domingo, 15 de dezembro de 2013

Desbravando a verdadeira Rússia: Um dia em Novgorod

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Posando junto a uma estátua de Lênin. Novgorod, Rússia.

Moscou e São Petersburgo te mostram uma Rússia portentosa, ostentando riquezas e belezas, mas saiba que aquilo não é representativo da Rússia em geral. A grande parte da Rússia é humilde, de infraestrutura simples (frequentemente malacabada, da era soviética, pra dizer a verdade). Portanto, longe das áreas turísticas de São Petersburgo e Moscou é que você terá contato com gente, comidas e ambientes mais autênticos russos. Pra isso, uma boa pedida é dar um pulo em Novgorod, convenientemente localizada entre as duas metrópoles.

Pra começar, certifique-se de que seu trem vai para Veliky Novgorod e não Nizhny Novgorod, que é uma outra cidade no caminho para a Sibéria. Veliky Novgorod, apesar de "Veliky" significar "grande", é uma cidade pequena  o "grande" fica por conta da sua importância histórica. Já são mais de 1100 anos, com referências históricas à cidade datando do ano 862. Admito: não há lá muuuuuito o que fazer, pois a Novgorod não é muito turística, mas vale a pena passar aqui um dia para conhecer um pouco melhor o interior da Rússia. Foi o que eu fiz.

Éramos somente três  e não os cinco do grupo original  quando tomamos o enfumaçado trem noturno. Duas das amigas acharam que seria hardcore demais e preferiram evitar Novgorod e partir direto a São Petersburgo no trem de alta velocidade, o Sapsan ("falcão peregrino"), trem moderno que faz Moscou - São Petersburgo em 4 horas. Já eu, meu amigo brasileiro e a minha amiga italiana encaramos o trem noturno normal. Ele leva 8,5 horas de Moscou a Novgorod. De lá seguiríamos a São Petersburgo de ônibus depois.

Os trens russos, ao contrário do que você talvez pense, não são ruins. Há uma boa infraestrutura para dormir, e eles são melhores do que em lugares mais ricos como Canadá ou Estados Unidos. No entanto, meu amigo, minha amiga, prepare-se para muuuuuita fumaça de cigarro. Os russos bebem e fumam  ponto. Três dos seus cinco sentidos serão temporariamente comprometidos pela fumaça alheia: os olhos ardem, o seu nariz não sente mais nada, e a língua quase só capta nicotina. Se você tiver sinusite, rinite ou for asmático, nem se atreva. Fumar em meio aos assentos é proibido, mas quase todo mundo fuma nos corredores entre vagões, e o ar traz, então...

Foi sem dúvida uma das noites mais asfixiantes da minha vida.
No corredor do trem arrumando a minha cama. (Não, o trem não estava em chamas; isso na foto foi da câmera).

Afora o cigarro, prepare-se para o conversê dos russos jogando baralho e bebendo (não necessariamente álcool, mas também chá preto ou qualquer coisa). Não chega a ser uma algazarra, mas está bem mais perto do Brasil do que do silêncio de biblioteca que você geralmente encontra nos trens da Alemanha ou do Japão. Mas, verdade seja dita, depois de encarar os trens da Índia e da Indonésia, esse russo foi comfort lux.

Apesar da fumaça eu consegui dormir e às 6 e pouca da manhã estávamos chegando a Novgorod. Tudo ainda escuro. O Google Mapas não dá muitos detalhes das cidades russas, mas eu sabia a direção geral que devíamos seguir. Contudo, estávamos com fome, e tudo o que havia disponível era um "bistrô" vagabundo, a là beira-de-estrada, tipo Um Drink no Inferno só que versão russa. O ambiente no lugar era aquele de caminhoneiro, com uns pedaços de frango frito expostos no balcão e uma atendente mal encarada. Pra dar uma ideia, o meu amigo brasileiro  que não é nem um pouco fresco e ainda tem uma forte veia anti-imperialismo americano  preferiu comer no único outro lugar ali disponível: o McDonald's.

Contudo, o McDonald's não abria antes das 7, e ainda eram umas 6:20. Eu sugeri então que caminhássemos rumo ao centro da cidade, e lá encontraríamos algo. Acho mais de uma hora se passou, caminhando pelas ruas quietas, até que avistamos um lugarejo onde as pessoas  com caras de trabalhadores indo para o expediente  entravam e saíam.
Com a minha amiga italiana de manhã cedo em Novgorod, em frente à rodoviária  que fica vizinho à estação de trens. (Ali na parede é Novgorod em russo).
As ruas quietas de Novgorod ao amanhecer.
Lugarzinho que achamos para tomar café da manhã.
Não parecia haver uma viv'alma que não fosse russa lá no lugar  aliás, na cidade inteira. Eu e meus dois amigos éramos os únicos turistas, com aquelas caras de perdidos tentando se achar. As atendentes nos olhavam com umas caras impacientes de "E aí, vai pedir alguma coisa ou não?" enquanto a gente tentava identificar o que era cada um dos quitutes no balcão (ler o nome em russo não adiantava muito, e sabíamos que a chance de alguém ali falar inglês era ínfima  nem nos atrevemos). Escolhemos meio que pela cara das coisas, e não nos arrependemos. Os russos fazem pãezinhos com uma série de coisas, e é tudo muuuuuuito mais barato do que em São Petersburgo ou Moscou. São simples, tipo lanche de padaria, mas gostosos. Além disso, vimos alguém pegar café com leite (bem ao estilo "pingado" brasileiro), e aí apontamos para a xícara do homem, com aquela cara de cachorro bonzinho para a funcionária como quem diz "Eu queria um também".

