aquela coisa escancarada dos vagabundos molhos cor-de-rosa de restaurantes chineses no Brasil.
Camarões num delicioso molho apimentado com uma pitadinha de doce. 
Pad Thai, talvez o prato tailandês mais famoso. Talharim de arroz (e não de trigo), num molho de cor alaranjada que leva até extrato de tamarindo e açúcar de cana, mexido com ovo e amendoim moído. Às vezes leva tofu ou frango, como você pedir, e é servido com uma metade de limão pra você espremer a gosto. Eu sei, soa até exótico demais, mas é uma delícia. Em restaurantes tailandeses pelo mundo, você o encontra bem mais decorado, mas ele originalmente é um prato de rua, simples como este que fotografei, e que você come aqui por 5 reais. 

Caso alguém esteja se perguntando, não se usam pauzinhos para comer aqui no Sudeste Asiático, mas garfo e colher. Pauzinhos são algo do nordeste da Ásia (China, Coreia, Japão). Em qualquer caso, faca você nunca verá, pois os orientais acham inadequado você comer armado. Como tantos dos hábitos asiáticos, a origem disso está nos ensinamentos de Confúcio (551-479 A.C.), filósofo chinês da antiguidade e que era vegetariano. Tudo já vem cortado em pedaços pequenos que você possa pegar numa garfada, sem precisar cortar nada.

Outra coisa curiosa é que aqui no Oriente eles fazem realmente uma refeição de manhã. Não há o hábito ocidental de fazer apenas uma boquinha leve. Eles aqui realmente batem um prato de comida, ou tomam sopa.

Eu me adaptei bem, porque gosto de refeições fortes de manhã. (Eu abomino aqueles cafés da manhã europeus de pão com geleia.) Já o meu amigo, depois dos primeiros dias, pediu arrego após uma apimentadíssima sopa de frango no curry verde às 9 da manhã.

"Porra, eu que sou baiano não tô aguentando. Meus amigos lá do Rio Grande do Sul não iriam durar nem duas colheradas disso aqui", disse ele num misto de choque e indignação, sem terminar a sopa. Depois resolveu seguir a influência gaúcha e passou a procurar por "coisas de padaria" de manhã.

Eu segui nos pratos asiáticos. (Passei um mês e meio comendo essas coisas todo dia de manhã na Indonésia, e me acostumei.)
Nossa matinal praça de alimentação. Ali meu café da manhã num dos dias em Bangkok: omelete cobrindo arroz, e sopa com bolinhos de peixe.
Tom Yam Goong, a sopa que você tem de experimentar na Tailândia (embora não de manhã). Leite de côco com capim-limão (erva-cidreira), tomates, cogumelos asiáticos e camarão. É uma de-lí-cia. (Tem pimenta, mas não seja frouxo.) 
Eu experimentando kow soy, um prato típico do norte da Tailândia, para onde seguimos após Bangkok. 
O kow soy (ou khao soi), típico do norte da Tailândia e raramente visto em restaurantes tailandeses no estrangeiro, é um prato de talharim de ovos no molho de legumes e especiarias com uns crackers fritos dentro. Pimenta daquela de fazer o cidadão chorar e ficar com a cara formigando.

Eu sei que as pessoas às vezes ficam cismadas em comer coisas na rua, sobretudo nestes países mais pobres. Contudo, digo que comemos na rua quase todos os dias e nenhum de nós teve qualquer problema. Evite coisas cruas que podem estar mal lavadas, e evite carnes deixadas ao ar livre, mas comidas quentes e cozidas, em geral feitas ali na hora, não costumam dar problema. (Em verdade, elas podem ser até mais novas que as de um restaurante, onde pode haver coisa velha e você não vê a preparação.)

