segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Descobrindo Tóquio: Parte 1

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Distrito de Shibuya, Tóquio.

Tóquio é uma cidade enorme, cheia de distritos (como eles chamam os bairros), cada qual com a sua personalidade. Não é uma cidade europeia ou colonial, onde normalmente você tem o centro histórico ou algum ponto central de referência. Na prática, Tóquio não tem centro. Pra descobri-la, é preciso ver cada um dos distritos e saborear seus contrastes.

Para conhecer Tóquio não há escapatória: tem que se usar o metrô, tido como o melhor do mundo. Você acha o metrô de São Paulo amplo? Espero que não. Nem são os de Paris ou Londres, em comparação. O de Tóquio é mesmerizante.
Mapa do humilde metrô de Tóquio.
Máquina para comprar bilhetes de metrô em Tóquio. Há um passe com o apropriado nome de Pasmo.

No começo intimida, mas é bastante fácil de usar. Há algumas coisas que você não imaginaria  por exemplo, não tente acumular bilhetes, pois ele só pode ser usado na estação onde foi comprado. Mas você se acostuma. Ao entrar na estação, som artificial de passarinhos  os japoneses adoram essas excentricidades tecnológicas. Não é permitido falar no celular dentro do vagão para não perturbar os demais passageiros. Chegando na Europa, onde todo mundo fala alto e conversa no telefone, eu me sinto na roça. E, sim, é muita gente trafegando, inclusive de noite, já que os japoneses ficam no trabalho até 8, 9 ou 10 horas, mas neeem de longe se compara à lata de sardinha que é pegar metrô no Rio de Janeiro, trem na Índia, ou qualquer ônibus no Brasil. Por fim, há os sensacionais guardas vestidos como o Chefe Masaki e usando máscaras e luvas brancas para cirurgicamente tratar de que não haja confusão no embarque e desembarque de passageiros. Às vezes falam umas coisas que eu não entendo no microfone, e são bastante respeitosos.
Para quem não conhece o Chefe Masaki, ele era sempre o chefe de polícia em seriados japoneses dos anos 90 como Winspector e Solbrain. É esse o traje dos guardas japoneses, dentro ou fora do metrô.

Nas ruas, outro sinal de que o Japão parece estar um passo à frente dos outros países que se dizem desenvolvidos: não é permitido fumar nas ruas. Há espaços designados para quem quiser fumar ali quieto, sem fazer da rua inteira fumantes passivos.
Sinais de proibido fumar nas ruas  ao menos nas vias de maior circulação. Há multa para quem violar.
O quadradinho dos fumantes na rua.

Há algumas contradições, no entanto. Não pode fumar na rua mas quase sempre pode fumar dentro dos restaurantes. Ainda estou tentando entender essa. Ao menos boa parte deles oferecem área de não-fumantes. Além disso, não pode fumar na rua mas pode-se pedalar na calçada, então no Japão você tem que ficar constantemente se desviando  ou sendo desviado  de bicicletas que passam à sua direita e à sua esquerda. Pra mim que saio de Amsterdã, onde há ciclovias por toda parte, isso é uma esculhambação. Mas enfim. Andando e aprendendo o que há de bom em cada país.

Outra coisa que te atrapalha em Tóquio  e no Japão em geral  é que as casas normalmente não tem número, e as ruas, à exceção das avenidas principais, não tem nome. Sensacional, né? Dizem que a numeração, até a Segunda Guerra Mundial, costumava ser com base em qual casa foi construída primeiro (super ideia). Depois da guerra acabaram com esse sistema e, pelo visto, até agora não houve criatividade pra se estabelecer uma nova numeração. Então, quando você precisa chegar num lugar, fulano fica lhe dizendo "vire à direita, depois à esquerda, aí quando você vir o templo você dobra...", igual em cidade do interior na época do Brasil Colônia. Hoje em dia, claro, os japoneses põem o CEP (CEP tem!) no iPhone e acham o lugar. Então não vejo muita perspectiva de mudança. Arranje o seu smart phone, tenha boa memória e senso de direção, ou se perca em Tóquio.