Na verdade, comemos bem  e, diga-se de passagem, sem gastar quase nada. Tivemos também a chance de ver alguns russos tomando vodka já essa hora da manhã. Saindo dali fomos ver as praças e o kremlin (fortaleza) da cidade.
Numa das praças bem floridas de Novgorod. As estátuas, em geral, são militares, ou de poetas clássicos, ou de Lênin.
Sobre a ponte que cruza o Rio Volkhov e leva aos portões do kremlin, a área murada com catedrais no interior.
Perto das muralhas do kremlin de Novgorod.
Igreja ortodoxa no interior do kremlin de Novgorod.
Monumento de bronze conhecido como o "Milênio da Rússia", erigido em 1862 no aniversário de 1000 anos da cidade. As imagens são de vários personagens importantes da história russa, como Pedro o Grande e muitos outros.

Depois de passear algumas horas pela cidade, era hora de achar algum lugar pra almoçar. O desafio estava lançado mais uma vez. Chegamos a entrar num restaurante arrumadinho onde a garçonete esbravejou (ao bom estilo rude dos serviços russos) porque queríamos olhar o cardápio antes de tomar assento. Só não mandei ela à merd@ porque eu não sabia como fazê-lo em russo.

Saímos dali e olhamos vários outros lugares, sem muito sucesso. A maior parte eram somente bares. Até que minha amiga italiana resolveu entrar num pequeno supermercado pra comprar biscoitos e nós notamos uma lanchonete (desses bem de supermercado mesmo) ali servindo almoço. O lugar era simples, bem povão, sem muito glamour. Como não havia cardápio nem nada, tivemos que mais uma vez usar a tática do apontar-e-fazer-cara-de-pidão, e deu certo. A parte melhor foi que acabamos apontando para uma sopa de beterrabas que era apenas para os funcionários do supermercado. A mulher ficou sem jeito, olhou para a outra, chegou até a sorrir, e gentilmente nos serviu uns pratos da tal sopa  que estava boa. Essa sopa de beterraba com creme de leite e endro (e às vezes pedaços de carne) se chama borsh, e é super típica no leste europeu.

Lavamos a égua, e estávamos lá nos gabando da sorte quando entraram dois cidadãos falando alto, um deles tão bêbado que nem percebia que estava com dinheiro caindo dos bolsos. Sentaram-se bem à mesa ao lado da nossa, e vociferavam umas coisas que a gente não entendia. Não sei se nem os russos entendiam, pois tinha toda a pinta de ser conversa de bêbado. A cada minuto caía mais uma moeda ou nota no chão. A gente nem se atreveu a ajudar antes que ele desse um revertério, e saímos de fininho depois de pagar.

Saindo dali, avistamos mais adiante na calçada alguém segurando o outro pela gola, como quem ia dar um soco. Ao chegar mais perto percebemos que era uma mulher, esbravejando fula de raiva contra um cara, e o cara, meio mamado, tentando se explicar (ou assim parecia). A gente olhou um pra a cara do outro com aquele cara de "Meu Deus, o que é este lugar?". Detesto estereótipos, mas foi simplesmente o que nós íamos vendo.
Minha amiga italiana tomando borsh (a sopa de beterraba) na lanchonete do mercado, enquanto meu amigo escolhia algumas coisas no balcão.
Áreas residenciais simples no centro de Novgorod.

Dali ainda passamos a tarde só zanzando, pois já tínhamos visto tudo, e à tardinha fomos à rodoviária pegar nosso ônibus a São Petersburgo. As bagagens nos havíamos deixado lá num guarda-volumes pela manhã.

Não havia outros turistas; parecíamos estar cercados só mesmo de famílias e viajantes com cara de russo; gente simples, como as que você vê nas rodoviárias do Brasil. Uns ônibus meio arabacas estavam estacionados ali perto. À nossa volta, brincava empolgado com uma espada de plástico um menino loirinho, a quem apelidamos de Ivan, o terrível.
Na rodoviária de Novgorod aguardando o ônibus.
Nossas maravilhosas máquinas. 