E os doces? No reino das sobremesas os tailandeses também gostam muito de leite de côco, de arroz doce, sorvetes e gelatinas. Um clássico da Tailândia é o tub tim grob, ou "rubis" com côco verde no leite de côco, que essa menina aí abaixo está preparando. Os "rubis" são castanhas d'água chinesas (water chestnut em inglês), bastante macias. Você toma como um ponche frio. (Os tailandeses consomem isso em enormes quantidades. Fui numa festa de graduação tailandesa certa vez, e havia um vaso enorme disso que mais parecia um aquário em cima da mesa.) É gostoso, aquele gostinho mesmo de côco levemente adoçado.
Tub tim grob, sobremesa tailandesa de côco verde, leite de côco levemente adoçado, e castanhas d'água chinesas.
A preparação do sorvete de côco no côco, que mostrei no começo do post. Eles aqui gostam de pôr abóbora, castanhas, ou gelatina por cima. De brinde, nesta barraca ainda lhe dava um copo de água de côco.
Manga com um arroz grudadinho levemente adocicado, uma outra sobremesa tradicional. Delicioso.
Sorvete com geleia negra e tubinhos de biscoito. Essa geleia, comum na Ásia, é feita a partir de uma gramínea. É levemente doce com um toque de amargo. Dizem que é um alimento yin, bom pra contrabalançar o forte yang do clima quente. 
Eu com um sorveteiro na rua, num dos cantos de Bangkok.

Essas coisas você encontra por toda parte, mas um ótimo lugar onde "fazer a festa" é o Mercado Chatuchak, que opera aos fins de semana em Bangkok. Vá logo pela manhã e passe o dia, pois é grande. Foi lá que tomamos tub tim grob e achamos o sorvete mais gostoso. 

De quebra, esse mercado é também um ótimo lugar para os turistas que amam fazer compras. Os preços em geral são melhores que nos pontos turísticos da cidade. Não se esqueça de pechinchar.
No Mercado Chatuchak em Bangkok. O ceguinho cantor é presença característica do Sudeste Asiático. Neste outro post, sobre Yogyakarta na Indonésia, tem outro. É tão clássico quanto era a maçã do amor nas festas de rua do Brasil. 
Muitas lojas com decorações orientais em estilo tailandês e ótimo preço. Venha com espaço na mala, e lembre-se de sempre negociar antes de comprar.
Embora os monges reprovem a comercialização de imagens de Buda, há umas lindíssimas, e elas estão por toda parte no mercado.

Eu sei que dentre os leitores sempre há aqueles mais apaixonados por coisas bizarras. Os que, quando ouvem falar em comida na Ásia, pensam logo em escorpião no palito e essas coisas. 

Sim, os asiáticos comem mesmo essas bizarrices. Como bem colocou um amigo meu tailandês de Bangkok, "os tailandeses da zona rural comem tudo que voa, exceto avião, e tudo que tem perna, exceto cadeira e mesa." Mas é como ele disse: na zona rural. Na cidade, a venda de insetos fritos e essas coisas é essencialmente pra turista.
Eis um turista ocidental aqui admirado com a barraca de insetos fritos do tio tailandês. Vai uma conchada?
Aqui temos grilos e baratas fritas. Há também larvas de inseto grelhadas.
Não, não experimentei nada disso, então não me perguntem que gosto tem. (Você pode descobrir isso aí no Brasil mesmo.) O meu amigo disse que ia comprar pra comer, mas começou com aquela coisa de "na volta a gente compra", e não comprou.

Pra terminar, além da gastronomia propriamente dita e das bizarrices, há ainda um terceiro elemento da "comida tailandesa", que é a gama enorme de produtos coloridos e industrializados comuns por todo o leste da Ásia. Bolos cor-de-rosa, batidas de pó de chá verde, café de latinha, sucos com sabores de flores, etc. São coisas que os orientais adoram, e que eu não poderia omitir, pois você vai encontrá-los aqui em cada esquina. 
Uma típica geladeira de supermercado em Bangkok. A estética oriental adora produtos e propagandas mega-coloridas.
Este foi um suco de crisântemo que eu comprei e ninguém gostou, tive que tomar todo sozinho. Tem mesmo o gosto da flor.
Uma casa de sucos na Tailândia. Rola de tudo: suco batido com gelatina, pó de chá verde, leite e o escambal. Prepare-se para quilos de gelo dentro do copo, açúcar líquido transparente, e opções das mais diversas. 
Tomando um milk shake gelado de chá verde em Chiang Mai, no norte da Tailândia.
Ele só não supera mesmo o café tailandês, café adoçado com leite condensado. Uma delícia. Peça por Thai coffee e não se arrependerá.

A esta altura, eu creio que você já se convenceu de que a comida tailandesa tem grande riqueza de sabores, mesmo que ela ainda seja pouco conhecida de nós no Brasil. Como qualquer coisa dotada de identidade forte, você pode até não gostar, mas é difícil lhe ser indiferente. Eu a amo, e acho que muitos brasileiros, se viessem aqui, a amariam também. 

