domingo, 12 de setembro de 2010

Doze horas em Nova Délhi

Cheguei na casa ainda mal havia amanhecido. 5:30 da manhã e já havia certo tráfego nas ruas. O que mais se vê nas ruas são os tuk-tuks, ou auto-riquixás, como desse tiozinho aí na foto abaixo.

Auto-Riquixá, movido a gás, nas ruas de Nova Délhi

Arredores de onde estou morando em Delhi
Quer imaginar Nova Délhi? Primeiro de tudo, esqueça a ambientação da novela - que supostamente se dava numa cidade menor e mais tradicional. Imagine, em vez disso, o morro da Rocinha. Agora multiplique a extensão para kilômetros e mais kilômetros de casas construídas umas sobre as outras, becos, lamaçal, buraco, barracos e lixões... Pronto, agora basta imaginar que essa muvuca toda é hinduísta (roupas características, incenso nas barracas, imagens de Shiva aqui e ali, etc.).

Nova Délhi se parece com uma grande favela, feia, mas pontuada aqui e ali por monumentos e paragens que são belíssimas de disputar (e, algumas vezes, ganhar, em minha opinião) de lugares mais famosos na Europa. Além disso, tem a vantagem de não ser violenta como os subúrbios latino-americanos. Aqui eu ando pra lá e pra cá, às vezes você casas com portas abertas, sem grande criminalidade. Pelo menos isso!

Mas estava eu ainda me preparando para o primeiro dia. Na família: o tio da casa, a tia, a assistente que ajuda a cortar os temperos, e dois garotinhos muito simpáticos de 6 e 9 anos. Estava em meu quarto arrumando a bagagem, e fazendo hora pra tomar o café da manhã (que está incluso no que eu pago), quando ouvi sininhos badalando na cozinha. "Nossa, que chique eles, parece hotel", e fui animado saindo em direção à cozinha. Só que o sininho não era pra mim, era pra Lord Krishna. Em bom estilo Opash, estava lá a dona da casa balançando o sininho e acendendo incenso antes de "abrir" a cozinha - auspícios para o dia.

Não muito tempo depois o café estava servido. Digo, o chai. Já vem adoçado, então se você é daqueles(as) que pede "o meu com pouco açúcar por favor", se deu mal. Aliás, aqui em termos de comida já vão lhe dando, ninguém pergunta se você quer não (é igual avó aí no Brasil). Mas o chai é gostoso, é com leite e chá preto. No fim parece um café com leite só que com gosto de chá. Além disso, comemos uma espécie de pão fino redondo, do diâmetro de um palmo. Ele é esquentado na chapa com óleo, e vem quente. Pra ficar mais gorduroso, adicione manteiga à vontade, que derrete. Adicione também um molho picante daqueles de fazer você correr pra um gole de chai e queimar a língua. Bem, pra quem é baiano ou acostumado a pimenta, não há problema, só basta se acostumar a ter isso no café da manhã. Ah! O pãozinho chato se chama "Prantha", e vem com vegetais e alho dentro. (Fácil de lembrar o nome, né? Basta lembrar da sua empregada se referindo ao seu jardim, e lembrar que o pãozinho vem com planta dentro).

Acho que comi uns 5 "prantha" só nesse primeiro dia. O tiozinho não queria me deixar parar de comer não. E a servente (de Bengala do Oeste, fala Hindi e Bengali) cooperava gentilmente trazendo mais e mais. Eu já tava começando a tomar fôlego pra mastigar, e o tiozinho apontando com a mão e dizendo "Por favor" com aquela cara prestativa, e eu sem querer fazer desfeita.

Meia hora depois estava eu zonzo de tanto prantha, descendo a escada com o tio, que disse que ia me mostrar o caminho pra a estação de metrô. Pensei que íamos a pé, naquele labirinto de lamaçal, buraco e gente passando. Mas não, vamos de moto. Capacete, pra quê? Ah, eu acho que ainda não mencionei o nome do tiozinho: Mr. Bhalla. Nome muito auspicioso pra uma rodada de moto sem capacete nas ruas de Nova Délhi.

Chegamos sãos e salvos, embora muitas vezes eu achei que fôssemos bater ou que eu ia virar e cair de cara numa daquelas poças de lama multi-doença. Depois de decorar e passar de trás pra frente e de frente pra trás a rota com o tiozinho, segui (os indianos, pelo que tenho visto, adoram conversar com você como se fossem seu professor, fazem você completar a frase, etc.). Graças a Deus, o metrô é ótimo. Vai sempre cheio mas não chega a ser "lata de sardinha". Tem ar condicionado e é barato. (Contudo, entretanto, todavia, não leva a todas as partes da cidade. Mas isso são cenas dos próximos capítulos). No primeiro dia eu rodei um pouco a pé e visitei o Templo de Akshardham, da foto abaixo.