E, ainda naquele dia, nos esperava São Petersburgo, a capital imperial.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Visitando Moscou: o Kremlin, a Praça Vermelha, e lugares menos conhecidos

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A Catedral de São Basílio, na Praça Vermelha, em Moscou.
A mesma Rússia simples, retratada no post anterior, guarda belezas como a dessa magnífica igreja. Muita gente a vê em fotos e acha que é o Kremlin, mas não é. A Catedral de São Basílio (1561) é o exemplo maior dos domos em forma de cebola e da arquitetura colorida das igrejas russas ortodoxas (vertente oriental do cristianismo católico que têm tradições distintas da igreja de Roma e que não segue o papa).

Moscou é uma cidade de 12 milhões de habitantes, a segunda maior da Europa (após Istambul), com uma quantidade razoável de lugares a ver. Além da catedral acima na famosa Praça Vermelha, há a se ver o próprio Kremlin, outras igrejas e mosteiros a perder de vista, mercados populares, prédios da era soviética, e mais. Dá pra se passar uns três dias se você não quiser cavucar cada esconderijo de Moscou. Mas o mais importante é o astral, a vibe da cidade. Não por ela ser exatamente agradável, mas por ser certamente diferente da que você encontra em outros países da Europa. Se São Petersburgo cheira à Rússia imperial dos czares, Moscou cheira a União Soviética.

Meus amigos e eu começamos com o café da manhã improvisado no cafofo. Pão, queijo e outras coisas básicas compradas no mercado da esquina, onde as caixas  quase todas imigrantes asiáticas de ex-repúblicas soviéticas (Uzbequistão, Tadjiquistão, Cazaquistão...)  mal nos olhavam. Comíamos na mesa da cozinha enquanto a TV (sempre ligada nas alturas) passava uma entrevista com algum general no jornal da manhã. A impressão que você tem ao assistir os telejornais russos é de que o mundo é um lugar hostil e a nação está sempre em risco.

Deixamos lá aqueles caras (funcionários e hóspedes) que parecem não fazer nada lá o dia inteiro, e fomos à estação de trem. Precisávamos comprar antecipadamente passagens a São Petersburgo, sob risco de os preços subirem. Atenção, pois há uma dúzia de estações de trem em Moscou. A nossa, a Leningradsky, em referência ao antigo nome de São Petersburgo (Leningrado), por sorte era perto do albergue. Há um milhão de guichês e ninguém pra te orientar em inglês, por isso sugiro enfaticamente que você aprenda ao menos o básico de russo suficiente para perguntar "onde passagens São Petersburgo?", os números, etc. Modéstia à parte, meu básico de russo salvou a pátria nessa hora.

Escolhemos o guichê com base na cara das atendentes. A mais simpática nos pareceu ser Tatiana, uma jovem loura bem arrumada (as russas sempre estão arrumadas). A decisão se revelou acertada, pois ela foi paciente conosco e uma vez até sorriu (um feito, pois fazer um funcionário público russo sorrir é quase o décimo terceiro trabalho de Hércules). Saímos pra comemorar à frente da estação com vista para uma das famosas "catedrais de Stálin", prédios altos da era soviética. As pessoas na rua ou ignoravam nosso pedido pra tirar uma foto do grupo ou aceitavam com aquela cara de impaciência. Mesmo assim ainda conseguimos sorrir na foto.
Diante da estação Leningradsky em Moscou, com uma das "catedrais de Stálin" ao fundo.

Todas as principais atrações de Moscou estão na Praça Vermelha, o coração da cidade. Ali há uma área pavimentada aberta (onde ocorriam os desfiles militares na era soviética), a icônica Catedral de São Basílio, e a área murada chamada de Kremlin. Kremlin é, na realidade, um nome genérico que quer dizer "fortaleza". Toda cidade russa antiga tem uma, embora se pense que é só em Moscou. Dentro do Kremlin moscovita  que é, portanto, uma área cercada por muralhas  há o palácio de governo, igrejas e museus.
Muralhas do Kremlin em Moscou. A Catedral de São Basílio e a área aberta dos desfiles militares ficam do lado de fora.
A Praça Vermelha no inverno. Lá ao fundo meio vermelho é um museu de história; aqui ao lado é um shopping requintado.
A Catedral de São Basílio no inverno.
Contornando-se a Praça Vermelha, as muralhas do Kremlin prosseguem por uma área de jardins -- aqui cobertos de neve.

Se alguém estiver a se perguntar sobre o frio em Moscou, faz frio mesmo. Eu dei sorte de nesses dias de inverno só estar 9 graus negativos, mas às vezes vai a -20, -30... uma delícia.

Para entrar no Kremlin é preciso uma série de tickets caros, vendidos separadamente para cada seção e com entradas em horários fixos. As atrações turísticas na Rússia são normalmente caras pra caramba (~30-60 reais cada), então preparem os bolsos. Não há acesso ao palácio de governo propriamente dito (os guardas não deixarão você nem se aproximar; se olhar torto é capaz de já lhe chamarem a atenção). Mas é possível visitar o pátio interior do Kremlin com suas catedrais, uma torre, e o armorial/tesouro nacional, cada qual com um ticket de entrada diferente.