Algumas coisas mais específicas eu guardo pra depois, quando revê-los agora no norte da Tailândia, a partir do próximo post. Ê vida boa.

sábado, 21 de maio de 2016

Bangkok à noite: Lady boys, sky bars, e a famosa Rua Khao San

Veja uma versão de melhor visualização deste post no novo site, em:

Se a noite é uma criança em outros lugares, aqui em Bangkok ela definitivamente é maior de 18.

Esta provavelmente é a cena noturna mais pervertida do mundo. Se durante o dia Bangkok é uma metrópole "normal" do Sudeste Asiático, com seus lindos templos budistas e outras belezas (ver aqui), à noite ela revela um "lado B" bastante diferente, em que as ruas exalam nightlife, sexo e prostituição. Basta o sol se pôr (ou às vezes nem isso), e já surgem os neons e a música eletrônica vinda dos bares. As barraquinhas na calçada, que durante o dia vendem frutas ou souvenirs em geral, então trocam de produtos e passam a oferecer pintos de plástico, viagra e diazepam.

Dei uma palhinha sobre essa vibe já meu post sobre o Réveillon en Bangkok. Vale saber que aquele ambiente não é só na noite da virada, é todo dia. Ou melhor, toda noite, mas estávamos com tanto jet lag (10 horas de diferença de fuso horário) que estar acordados à noite era como o dia pra nós. 

Deu pra ver a noite de Bangkok em várias partes da cidade: Sukhumvit (área comercial badalada), a famosa Rua Khao San (famosa entre mochileiros e nos filmes americanos), e outras partes menos turísticas. Falarei também dos sky bars, bares em andares altíssimos com vistas para a cidade, característicos de Bangkok. Seja onde for, sexo é provavelmente a palavra-chave aqui. 
Vendedor arrumando as camisetas para vender à noite. No money, no honey ("Sem dinheiro, sem mel", pra você interpretar como quiser...). "Eu sou tímido mas eu tenho um pau grande", diz a outra. 
Camelô noturno no bairro de Sukhumvit. Tem todas as pílulas que você precisar, e umas que eu nem sei o que são.
O nível é esse aí. No bairro de Sukhumvit, área comercial e turística onde fiquei hospedado, você vê quase tudo do espírito noturno de Bangkok: noite quente, hotéis repletos de turistas ocidentais em busca de diversão e de companhia, moças tailandesas dispostas a oferecer companhia, barracas de comidas e bugigangas na rua, e alguns mendigos muito pobres no chão dormindo ou pedindo esmola. Tudo isso faz parte do cenário daqui.

E a menos que você seja bissexual, cuidado. Olho atento (e pouca bebida), pois em Bangkok à noite não são apenas os gatos que são todos pardos. Os famosos lady boys  rapazes travestidos de mulher, às vezes trabalhando na prostituição  da Tailândia são mundialmente famosos. Não é raro ouvir em albergues afora rapazes comentando que levaram a flor pra casa e descobriram mais tarde que ela tinha um talo.
Ruas movimentadas de Sukhumvit. No primeiro plano, um dos icônicos táxis rosa-choque de Bangkok (são táxis comuns, antes que você pense que há algum serviço especial subentendido). Já atrás, a moça tailandesa negocia o outro táxi para levar ela e o turista ocidental.
Esta outra cena aqui, fotografada na surdina, foi engraçada. Nós estávamos tomando algo e a travesti de vermelho estava ali de araque, sozinha na mesa, atrás do vidro e bem na frente da loja, pra que qualquer transeunte na rua visse a provocante dama de vermelho ali dando sopa. Foi então que esse tio alemão (dava pra ouvir a conversa deles) chegou e perguntou casualmente  certamente sentido-se o próprio Don Juan  se poderia se sentar. Não sei que fim tiveram, nem se o tio sabia que era uma travesti. Eu tive a impressão de que não.     
Há um clima frenético e empolgante de vida noturna aqui. O lado nocivo disso é o turismo sexual, que aqui ocorre em níveis ainda piores que no Brasil.

Contudo, essa é só parte da história. É muito comum ver tailandesas realmente namorarem os ocidentais, e às vezes casarem-se com eles  sejam rapazes, sejam coroas com o dobro da sua idade. (Eu sei que no Brasil também tem isso, sobretudo depois do Carnaval, mas aqui tem mais. Você vê pelas ruas uma quantidade imensa de tiozões gringos com umas jovens tailandesas gatinhas. Curiosamente, é raríssimo ver o contrário, mulher ocidental com rapaz asiático.)