É todo um complexo em torno de um templo hinduísta de fazer você arregalar os olhos. Muito bonito por dentro e muito bem construído, com áreas informativas também, cinema com exibição de "documentários", passeio de barco por um "brinquedo" daqueles tipo de parque de diversão, numa área fechada e que você vai vendo os arredores, com narrador, só que sobre a história e cultura da Índia. Parece uma Disney hindu. E no templo em si você só entra descalço. A entrada nesse complexo é de graça mas cheia de segurança, e máquinas fotográficas são proibidas, por isso a vista só de longe aqui.

O interior do templo é limpo a ponto de você não sentir um grão de poeira no seu pé (mesmo ele sendo cheio de grandes pórticos e aberturas).

Delhi é assim, um mar de favela e sujeira, mas com "ilhas" de beleza monumental. E, o que é interessante no meu ponto de vista: nem sempre se tratam de monumentos antigos. Esse mesmo aí é de 2005. Ao contrário da Europa, onde as igrejas viraram atração turísticas, e as obras de impressionar e artes em geral são uma coisa de épocas passadas, muito diferentes do hoje em dia europeu, aqui na Índia não é assim. O hinduísmo é vivido claramente no dia dia, e os monumentos refletem uma cultura muito atual. A gente vai conversando disso um pouco mais nas semanas a seguir.

6 comentários:

  1. Eu sempre soube (e lhe disse) que você chegaria longe, mas Índia me surpreendeu, hehehehe.

    Muito bom o texto, Mairon. O blog já tá salvo nos Favoritos aqui.

    Nem preciso dizer pra aproveitar bem a estadia, né?

    Um abração, velhinho, e cuidado com a malandragem indiana! hehehehe

    - Renan Sales

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  2. Oi querido como vc está longe cruz credo!Virou andarilho pelo mundo né?Vc é que está certo, enriquecendo sua cultura que já é 10.Muito bom seu blog e com certeza estarei vindo ver suas noticias, poste bastante fotos bonitas tá?Um bjo grande e fica com Deus, Zaia

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  3. Nossa, muito maneiro o seu texto! Me senti como se estivesse aí do seu lado vivendo essas situações malucas! Huahauhaua acabei até ficando com vontade de conhecer, apesar de nunca ter me imginado indo para este país especificamente falando... Mas, se um dia isso acontecer, vou ter que levar muitos pacotes de miojo e comida industrializada, senão vou passar fome, já que meu estômago não é tão turbinado e acostumado a aventuras exóticas como o seu!

    Beijos e valeu pelas informações e dicas /o/

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  4. Querido irmão !!!

    Bom Dia !!

    Primeiro contato aqui de seu maninhow aqui no Blog, e como não podia deixar de ser pra lhe desejar todo sucesso nessa viagem. Que os anjos de luz guiem teus passos aí. Agora, quero pontuar tb que, no meio da leitura do seu texto, parei um pouco e me perguntei: -"Estou lendo o que mesmo ?? Haaa lembrei ... é o livro que Mairon lançou por suas andanças ao redor do mundo ..." aí vai a dica !! ;) Está ótimo o texto ... claro, rico em detalhes, íntimo ... é bem como Marcela disse mesmo ... a gente se sente ao seu lado aí!! Falo mais nos outros textos ... por hora é isso! Cuidado aí, e boa sorte!! Saudades de você velhinhow !! Abração terno !!

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  5. Nousssa!!!

    Mairon participando de "Caminho das Índias 2 - o retorno!"...super chique!!
    Brincadeiras a parte, eu AMEI o texto. Como escreve bem este menino!!!
    A Índia é umlugar que enche os olhos, os ouvidos e o coração, me disseram uma vez. Tomara que com você seja encher de belas imagens, sons curiosos e hospitalidade!
    E boa sorte nos estudos. Estou seguindo este blog, então trata de manter atualizado!! (olha quem fala!)
    Beijos meu migo do cuore!!!

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  6. Grande coligado!!!!

    ADOREI o lançamento do seu blog. Vou ficar acompanhando e esperando as notícias (com certeza com muitas novidades e histórias engraçadas). Preciso deixar aqui meus elogios ao texto super leve e que prende nossa atenção. Ah, as fotos também ficaram jóia. Continue postando e matando nossas saudades via blog por enquanto. Até breve, beijão, fica com Deus!
    P.S.: Olho vivo aí nesses malandros. :) Tia Iara também leu e disse que pensou que só havia esses espertos assim aqui no Brasil.

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