Apesar do preço alto, se você já chegou até aqui, vale a pena ir adiante e conhecer. No armorial não é permitido tirar fotos, mas há uma riqueza de posses da época imperial russa (bíblias enormes incrustadas com jóias, roupas chiques dos monarcas, armaduras decoradas, etc.). É bonito.

Já no pátio do Kremlin você pode visitar várias igrejas ortodoxas. Chega uma hora que enjoa porque elas são muito parecidas, mas como é algo que a gente quase não encontra no Brasil, vale a pena entrar e conhecer pelo menos algumas.  Aquela na esquerda da foto abaixo é a igreja de São Miguel Arcanjo.
No pátio das catedrais no interior do Kremlin.
Canhão de 1586, da época imperial russa, no interior do Kremlin.
Reserve pelo menos um dia ou um dia e meio para ver essas atrações, pois os horários fixos de entrada (só uns quatro por dia) vão te limitar. Afora essas atrações, o que mais há nos arredores do Kremlin são lojas caras, fast-foods, etc. A visão dos soldados russos fazendo fila no McDonald's pra mim foi antológica. Lênin deve estar se revirando no túmulo.
Soldados russos fazendo fila pra comprar no McDonald's, em plenos arredores da Praça Vermelha. (E, sim, McDonald's está escrito no alfabeto cirílico). 
Falando em Lênin, também é possível ver rapidamente a múmia de Lênin preservada, num pequeno mausoléu na Praça Vermelha. Infelizmente essa "atração" estava fechada por alguns meses quando eu visitei, mas dizem que vale a pena. Os russos continuam a apreciá-lo, ao contrário de Stálin, que hoje você só verá em camisetas souvenir pra turista. As várias estátuas de si próprio que ele mandou construir foram derrubadas ainda na própria época soviética, no regime de Nikita Khrushchev, seu sucessor.

E o Balé Bolshói? Está perto dessa área central do Kremlin e da Praça Vermelha, mas se quiser assistir, reserve pela internet com alguns meses de antecedência. Eu não consegui e acabei indo ver o rival, o balé Mariinsky de São Petersburgo.
O Teatro Bolshói em Moscou.

Já vistas as atrações principais, fomos à Igreja do Cristo Redentor, enorme, a minha favorita em Moscou. Fica a uma curta caminhada do centro. Lá você verá os fiéis russos fazendo fila para beijar as imagens (hábito no cristianismo ortodoxo). Na tradição cristã ortodoxa as imagens são em geral pinturas, não esculturas. Então tomem-lhe beijos. Quando entrei na igreja havia uma fila imensa pra beijar uma imagem em especial, e após cada beijo um diácono ia limpando o vidro da pintura com uma flanelinha.
Igreja do Cristo Redentor, em Moscou no inverno.
Igreja do Cristo Redentor. Magnífica por dentro. Em 1931 essa igreja foi dinamitada pelo governo soviético, que quis usar as toneladas de ouro das cúpulas para pagar as contas públicas. Ela foi reerguida somente entre 1990-2000, após o fim do regime soviético.

Daí a alcunha de "catedrais de Stálin" para os prédios que os soviéticos erguiam sobre os escombros das igrejas e por toda a cidade.
Uma das "catedrais de Stálin", vista de perto. 

Outra visita interessante foi ao Mosteiro Novodevichy. São jardins, pequenas capelas e um cemitério onde estão enterradas figuras eminentes como Nikita Khrushchev (líder soviético 1953-1964), Boris Yeltsin, e Pyotr Kropotkin (um dos pais do anarco-comunismo). O mosteiro é um lugar tranquilo e sublime, tanto no verão quanto no inverno. Vale a pena se você quiser sentir esse ambiente russo ortodoxo num lugar mais autêntico, não-turístico.
Mosteiro Novodevichy no verão.
Mosteiro Novodevichy no inverno.
Interior de igreja ortodoxa em Novodevichy. Os fiéis acompanham a celebração de pé, e as mulheres tradicionalmente cobrem a cabeça dentro da igreja. Em lugares menos turísticos isso será exigido de mulheres turistas também.

E se você quer souvenirs (e não for inverno), não deixe de ir ao Izmaylovsky Park. Não há parque, mas um grande mercadão aberto. Há quase tudo que você acha em outras partes de Moscou, só que mais barato. Atenção especial para as dezenas de estilos de tabuleiro de xadrez. O jogo é super popular na Rússia.
Alguns tipos variados de tabuleiros de xadrez à venda.
Dois senhores jogando uma partida no mercadão de Izmaylovsky.