Amigas minhas do Sudeste Asiático dizem que, sobretudo nos países mais pobres daqui (ex. Tailândia, Filipinas, Vietnã), casar-se com homem ocidental é visto como uma ótima pedida, pois eles  em geral têm mais dinheiro e também as tratam melhor (mais carinhosos, mais atenciosos), ao contrário do homem asiático, visto como tipicamente focado demais nos seus próprios afazeres (seja trabalho, seja o video game), comparativamente pouco carinhoso, e tradicionalmente infiel.

As tailandesas, por sua vez, geralmente são belas, recatadas e "do lar", do jeito que muitos homens ocidentais gostam. Então cai a sopa no mel. (Esse comportamento delas, inclusive, é uma boa dica para diferenciá-las dos lady boys, que tendem a ser mais provocantes e a jogarem mais "no ataque". As tailandesas são jeitosas e carismáticas, mas não me pareceram do tipo que toma a iniciativa. Já as travestis... você verá se vier.)
Enquanto tudo isso rola, muitas outras pessoas estão ali, debaixo dos seus olhos. O estado de precariedade daqui não é pra ser subestimado. Muitas tailandesas jovens acabam buscando parceiros ocidentais como forma de melhorar sua vida própria e a da família. 
No bairro de Patpong, aí é que você verá mais turismo sexual ainda. Em inglês, chamam também de sexpats os estrangeiros "expatriados" (expats) que vêm em busca de sexo. 

Não cheguei a ir nos bares de lá, pois não me interessava, mas fui ver a famosa Rua Khao San, point favorito dos mochileiros na Tailândia. Essa rua já foi tida como o epicentro do mochilão no mundo, principalmente depois de aparecer no filme A Praia (2000), com Leonardo DiCaprio, em que jovens ocidentais em busca de curtição nas praias paradisíacas da Tailândia acabam envolvendo-se com criminosos.

KhaoSan é um pedaço fechado de rua cheio de bares, albergues e barracas de comida, e com a maior concentração de ocidentais por metro quadrado que você verá em Bangkok. Confira o vídeo abaixo.



Na real, é como qualquer rua brasileira em época de festa popular, com vendedores de churrasquinho, bebidas, e coisas Made in China, somadas a uns bares onde gringo pode sentar-se de camiseta em clima tropical e beber sem precisar mostrar a identidade. Ou seja, nada muito diferente do que você acha em qualquer foliazinha na América Latina, só que com música de discoteca. O lado bom é o sabor tailandês disso (que não aparece em nenhum vídeo, e que você tem que comer pra provar e vir pra sentir). O lado não-tão-bom é ser meio que um show armado pra gringo conhecer com segurança as ruas do Terceiro Mundo.
Gringo, que nos Estados Unidos só pode beber legalmente a partir dos 21 anos e nunca na rua, vê isso e fica doido.
A Rua KhaoSan, com seu jeitão de micareta.
... já está bastante comercializado e artificial "para turista ver", sobretudo os adolescentes.

Já o notório Ping Pong Show, pra que me convidaram em KhaoSan e que menciono no vídeo acima, é uma atração famosa de Bangkok. Não está limitada a um só lugar; há vários. Você paga para entrar nuns bares "subterrâneos" onde assiste a shows de mulheres (em geral, prostitutas) que atiram bolinhas de ping pong, dardos e sei lá mais o quê com os músculos da vagina. (Sim, treinamento tântrico lhe permite fazer isso.) Quem não permite é a lei, já que não deixa de ser uma forma de exploração feminina, e muito ligado ao tráfico de mulheres. O público é essencialmente estrangeiro, e a polícia finge que não vê.  

Caso você ache que não há nada errado e que "elas são livres", não são. As condições em geral são precárias, por debaixo do pano, sem direitos, e repletas de abusos. Há pesquisa sobre isso, e as condições de vida dessas mulheres não são nada admiráveis. (Se você resolver ir, saiba que será cobrado preços altos pelos drinques, e que seu dinheiro não ficará com elas, mas com os cafetões.)
Eu preferi fazer como os tailandeses, e ir à rua à noite comer.
Saia da zona turística e você já verá uma Bangkok turbinada mas menos obcecada por sexo. É o caso de Chinatown, por onde passei numa noite. Bangkok é uma cidade de street food, comidas de rua, e se você quiser encontrar os tailandeses que não estão trabalhando para o mercado turístico, é onde os encontrará à noite. (Sobre as comidas em si eu falarei no próximo post.)
A Bangkok noturna, mais autêntica, que os turistas estrangeiros pouco veem. Aquelas mesas ali estão quase todas ocupadas pelos próprios tailandeses. 

