sábado, 20 de abril de 2013

Bem zen pelos jardins de Kyoto

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Kyoto, Japão (Parte 1): Jardins zen, o Caminho do Filósofo, e o Pavilhão de Prata (Ginkaku-ji),

Era chegada a hora de finalmente visitar Kyoto. Como capital histórica do Japão, aqui o que mais há a se visitar são templos e mansões antigas (muitas delas também convertidas em templos, em sua maioria ainda na época do Japão medieval). Os elementos dos templos japoneses eu já detalhei neste post específico, em Tóquio. Já aqui em Kyoto o show à parte são os jardins quase sempre presentes nos arredores dos templos, e que fazem um diferencial maravilhoso.

Vamos caminhar por alguns deles, incluindo o Pavilhão de Ouro, o Templo dos Mil Portais, e o Bosque de Bambu de Arashiyama (que faz você se lembrar de O Tigre e o Dragão ou de O Clã das Adagas Voadoras).
Escadaria e portão para o Templo Sho-ren-in, em Kyoto.

Naquela manhã marcante em que eu levantei sem saber se o meu cachorro estava vivo ou condenado a uma injeção letal, a perspectiva era tranquilizar-se. Era uma manhã cinzenta e de chuvisco, bem invernal, e meu amigo letão havia vindo pra Kyoto pra visitar a cidade também. Acertamos de explorar a cidade juntos, e saímos do albergue nos meados da manhã, passando na loja de conveniência próxima para estocarmos uns sushis para o almoço na rua.

Em Kyoto as áreas de interesse estão quase todas à beira das colinas no leste da cidade ou no oeste, com a cidade moderna no meio. Então é preciso escolher qual direção tomar primeiro. Iniciamos nosso passeio com o leste, mais perto, passando pela área das geishas agora deserta, já que era de manhã, e começamos pelo templo por onde passei naquela noite. Lá acabamos por encontrar as que seriam as nossas companheiras de caminhada: Maria José, uma mexicana (portanto favor ler o "José" com sotaque espanhol), e Alexandra de la Mora, uma colombiana que eu passei a chamar de "Alexandra del amor". Estavam no albergue conosco e também procurando o que ver em Kyoto.
Área do templo xintoísta Yasaka, com a vendinha de amuletos já aberta e as colinas enevoadas ao fundo. 
As coisas que a gente às vezes encontra perto de templos no Japão e que fazem lembrar personagens de algum animê, Kung fu Panda, ou alguma coisa assim. Não achei quem me explicasse isso.

Mas antes de seguir visitando templos e jardins era preciso algo: eu, depois do café da manhã, sempre gosto de um cafézinho de verdade. Mas como aqui não tem café de verdade, o jeito era apelar para as maquininhas onipresentes.
Uni-duni-tê...  e aí? Essa era a seção de bebidas quentes da máquina (indicada pela cor vermelha). Escolha difícil. 
Acabei optanto pela "montanha esmeralda" azul, que se revelou ser um "pingado" desses de bar, café com leite, só que manufaturado e com conservantes dentro da lata. Imagina a maravilha.

Pronto, agora eu estava preparado para seguir. Já ali perto estava o templo budista Sho-ren-in, um dos mais belos que visitei.
Entrada para o Templo budista Sho-ren-in.
Interior do Sho-ren-in, com vista para os seus jardins.
Interior do Sho-ren-in. Tatami no chão e portas leves de correr.

Estava frio como o cacete, mas era preciso retirar os sapatos para entrar. O interior todo de tatami, com as paredes e portas feitas do que me pareceu madeira leve e papel. Por toda parte uma arte, e aqui e ali uma imagem do Buda para meditação e prece. Tudo isso com a vista para os jardins do lado de fora. Dá vontade de passar o dia num lugar assim.
Telas no interior do templo.
Imagens e Buda e almofadas para ajoelhar-se ou sentar em prece ou meditação.
Jardins nos arredores do Sho-ren-in.



Esse templo é um dos mais tradicionais de Kyoto. Desde que foi fundado, o sacerdote principal era sempre alguém da família do imperador  pra ninguém achar que isso era exclusividade da Europa, com seus bispos e reais aparentados. Isso só se alterou com a queda do xogunato e o início da Era Meiji (1868), quando o Japão se abriu ao ocidente. Esses sacerdotes, ainda hoje, pertencem à mesma corrente Tendai do budismo que fundou o templo no Monte Kurama, e que também tem um templo importante no Monte Hiei (sim, há um Monte Hiei. Os fãs de YuYu Hakushô podem todos agora fazer aquela cara de "Aaaaah, foi daí que eles pegaram os noooomes").

Antes que pudéssemos rumar pra um próximo, a fome começou a bater. Já era hora de almoço, mas não achamos nenhum restaurante nas redondezas, então resolvemos atacar os sushis estocados, e compramos algo extra numa loja de conveniência por perto (elas estão realmente por TODA parte no Japão). Meu amigo letão comprou um ovo e eu comprei um sorvete revestido de película de arroz.
Ovo cozido já empacotadinho. 
Sorvete revestido de uma película fina feita de arroz, e que ajuda o sorvete a não derreter e ficar pingando. Não sei se era pra comer assim, mas taquei-lhe o pauzinho. No interior, calda de morango. É tão artificial quanto você pode imaginar, mas é gostoso.