Moscou não será a cidade mais charmosa que você já viu, nem necessariamente a mais agradável. A beleza das ruas meio que se limita às partes históricas. Além disso, a infraestrutura capenga (com exceção do metrô) e o mau atendimento talvez te criem certa repulsa. Apesar disso, não deixa de ser uma visita historicamente importante. Gostaria de morar em Moscou? Não. Mas gostei muito de tê-la visitado. Além da História, há o contato com uma cultural social bem peculiar, diferente da europeia. E, vamos e venhamos, ainda que muito do geralzão seja feio, há aquelas vistas de Moscou que fazem a visita valer a pena.
Entardecer sobre o Rio Moskva em Moscou, com o Kremlin e suas igrejas à direita.
A Praça Vermelha numa noite de inverno.

E a viagem pela Rússia continua.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

À Rússia com amor: Chegando a Moscou e hospedando-se num cafofo

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A Rússia não é um destino fácil. Fácil é entrar, pois desde 2010 os brasileiros não precisam mais de visto (para a inveja boquiaberta de europeus e norte-americanos). Mas, uma vez lá dentro, prepare-se para olhares mal-encarados, impaciência nos serviços, e um nível de infraestrutura parecido com o Brasil, mas numa terra onde  a menos que você seja fluente em russo  ninguém fala a mesma língua que você (eles não sabem e não gostam de falar inglês). Apesar disso, a Rússia é uma terra de belezas próprias, muito interessante, e que vale a pena ser conhecida.

Para quem chegou até aqui após ler meu post da Finlândia (Lapônia), não se perca. Dali foi a minha segunda viagem à Rússia, entrando por São Petersburgo no inverno. A primeira ocorreu poucos meses antes daquilo, num mês de setembro, entrando por Moscou. Vou tomar essa primeira experiência como carro-chefe, e inserir coisas da segunda quando necessário.

Minha primeira chegada à Rússia foi de avião, partindo da Alemanha. No meio do trajeto, o capitão nos acalentou anunciando que uma peça-chave tinha dado defeito. Sem ela não seria possível chegar até Moscou, e era preciso retornar a Frankfurt. Que maravilha. Lá aguardamos 1h até a peça ser substituída, e decolamos novamente. Assim foi por água abaixo o meu plano de chegar a Moscou ainda à luz do dia, quando é mais fácil de se virar numa cidade desconhecida.

Éramos um grupo muito peculiar de amigos meus: uma engenheira mecânica chinesa, uma holandesa tímida jogadora de futebol (e praticante de boxe), uma cientista política italiana, e um brasileiro trabalhando com conservação da Amazônia no Acre. Ah, e eu. Não, não houve briga de boxe nem quebra-cabeças de engenharia -- como ocorreria se fosse filme americano. Mas nossa experiência não deixou de ser bem aventuresca.

Ninguém falava russo. Somente eu estudei da internet por uns dois meses e aprendi um basicão, além de saber ler o alfabeto cirílico, o que é muito importante, pois te permite por exemplo saber que ресtоран se lê "restoran", e deduzir que é um restaurante. São muitas palavras assim. Além disso, saber ler os sons (ainda que não saiba o significado) te permite se orientar no metrô de Moscou, onde os nomes das estações e os avisos de áudio são apenas em russo.
Vendinha simples nos arredores de Moscou. Não espere que essa tia fale algo além de russo.
Chegamos à noitinha ao aeroporto Domodedovo (não é o mesmo em que Snowden ficou, o Sheremetyevo), de onde um trem ou um ônibus te leva à estação de metrô mais próxima. Há gente suspeita por toda parte, pois os russos já tem um jeito taciturno, e as típicas caras de poucos amigos fazem você se sentir num filme de máfia.

Saímos de trem, até a Estação Paveletsky. Uma vez na rede de metrô, você está tranquilo. Ele custa barato e, com 12 linhas, cobre toda a cidade, a ponto de pouco existirem ônibus urbanos. Você verá muitos guardas e funcionários públicos uniformizados com cara de mau, entediados em suas cabinezinhas observando o movimento. Não quis dar razão pra tirá-los do tédio, então não tirei foto deles. Mas você os verá vigiando as escadas rolantes. A Rússia tem das estações de metrô mais fundas do mundo, da época da Guerra Fria, e a ideia era servirem também de abrigo anti-bombas. Leva minutos pra subir e descer em cada escada.
Numa estação de metrô em Moscou. Além de eficiente, o metrô de Moscou é um deslumbre. Cada estação é decorada de um jeito, e às vezes parece que você está num palácio ou num museu. Conheça tantas estações quanto puder.
O naipe das escadas rolantes do metrô na Rússia. Mal dá pra enxergar o fim. Às vezes se passam minutos.