Mas não posso ainda fechar o post sem falar dos famosos sky bars de Bangkok, em geral nas coberturas de alguns dos prédios mais altos da cidade. Se você assistiu ao "Se Beber, Não Case 2" ("Ressaca 2" em Portugal, traduzido literalmente do título original Hangover 2), deve ter visto a cena que se passa num deles. 

Eles são popularíssimos entre os turistas  e, por essa mesma razão, são caríssimos (40 reais um coquetel), e praticamente não são frequentados pelos tailandeses. É mais uma armadilha pra turista (tourist trap) do que qualquer outra coisa, mas há quem vá para apenas tirar uma foto rapidamente e ir embora. O do filme foi na Lebua State Tower.

Seja aonde for que você vá, verá uma Bangkok noturna animada e com personalidade. Os tailandeses garantem isso. Eu, pessoalmente, optei por misturar-me mais a eles que aos gringos de American Pie e aos sexpats. Mesmo assim, não se deixa jamais de reconhecer a atmosfera empolgante de Bangkok à noite e se deixar contagiar por ela. Daí o que você vai fazer, é com você. Aqui há de tudo, e aqui tudo pode.
Enquanto isso, no que parece ser uma outra galáxia muito distante mas é na verdade bem ali, na mesma cidade, os templos  de Bangkok reluzem em dourado à noite.
Wat Pho à noite.
O Wat Pho fecha logo nas primeiras horas da noite, mas ainda é possível deleitar-se com ele iluminado.
E, no clima de Bangkok, e nem os monges escapam.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Bangkok de dia: Os lindos templos budistas da Tailândia e o famoso Buda deitado

Veja uma versão de melhor visualização deste post no novo site, em:

Bangkok é uma cidade que se transforma do dia para a noite. Durante o dia, temos uma cidade quente, moderna, de altos prédios reluzentes, combinada a uma de visível pobreza, com muitos mendigos na rua e casebres de madeira às margens do rio. Os lindos templos budistas são o que de mais belo há para se ver aqui nestas terras tropicais. O budismo tailandês sinceramente lhe proporciona um espetáculo difícil de superar por qualquer outro país. 

Vamos por partes. Primeiro, prepare-se para o calor. Bangkok é uma metrópole tropical, calor nível Rio de Janeiro ou Nordeste do Brasil. Mesmo no inverno tailandês 
 de dezembro a março, a "alta estação" do turismo aqui  a temperatura fica na casa dos 30+ graus com aquela típica umidade tropical. Nada absurdo, mas venha preparado.

Segundo, Bangkok é uma cidade grande e movimentada, um tantinho suja, mas de bom transporte público e bastante segura. São 8.5 milhões de pessoas circulando pelo metrô subterrâneo, pelo BTS Skytrain (ótimo metrô de superfície), pelos barcos públicos com rotas fixas no rio, em seus carros particulares ou nos notórios táxis rosa-choque de Bangkok. De modo geral, o nível de infraestrutura 
 e de muvuca  das ruas é o mesmo do Brasil.

Precisando de ajuda, pergunte. Os tailandeses falam pouco inglês, mas em geral são gentis e simpáticos. Bem mais que os chineses ou coreanos, por exemplo, e são mais abertos que os japoneses. Em verdade, eles parecem tão bem humorados e irreverentes quanto os brasileiros. (Há, é claro, as exceções. Do mesmo jeito que no Brasil você não pode sob hipótese alguma ser "irreverente" sobre a mãe do outro, aqui você não pode ser irreverente sobre o rei, ou pode ir em cana. Mais sobre isso mais à frente neste post.)

