segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A Índia e as mulheres

Já já continuo a história de minhas andanças aqui pelo Rajastão, mas por agora gostaria de falar um pouco mais sobre algo que tem me chamado bastante a atenção, que é o tratamento dispensado às mulheres aqui na Índia (inclusive às firanghis estrangeiras, portanto, aspirantes a visitar a Índia, atenção).

Eu já havia comentado um pouco sobre como homens e mulheres aqui na Índia são um tanto como mundos separados. As mulheres quase sempre na cozinha e os homens na sala, conversando em separado. Tradicionalmente, a mulher só se serve depois que o homem acabou de comer. Passei por situações em que só depois que eu estava empanturrado é que eu ouvia a mulher dizer: "Então eu posso agora pegar pra mim?". Tive oportunidade recentemente de visitar eventos sociais também, e, na lata: um círculo de cadeiras pra as mulheres, outro para os homens.

Passei por três hotéis até aqui no Rajastão. Uma coisa curiosa: não teve até agora uma única funcionária feminina sequer. Camareiro, cozinheiro, balconista... TODOS homens. As mulheres certamente em casa. Chega até a ser engraçado, ver tipo seis, sete rapazes na cozinha em meio aos pratos. Eu hoje de manhã perguntei aqui, finalmente, "Por que é que só tem homem trabalhando nos hotéis?". O rapaz deu uma risada amarela e desconversou.

O mesmo vale para as lojas e o comércio. Tarefa tradicionalmente masculina. Você muito raramente vê uma atendente ou vendedora. Até hoje, na viagem inteira, só vi duas lojas em que eram mulheres, e uma delas era uma loja de uma cooperativa de mulheres da zona rural - então não podia ser diferente. O tratamento muito diferente: as mulheres sempre mais comedidas, um tanto como atendente de loja aí no Brasil. Muito diferentes dos homens vendedores, sempre espetaculosos, querem saber tudo sobre você, querem que você compre a loja inteira, etc. (sempre com segundas intenções, interessados no seu dinheiro). E se você for turista mulher então, aí pronto, se prepare para o assédio. Dessa parte eu comento de segunda-mão, pelo que ouço das estrangeiras.

No Canadá e da Holanda eu já havia ouvido reclamações de minhas amigas européias, norte-americanas e até japonesas sobre os rapazes indianos em festas etc. "Eles ficam se esfregando", e coisas do tipo. Aqui, as estrangeiras viajando sozinhas estão sempre cheias de histórias pra contar.

Ontem encontrei uma holandesa, então puxei conversa. Estava num desses restaurantes de cobertura (simples, viu gente) com vista para a cidade, havia uns músicos tocando pros turistas no local e eu me sentei onde ela estava. Disse ela que nunca viu tanta tara quanto aqui na Índia - e já viajou por muitos lugares sozinha, inclusive na América Latina, onde os rapazes têm fama de "avançar" - mas nada comparado aos daqui. Me contou que outro dia estava no tuk-tuk e o motorista ficava, pra chamar a atenção dela e perguntar algo, dando tapinhas no joelho e nas pernas dela. De repente, tomou outro caminho, parou e perguntou: "Você quer fazer sexo?". Ela ia já descendo do tuk-tuk, aí o cara reconsiderou "Não não não! Ok ok, desculpa". Disse que na rua não param de mexer no cabelo dela, louro, e que até pegada no peito já levou.

Ouvi coisas parecidas de uma moça dos Estados Unidos (mulata, pra não pensarem que é só com loiras). Foi bulinada no trem por um cara que estava sentado do lado, com os braços cruzados, e com a mãozinha ali por debaixo do braço ia acariciando ela. Are baba.

A impressão que eu tenho é que aqui a distância entre homens e mulheres deixa muitos caras meio bitolados e demais "na sede". E, sem prática de interação, fica essa coisa quase canina. Somado a isso a imagem das ocidentais de mais liberais, pronto. (Até onde eu sei e vi, os rapazes de países árabes do norte da África também não são muito diferentes disso não - outra sociedade altamente dividida). Os leitores psicológos aí podem explicar melhor.

Então, amigas firanghis estrangeiras, é altamente recomendado trazer uma companhia masculina quando quiserem vir à Índia - irmão, amigo, namorado, vale qualquer coisa. Nesse caso não há desrespeito porque os bulinadores sabem que se bobearem levam um sopapo.

Não é à toa que a Índia é campeã em movimentos que lutam por questões de gênero e por mais respeito às mulheres. Aqui no Rajastão o índice de analfabetismo entre mulheres é o dobro que entre os homens.

No sul da Índia, contam que há áreas de tradição matriarcal e que lá as mulheres é que ditam a norma. Mas isso eu ainda vou verificar mais pra frente, e conto pra vocês.

3 comentários:

  1. A cada post seu ficava mais encantada com a Índia e já considerava, depois da Grécia, uma visitinha neste lado do globo. Estou reconsiderando após esse post. :) Beijos!

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  2. Oi migo desbravador!
    Are babado forte!!! Cadê a Lei Maria de Ashanti???? hehehehehehe
    Eu conversei uma vez com uma mulher que disse que na Índia ela andava com a cabeça coberta o tempo todo. Disse que assim os homens não desrespeitam, sobretudo se andar com alguns acessórios de conotação budista, porque daí é desrespeitar uma mulher religiosa...vai saber...
    Eu não vou pra India não, prefiro o Japão...hehehe
    Beijos!

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  3. Huahuahau Maria de Ashanti foi ótima!!!

    Pois é Mairon, até que sua explicação faz um sentido inicial. Apesar de que deve ter muito de uma percepção cultural extraviada de achar que o liberalismo ocidental desqualifica as mulheres a tal ponto que, ainda que não seja sabido que está pratica (de avançar nas mulheres) não é comum no ocidente, a mulher fica numa posição tal que eles já não se importam mais.

    Seria interessante ver se há alguma posição do governo local quanto a esta prática com relação ao turismo.

    Abraço

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