Do metrô, uma caminhada breve nos levou até o albergue, um cafofo no quinto andar de um prédio velho sem elevador. (Havia elevador, mas daqueles onde só cabe uma pessoa, e que na maior parte das vezes está quebrado). Ao subir as escadas, você assiste aos moradores à porta dos seus apartamentos fumando, criando toda uma atmosfera completamente sufocante, que mistura cigarro e cheiro de prédio velho (aquela combinação de poeira, mofo e cimento).
Prédio do meu albergue, que ficava no último andar. Aquela à esquerda é a portinha do elevador. Por favor, imagine aquele oxigênio de prédio em obras abandonado, misturado com cigarro enquanto você sobe cinco andares de escada. 

A verdade é que a cultura de albergagem na Rússia não é como na Europa, voltada a jovens turistas estrangeiros. Aqui os albergues fazem mais o estilo cortiço, com famílias que se hospedam por meses, aquela tia bem dona-de-casa costurando na sala enquanto vê televisão, e grupos de senhoras lavando as roupas íntimas no banheiro. Eu, como tenho sorte, caí bem num desses.

Certa vez, pra usar o único banheiro às 6 da manhã eu precisei convencer as tias de que eu estava apertado a ponto de fazer nas calças, enquanto elas monopolizavam o banheiro coletivamente (entravam três, saíam duas, entrava uma outra). Me senti na época de vacas magras do pós-guerra.

Os russos, em geral, são calorosos por dentro e frios por fora. Após você fazer certa amizade, eles poderão se revelar pessoas maravilhosas, bem humanas e bem "amizade de irmão" do tipo "eu entraria numa briga por você". Mas, como você terá pouca oportunidade de chegar a esse nível como turista, prepare-se para a rudeza ferrenha dos russos para com estranhos  sobretudo em serviços, tipo na lanchonete, na rodoviária, etc. O que você mais encontrará é uma cara que combina tédio, impaciência, e desprezo por você, como se a pessoa estivesse put@ da vida e a culpa fosse sua.

A mensagem é: prepare-se para uma firmeza de personalidade (que às vezes leva a um certo embrutecimento) e que eles também esperarão de você. Não sorria demais, pois é tomado como falsidade. O esquema aqui é ter uma atitude firme. (As mulheres, inclusive, muitas vezes te encaram de volta e sustentam seu olhar nos olhos por mais tempo do que em outros lugares).
Os russos também são provocantes. Propaganda de celular na rua.

No nosso cafofo, três armênios tomavam conta da coisa. Mantinham o aquecedor no máximo, e circulavam de calções, pulôver e meias pelo albergue. Numa bela noite, enquanto jantávamos milho de lata e coisas afins compradas no mercado da esquina, um deles veio perguntar se alguém ali falava francês. Eu aconteço de falar, e perguntei do que se tratava.

Na recepção, um senhor idoso engravatado rodava impaciente, queixando-se de um jeito que só os franceses sabem fazer. Não falava uma palavra de inglês ou russo. Aparentava ter uns 65 a 70 anos, já meio calvo, com cabelos brancos dos lados. (Não me perguntem como esse personagem veio parar aqui). Dei boa noite e perguntei do que ele precisava. Mal sabia eu o que viria dali. Ele queria saber como chegar numa cidade do interior onde "alguém" o aguardava. Aí ele me mostrou o e-mail mais recente, que começava com "Bonjoooooooooour, mon amooooooour", e continuava em tons sedutores, aparentemente de uma jovem russa apaixonada que o aguardava ansiosamente.

Na Europa é notória a fama das russas em busca de marido rico, e que às vezes procuram esses idosos interessados num pouco de "emoção", hehe. Só não imaginei que eu fosse me deparar em primeira mão com um caso desses. O e-mail era todo romântico, e o velho fez questão de ler algumas partes pra mim enquanto apontava a tela com o dedo. Como eu era a única pessoa com quem ele podia conversar, eu tinha que tomar cuidado, pois era só ele me ver que achava mais assunto para puxar conversa. A cidade aonde ele ia ficava a 23h de ônibus de Moscou, e eu nunca soube se o velho jamais chegou ao seu destino.

As coisas que me acontecem...
Bem, no próximo post eu passo à visita a Moscou, e ao que há de mais interessante a se ver.
Áreas populares. A Moscou mais simples, fora das áreas turísticas. Pra quem quiser treinar a leitura do alfabeto cirílico, ali está escrito "Vernissage" em letras vermelhas.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Visitando a Lapônia e o Papai Noel no Ártico

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Foi Ano Novo em Amsterdã. O cheiro dos fogos se misturava ao de maconha na rua. Não que os holandeses e turistas fumem sempre, mas nesta noite de réveillon havia o bastante para confundir os cheiros. E olhe que aqui os fogos de virada de ano não são poucos. Parece festa junina. Há muitos milionários que, para além da festa paga pelo governo, fazem as suas próprias, então há fogos por toda a cidade. Além disso, aqui todo mundo parece virar criança e o que mais se vê são adultos jogando bombas na rua como se fosse a coisa mais divertida do mundo. A prefeitura remove todas as caixas de correios das ruas e as retorna no dia seguinte, pra evitar prejuízo.