Umas senhoras vendendo banana grelhada na rua.
Por fim, talvez o mais importante do ponto de vista do visitante: aqui você verá um autêntico budismo, não a versão à la carte ocidentalizada, individualista, e que só fala em meditação e karma, mas a prática social da religião, com os seus rituais coletivos, idas ao templo, presença dos monges na sociedade, etc. Dizer, como às vezes se diz no Brasil, que budismo não é religião mas "filosofia de vida" é um desconhecimento sem tamanho. Inclusive, você por toda parte verá críticas à apropriação casual e desregrada que o Ocidente faz do budismo.  
Estas placas estão por toda parte, dos templos ao aeroporto de Bangkok. "É errado usar Buda como decoração ou tatuagem", diz a mensagem. Ali em letras menores a placa avisa que você deve se vestir e se portar modestamente dentro dos templos, que comprar produtos comerciais com a cara de Buda é desrespeitoso, e que símbolos ou imagens budistas devem ser respeitosamente postos acima da altura da cintura, e nunca usados como mera decoração. No Sri Lanka, outro país de budismo semelhante ao tailandês, você pode inclusive ser multado ou preso se tiver tatuagem de Buda. (Ainda sobre a questão da altura, é curioso notar que os muçulmanos dizem o mesmo acerca do Corão, o seu livro sagrado. Você o verá exposto nas casas dos muçulmanos praticantes, sempre numa altura acima da cintura.)

O budismo aqui na Tailândia é de linha Theravada, que é a mesma escola do Sri Lanka, Cambodia, Laos e Myanmar (antiga Birmânia), diferente da escola Mahayana de China, Coreia e Japão, e da escola Vajrayana comum ao Tibete e à Mongólia. 


Não cabe aqui aprofundar-se nos detalhes sobre as diferenças entre as distintas escolas de budismo. Em síntese, as diferenças são ontológicas (ex. acerca da natureza da alma); escriturais (e.g. o budismo Theravada apega-se ao "cânone" dos primeiros registros dos ensinos de Buda na antiga língua Páli, enquanto que outras escolas usam também outras escrituras); litúrgicas (ex. rituais funerários); e de preceitos éticos (ex. a Mahayana solicita vegetarianismo, as outras escolas nem tanto). Além de uma infinidade de outros aspectos filosóficos.


Vale pelo menos saber que Sidarta Gautama, depois chamado de Buda ("iluminado"), é uma figura histórica. Ele foi um príncipe na Antiga Índia, nascido nos Himalayas (em Lumbini, atual Nepal) por volta do ano 563 AC. Dizem que, aos 29 anos, chocou-se ao ver a pobreza e o sofrimento humano do mundo exterior ao seu palácio, o que o levou à reflexão. Após praticar ascetismo e mendicância para depuração por muitos anos, pregou o caminho do meio, "nem a auto-indulgência, nem a mortificação". Pregou As Quatro Nobres Verdades e o Nobre Caminho Óctuplo, mas, tal como Jesus e Maomé, não escreveu nada, seus seguidores é que depois o fizeram. Diferenças e múltiplas vertentes surgiram com o tempo, embora todos adiram àqueles princípios.  


Buda é geralmente laudado como sendo o primeiro líder religioso a levar as pessoas a olharem para dentro de si na busca pelo divino. Isso, numa época politeísta de sacrifícios aos deuses etc., foi algo revolucionário. (Talvez ainda hoje o seja.) 


Em Bangkok há uma infinidade de templos e não dá pra ver todos, mas não deixe por nada neste mundo de visitar ao menos o Wat Phra Kaew (Templo do Buda Esmeralda), o Wat Arun (Templo da Aurora), e o Wat Pho (Templo do Buda Reclinado). O Wat Traimit (Templo do Buda Dourado) também vale a pena, se você quiser mais. (PS: Tailandês não é latim. O Ph não tem som de F, tem som de P seguido por um H aspirado, de house.) 

O Buda gordo, careca e risonho, muito popular no Ocidente, não é o próprio Buda, mas um monge chinês do século X, que dizem ter sido uma figura excêntrica mas muito espirituosa. Assim como noutras religiões, há uma veneração àqueles que se fizeram notáveis por suas virtudes. Já o Buda propriamente dito normalmente tem uns nodos na cabeça para retratar o cabelo cacheado dos indianos, em contraste ao cabelo liso dos orientais. E muitas vezes ele está na presença dos discípulos (não, não são várias cópias dele próprio. Os discípulos dele têm nome, e eram cada um notável por um aspecto de personalidade.)
Interior de um templo budista, com muitas flores e um monge ali. Nas paredes há pinturas retratando as histórias contidas nos textos sagrados budistas. É difícil de entender se você não for versado; é o equivalente a ver as pinturas numa igreja cristã sem conhecer as histórias bíblicas.  