De lá seguimos pelo maior torii (portal xintoísta) que eu já vi, e seguimos para um templo que mais parecia a imagem que temos de um Templo Shaolin, daqueles com os grupos de monges treinando arte marcial numa área aberta.
Um enorme torii, portal xintoísta de purificação. O maior que já vi.
Entrada para a área do templo xintoísta Heian Jingu, em Kyoto.
Templo xintoísta Heian Jingu, em Kyoto.


Consegui imaginar direitinho os grupamentos de monges treinando arte marcial ali naquela área atrás.

(Só pra constar: vale informar que o Templo Shaolin fica na China, e que ele é UM templo específico, e não um nome genérico como a gente costuma usar pra "monges shaolin").

Você pode passar um mês em Kyoto e não conseguir ver todos os templos, então é preciso priorizar. Optamos por ver os mais famosos ou que tinham mais jardins, e rumamos pelo chamado Caminho do Filósofo em direção ao Pavilhão de Prata, uma rota que se há de fazer em Kyoto.

O Caminho do Filósofo é um trajeto com um canal e sob a sombra de cerejeiras, que estavam desfolhadas neste inverno mas que certamente formam uma vista e tanto na primavera. Dizem que o filósofo e professor japonês Nishida Kitaro fazia essa rota diariamente para espairar e refletir, tornando famoso o caminho. Ele  passa pela entrada de templos e tem belas vistas para as colinas do leste de Kyoto, culmina na entrada do Pavilhão de Prata.

Descontando-se o fato de que o Pavilhão de Prata (Ginkaku-ji) na verdade não tem nada de prata, é uma área bonita e com belos jardins. Foi fundado em 1480 como uma mansão de aposentadoria da família Ashikaga, mas o dono morreu antes que pudesse completar seu projeto de folhear o telhado a prata, numa tentativa de imitar o seu avô, que décadas antes havia construído  este com sucesso  o Pavilhão de Ouro (Kinkaku-ji), do outro lado de Kyoto.

Se quiserem o nome mais formal deste templo, chama-se oficialmente Templo da Misericórdia Brilhante (Jisho-ji). "Pavilhão de Prata" foi um apelido que ele ganhou depois durante a Era Tokugawa (1600-1868), parece até que de sacanagem.
Caminho do Filósofo, em Kyoto. Essas são cerejeiras, então imagine isso aí na primavera.
Ginkaku-ji, ou Pavilhão de Prata.
Decoração feita à mão na areia à beira do Pavilhão de Prata.
Vista dos jardins no Pavilhão de Prata.

Como já era fim de tarde, e em Kyoto quase todos os templos fecham às 4:30 ou 5:00 horas (portanto, planejem-se), após essa visita nós começamos a fazer o caminho de volta para a cidade, e à procura de algum lugar para jantar. Passamos por botecos e feitinhas, e você que acha que churrasquinho desses de rua só se vende aí no Brasil, saiba que está enganado: os japoneses ADORAM esse churrasquinho de beira de calçada.

Mas como íamos jantar, o pessoal ficou de fora. Só o meu amigo letão é que resolveu experimentar uma espécie de pão recheado com creme de chá verde. Santa mãe.
Churrasquinho em Kyoto. Vai?
Espécie de pão recheado com creme de chá verde. Enjoadíííssimo.

Como eu gosto sempre de partilhar as minhas refeições com vocês, deixem-me dizer que nós achamos um lugar bem tradicional pra jantar, desses com mesas baixinhas para que os clientes se sentem no chão, e com a refeição servida numa caixinha bento, dessa com os vários compartimentos. Eu, já experiente da minha dor nas costas do meu almoço no Monte Kurama, desta vez peguei um lugar de costas para a parede pra poder recostar. Fez toda a diferença -- mas, ainda assim, se você não estiver acostumado, as pernas doem, ou você fica parecendo galinha de primeiro ovo querendo a toda hora mudar de posição.
Jantar em Kyoto. Arroz temperado; molho de soja; ervinhas que eu não sei o nome; tempura de abóbora e de camarão ali em cima (ou seja, no ovo batido); cogumelos; e uma sopinha de macarrão com tofu, algas e outros. Essas estrelinhas cor de rosa parecendo saídas de Super Mario ou de Kirby são na verdade um processado de marisco e peixe (se é que existe de verdade algo de natural aí nesse negócio).
Meu amigo letão, eu, e nossas amigas mexicana (à esquerda) e colombiana (à direita).

Continua...

Um comentário:

  1. Belissimos os templos..imagino na primavera cheios de cerejeiras...vale o esforço de chegar...adorei os jardins..mas a comilança...Deus nos acuda...to fora...haha

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