A chuva, no entanto, sacaneava a festa. Caía mais do que o chuvisco costumeiro da capital holandesa, caía um verdadeiro toró. E frio de seus 5 graus, pois era inverno. Mas nada que removesse as pessoas da rua. Quem não estava ali, estava em bares, hotéis, restaurantes, ou fizeram como minha amiga geminiana que foi pra uma rave de armazém, celebrar um raveillon. Meia-noite ela me ligou dizendo que a polícia havia baixado na festa e dispersado todo mundo, pois não havia licença (dos bombeiros) pra ocorrer.

Da minha parte, passada a meia-noite e o principal dos fogos, fui me abrigar da chuva. Estava com alguns amigos e familiares que vieram me visitar em Amsterdã. Nosso 1 de janeiro não seria de lerdeza pós-festa em casa, mas um dia agitado. Nós tínhamos voo marcado de manhã para Helsinque, na Finlândia, e de lá à noite um trem até a Lapônia, mais ao norte, no ártico. Seria o começo de uma rota que também depois nos levaria à Rússia.

E assim começou o meu ano.  
Entrada de 2013 em Amsterdã, Holanda.
Fogos de réveillon em Amsterdã.
Noite da virada em Amsterdã.
Ao chegar na minha casa em Amsterdã, colocamos as roupas molhadas na secadora e dormimos algumas poucas horas. Às 9 da manhã estávamos no aeroporto, zarpando para a capital finlandesa, Helsinque.

Lá, àquela latitude da Finlândia, havia ainda menos horas de luz que em Amsterdã. Pôr do sol às 4 e pouca da tarde. Somem-se aí os dias completamente encobertos, e temos uma temporada bem escura. Em pleno feriado de 1 de janeiro, Helsinque então nos parecia quase uma cidade fantasma.
Fim de tarde em Helsinque, 1 de janeiro de 2013.
Só vimos pessoas na estação central de trens, onde chegamos com um ônibus do aeroporto. Demos algumas voltas nas ruas gélidas, escuras e vazias da cidade, mas passamos a maior parte do tempo na estação. Lá as pessoas tomavam café e circulavam. Uma nota: eu nunca havia visto tamanha concentração de andróginos, nem de pessoas com cabelo em cores tão diferentes (cor de rosa, verde claro, azul-calcinha), somadas a pessoas com piercings em lugares exóticos, tipo entre os olhos, acima do nariz. Nas quatro horas que passei na estação, contei três casais de lésbicas. Não estou recriminando nada disso, mas não deixou de chamar a minha atenção pelo contraste com os outros países. Eu ainda não havia visto esse nível de liberalismo em nenhum lugar do mundo.

Os finlandeses, em geral, são quietos, mas ciosos de suas identidades individuais. É uma sociedade rica e bem organizada, como o restante dos países nórdicos. Mas note que eles não são escandinavos. Os povos escandinavos, descendentes dos vikings (Noruega, Suécia, Dinamarca e Islândia) têm origens comuns, enquanto que os finlandeses são de outro grupo étnico e linguístico. Têm um rosto meio quadrado, e a maior proporção de loiros(as) do mundo. Seus nomes, bem únicos, não são encontrados em nenhum outro lugar: ex. Taro, Pirkko, Marjo [lê-se Mário] para mulheres, e Velli, LalliIsto para homens. A comissária no meu trem se chamava Tiia (juro que não estou inventando).
A estação central de trens em Helsinque, palco de minhas observações.
Á noite saiu o nosso trem de quase 12h horas até Rovaniemi, a capital da Lapônia. A Lapônia, a conhecida terra do papai noel, é um lugar real. É a província mais ao norte na Finlândia, e representa um terço do país. Quase toda ela se encontra acima do Círculo Polar Ártico, daí a ideia de que o Papai Noel vive no pólo norte.

As lendas da origem do mito do Papai Noel são várias. A principal é sobre o bispo (depois canonizado) São Nicolau, que viveu na região da Lícia (na atual Turquia) no século IV e que ajudava os pobres. Se diz que ele punha moedas de ouro nos sapatos dos pobres como caridade. Ele sempre foi e continua muito popular no leste da Europa. Acredita-se que, na cristianização da Europa nórdica e germânica, suas histórias se misturaram com as lendas de inverno, especialmente com o festival pré-cristão de Yule, que a Igreja sabidamente procurou associar com o nascimento de Jesus Cristo, o Natal. Nessa época, dizia-se, o deus Odin saía numa procissão pelos céus em caçada (daí a ideia de o Papai Noel sair voando de trenó). O toque final foi dado pela Coca-Cola no final do século XIX nos Estados Unidos. Para sua propaganda, transformou os trajes amarelos de bispo em vermelhos, e a figura de São Nicolau (que não era gordo) na do "bom velhinho" atual.
Papai Noel moderno, adaptado pela propaganda da coca-cola.