Vamos às visitas. Por sorte, todos esses templos principais estão próximos uns dos outros, a distância que dá para cobrir a pé. Estão todos no centro histórico de Bangkok, aonde o metrô e o Skytrain não chegam, então é preciso tomar o barco a partir de uma das estações do Skytrain na beira do rio (a estação Saphan Taksin). 


Lembre que os barcos só funcionam de dia. Se quiser ficar até a noite para ver os templos iluminados (o que vale a pena), terá de achar outra maneira de voltar. Foi o que aconteceu comigo. 


Saindo do hotel na área de Sukhumvit, tomamos o Skytrain cruzando os prédios modernos da cidade e depois o barco, margeando algumas de suas partes mais humildes.

O Skytrain no bairro de Sukhumvit de Bangkok.
O barco pelo Rio Chao Phraya, que cruza a capital tailandesa. Há diversas rotas e paradas fixas à margem do rio, como um transporte público.
Já outras partes da cidade são mais precárias, como mostra esse ponto onde as pessoas aguardavam o barco, no centro.

Nós começamos pelo Wat Arun, ótimo para passar a tarde. Há vários pavilhões e áreas externas. O complexo é extenso, então permita-se pelo menos um par de horas. Os lugares são lindos.

Área do Wat Arun, o templo da aurora. Há, na verdade, vários pavilhões e estupas, nome dessas estruturas aí na foto. Elas são típicas dos templos budistas. O Wat Arun foi construído no século XVII.
Imagem de Buda com discípulos. 
Embora bastante íngreme, há degraus para subir até o alto das estupas, mas só é permitido até certa altura. 
Pátios externos, com imagem de Buda e lugar para pôr incensos. Os tailandeses usam aqueles incensos de vareta em grande quantidade.
Numa escadaria com figura de influência do folclore chinês, em Wat Arun.
Você verá muitas coisas da prática do dia-dia do budismo tailandês, como a presença de monges em seus mantos laranja, as pessoas entregando-lhes alimentos como donativos ao templo (e para caridade), preces em grupo, fila para tomar água benta, e mais algumas práticas curiosas, tipo passar engatinhando por debaixo de um altar para ter boa sorte.  
Pessoas orando com o monge.
Entrega de alimentos.
Meninada pondo moedinhas e fazendo-as tilintar na série de vasos de metal. 
Outros engatinhando por debaixo deste altar, para ter sorte.
Alguns escrevendo nomes e mensagens nesta toalha roxa, creio eu que pedindo bons auspícios para o ano.
Aqui, num outro templo, um casal fazendo mapa astral com um velhinho astrólogo tailandês.
Os orientais em geral são muito espiritualizados e chegados nas coisas de sorte e astrologia. (Para um comparativo, veja o post Indo ao templo no Japão.) Um amigo meu de Bangkok inclusive diz que os tailandeses são muito mais animistas  ligados a crenças de que há espíritos em tudo  do que seguidores das escrituras budistas propriamente ditas. Acho que em toda religião há uma certa distância entre a teoria e as práticas e crenças populares.

Aqui, neste vídeo abaixo, estamos eu e o meu amigo nos divertindo com as pessoas na fila para tomar uma bênção de água benta. 

Pessoas na fila para receber água benta do monge. Perceba o chão molhado. Aqui a água benta não é aquele pouquinho das igrejas cristãs, é quase um banho.


Neste outro vídeo, gravei um grupo de jovens monges cantando um mantra, puxado por um mais experiente. É comum que outras pessoas (todas descalças) também estejam no templo, embora em silêncio. O mais curioso de tudo é que às vezes entram cães, que deitam-se ali tranquilamente em meio aos monges, sem nenhum problema.

Vamos, finalmente, aos templos restantes.

O Templo do Buda Esmeralda (Wat Phra Kaew) fica nos precintos do Grande Palácio Real tailandês, a morada oficial do rei, e tem um status especial. O "Buda Esmeralda" 
 que é na verdade feito de jade, e se chama assim pela cor  é uma espécie de relíquia antiga, que dizem ter séculos se não milênios, uma pequena imagem do Buda que dizem trazer prosperidade ao lugar que a abrigar. É uma espécie de tesouro da Tailândia. Está no país desde o século XV, embora tenha mudado de localização. Segundo as lendas, elas foi feita na Antiga Índia ainda antes de Cristo.

Não é permitido fotografar o interior do templo. A imagem em si é relativamente pequena (48cm de altura) para lhe chamar muito a atenção, mas o lugar como um todo é de uma beleza fascinante. 

Havia tanta gente, naquele calor úmido tropical, que eu achei que estava na lavagem do Bonfim na Bahia. Acho que é porque era início de ano, e os tailandeses vinham com oferendas de flores querendo dar suas graças e fazer pedidos.
Multidão na entrada do Templo do Buda Esmeralda, Wat Phra Kaew, em Bangkok. Muitas pessoas trazendo oferendas de flores para o Buda no interior.
Bela área nos arredores do Templo do Buda Esmeralda.
Complexo de templos e estupas ao redor do Wat Phra Kaew.
Posando com os templos.
Grande riqueza de detalhes. Digo com tranquilidade que estes são os templos budistas mais elaborados que já vi no mundo. Mais do que os que visitei no Japão ou na Indonésia.
Diante do Grande Palácio. Esta em tese é a residência principal do rei, mas na prática ele tem muitas. O atual rei, Bhumibol Adulyadej, também conhecido pelo nome real de Rama IX, já é um senhor de 88 anos e que anda muito mal de saúde. Ele é adorado pela grande maioria dos tailandeses, e antevê-se que será uma grande crise social e política aqui quando ele morrer, pois seu herdeiro não inspira o mesmo amor popular. Embora a Tailândia seja uma monarquia constitucional (como o Reino Unido ou a Holanda), aqui o rei goza de uma influência muito grande. 

A poucos quilômetros dali está o Wat Pho, templo do Buda deitado, ou reclinado. A imagem é mundialmente famosa. O que muitos não sabem é que ela "apertada" dentro de um templo, e tirar fotos é uma trabalheira.

O Wat Pho tem uma área ampla e menos congestionada que essa acima, do Wat Phra Kaew. Foi lá que posamos, eu e meu amigo, para tirar foto com uns monges e eles nos perguntaram de onde éramos. Ao dizer que éramos do Brasil, um deles disse jocosamente que queria aprender as danças brasileiras. Eles aqui em geral são bem-humorados e podem ser bastante divertidos. (Em alguns templos há, inclusive, algo conhecido como "monk chat", em que um ou mais monges se fazem disponíveis para responder perguntas dos turistas estrangeiros e conversar sobre o budismo.)
O Buda reclinado, no templo Wat Pho, em Bangkok.
De outro ângulo, para se ver o tamanho em comparação às pessoas.
Nós com os monges no templo Wat Pho.
Numa outra área do Wat Pho.
O Templo do Buda Dourado, Wat Traimit, em Chinatown.
Wat Traimit. Todos os interiores são ricamente decorados com flores e em arranjos dourados. 
Enfim, em Bangkok você pode passar dias e dias encantando os olhos com os templos.

É inevitável perguntar-se o quanto que a religião budista facilita a aceitação das liberdades sexuais e de gênero vistas aqui (ver Réveillon em Bangok! Bem vindos à Tailândia, a terra da libertinagem), em contraste imenso com o conservadorismo dos países de tradição judaico-cristã ou muçulmana nesse assunto. Os próprios tailandeses a quem perguntei foram dúbios na hora de responder isso.

O budismo tem seu machismo 
 alguns templos, por exemplo, são vetados às mulheres, e os monges, que aqui tem uma série de benefícios como não pagar transporte público e ter assentos reservados nas estações de trem, são uma classe quase que exclusivamente masculina. É inclusive dito que as mulheres não devem tocá-los ou mesmo sentar-se ao lado deles, para evitar a tentação. Aquela velha e predominante ideia da mulher como o carnal que atrapalha a nobre elevação masculina. Portanto, se o budismo é "mais leve" e leva algum crédito pelo liberalismo de gênero da Tailândia, certamente não é ele sozinho. 

Seja como for, será que ainda há alguém aí que acha que budismo não é religião?


Era o entardecer, fim do dia chegando...
Às 18:00h, todos os dias, é a hora do rei. Todos se levantam para ouvir um minuto do hino nacional, fazendo respeitoso silêncio. Não ria nem faça palhaçada, ou pode ser acusado por crime de lesa-majestade. Esta é uma tradicional e notória lei usada aqui para incriminar críticos ao governo, mas pode pegar engraçadinhos também. Em maio de 2016, ela ganhou as manchetes internacionais, pois a junta militar que atualmente governa o país incriminou a mãe de um ativista tailandês que estava no exterior e que publicou algo no Facebook criticando a monarquia.
O dia terminava, e a noite estava prestes a chegar em Bangkok.