Eram umas 10:30 da manhã quando chegamos. Estava ainda acabando de amanhecer.
Parada de trem em Rovaniemi. A sensação é de que você está  desembarcando do Expresso Polar, do filme, ou em Nárnia antes do degelo.
Rovaniemi, capital da Lapônia.

Não sei aonde as pessoas iam com tantas malas, pois não há quase nada na cidade. A estação de trem se resume a uma sala de espera e a um restaurante que só fica aberto até o fim da tarde. Avistei uns asiáticos e deduzi que estavam ali pela mesma razão que nós, a única razão que traz turistas à Lapônia: ver a Vila do Papai Noel.

Um ônibus urbano comum pára no meio de um campo de neve, e leva as pessoas até lá  o famoso ônibus n. 8, apelidado de "Santa Express". Fizeram a Vila bem onde passa o Círculo Polar Ártico, que se torna mais uma atração. Não chega a ser grande como um parque temático, e você deve estar preparado pra algo bem baseado em lojas, restaurantes, souvenirs, e essas coisas. Contudo, há também renas (de verdade), huskies pra te arrastar no trenó de cachorro, e é claro um fábrica de brinquedos do bom velhinho. (Acho que na verdade contratam vários velhinhos pra dar conta de tantos visitantes o dia todo).
Eu na linha do círculo polar ártico, com a latitude exata no chão. 
A Vila do Papai Noel na Lapônia (ao meio-dia)
Visitantes na vila.
Decoração permanente de Natal na Vila do Papai Noel. Mas, como ainda era 1 de janeiro, o espírito era autêntico.

A gente sabe que é um empreendimento capitalista, mas não deixa de ter uma magia natalina, no mínimo por toda a paisagem nevada e por você saber onde está. Não há custo de entrada, mas claro que tudo é caro, sobretudo se você quiser uma foto com o Papai Noel. E é claro que a criançada quer. E eu também quis (afinal, quantas vezes na vida você fará isso?).

O escritório do Papai Noel fica numa grande casa de madeira, de dois andares, que parece mesmo uma oficina de brinquedos no estilo que a gente vê em filmes americanos. Os funcionários tomam o seu nome e você forma fila, com um grupo limitado de pessoas a cada meia hora. No trajeto, outros funcionários vendem certos produtos que vão desde o clássico ursão de pelúcia até colares de joias, para os adultos. Mas você não recebe o produto na hora: vai recebê-lo mais à frente, das mãos do Papai Noel, que estrategicamente estará lá para surpreender sua criança com um "Espere. Eu tenho uma coisa aqui pra você".

Você não pode usar a sua própria câmera; se quiser a foto, tem que comprar a que eles tiram de você, mas vale a pena.
Entrada para a oficina do Papai Noel.
Eu, minha mãe e um primo com o bom velhinho.
Entra para a história, pra o álbum de família ou pra aquelas coisas que você põe no seu currículo como já feitas.

Outra delas que realizei aqui foi andar em trenó de cachorro, puxado pelos huskies siberianos (finlandeses, creio). Preferi eles às renas porque as renas me pareceram entediadas, puxando gente pra lá e pra cá, enquanto que os cães estavam animados e pareciam se divertir com a folia. São mais de 10 puxando um trenó de três pessoas.
Rena pra passear. Elas me pareceram meio descontentes com o que estavam fazendo.
Trenó de huskies. (Eles não têm a menor cerimônia em fazer você passar por meio de galhos, etc.)

Afora o que eu mostrei, dá sempre, é claro, para brincar de atirar bola de neve nos outros, deslizar dos morretes, etc. Quem achar que isso é só pra criança nunca se divertiu com a neve. No mais, uma hora dá fome e você pode comer por lá (pra os carnívoros, há carne de rena). No geral, é um dia bem passado, em que você se ensopa naquela atmosfera natalina. Só não perca o último ônibus, pois não há nada além de pinheiro e neve nos arredores. O escurecer (às 2 da tarde) não vai te ajudar muito a se orientar em relação ao tempo.
No meio do nada, na Lapônia.
Estava frio? Estava, mas não era o fim do mundo. Somente poucos graus abaixo de zero (já peguei -33 no Canadá, o que é muuuuuito diferente). Aqui só as mãos ficavam meio ardidas, mas num dado momento achamos uma fogueira, dentro duma casa de madeira, bem estilo lenhador, com um ponche não-alcóolico 0800. Dá pra aguentar. Faz parte da experiência.

Quando saímos de lá eram umas 5 da tarde, de volta à estação. De lá nosso trem a Helsinque sairia à noite -- portanto mais uma viagem noturna. A dormida é na poltrona, mas não é desconfortável demais se você não tiver espírito de princesa. Mas, após chegar em Helsinque de manhã, não dormiríamos mais na Finlândia. Nosso destino era mais ao leste: São Petersburgo, já em território russo.