O inglês das pessoas aqui é mínimo, então não ache que vai poder pedir informação a menos que você fale japonês. Dito isso, ao contrário de países como a França ou a Rússia em que eles não falam inglês bem e se fazem de ofendidos como se fosse o seu dever ser fluente na língua deles, os japoneses te tratam super bem mesmo que você não fale nada de japonês. Não fazem cerimônia em usar mímica, desenhar, ou explicar devagar em japonês como se você pudesse entender (especialmente os idosos às vezes fazem isso com você, olhando fixamente e sorrindo como se você fosse um pouco devagar da cabeça).

Quando você entra numa loja em Tóquio, é costume te darem um sonoro "bem vindo": Irashaimasê. Esqueça aquela visão de um japonês cerimonioso te dando um Irashaimase cortês mas frio e sem energia. Nada disso. É um boas-vindas cheio de empolgação, daquelas que você precisa de manhã antes da primeira xícara de café. A loja toda praticamente te cumprimenta, os caixas -- ou, se for num restaurante, o tiozinho lavando prato atrás do balcão -- todo mundo. Claro, eles estão todos fora do tempo, então quando um está no "shai" outro já está no "se", então é aquela alegre cacofonia de boas vindas. E alto. Irashaimaseeeeeeeee!! (Os japoneses adoram alongar-se nas sílabas tônicas). É o mesmo quando você deixa a loja ou o supermercado: Arigato gozaimaaaaaasu! (Muito obrigado).

Agora imagine aí o meu dia típico. Acorda de manhã, cumprimenta as pessoas na recepção do albergue (inclusive a bela Ériko  eu nunca tinha visto alguém tão bonita com esse nome), e sai nas ruas de olho nas bicicletas mas agradecendo que ninguém fuma na calçada. Pára numa das inúmeras lojas de conveniência, toma um coro de irashaimases e arigatos e compra uns rolinhos de arroz pra comer (tipo uns sushis mas sem fatiar, e com recheios diversos). Sai dali, desce no metrô, ouve os passarinhos de mentira, compra o bilhete na máquina Pasmo, cumprimenta o guarda se quiser, e embarca no metrô com direção a... aonde você quiser.

Eu já mostrei um pouco do distrito de Asakusa, com o Templo Senso-Ji, e cheio de ruelinhas, casario baixo, e restaurantes simples. É uma área mais tradicional de Tóquio, em que por exemplo ainda guardam a tradição dos riquixá  aqueles fulanos que correm puxando você numa mini-carruagem.
Riquixá em Asakusa, Tóquio.  Hoje em dia no Japão é algo para turistas e não mais como meio de transporte.

Hoje em dia cobram o olho da cara (tipo 10 minutos por 50 reais), e são essencialmente para os turistas. Mas costumava ser um meio de transporte sério até o começo do século XX, normalmente com os camponeses transportando os senhores e as madames. Em países mais pobres da Ásia como o Vietnã, o Laos e o Camboja ainda se vê muito desses, e na Índia, embora não se veja mais o riquixá, eu tomei algumas vezes o ciclo-riquixá, em que o fulano te puxa pedalando numa bicicleta.

Vá para outras partes de Tóquio e o cenário muda completamente. Perto de onde foi o congresso onde participei fica Shibuya, um dos distritos mais badalados. Neons e telões por toda parte, às vezes inclusive com áudio, como se fosse uma televisão gigante ligada na rua. Deixa a Times Square de Nova York no chinelo.
Multidão em Shibuya à noite.
Um verdadeiro arrastão de pessoas para atravessar o sinal em Shibuya.
Shibuya.

Se você estiver a se perguntar o que é que toda essa gente faz ali, são basicamente restaurantes, lojas de departamentos, essas coisas. Shibuya se tornou meio que ponto de encontro para os japoneses.

Não muito distante dali está o distrito de Roppongi, também badalado, onde os turistas gaijin se concentram. (Gaijin é o nome original dos japoneses para estrangeiros, soa meio que como "forasteiro", então caiu em desuso hoje e muitos o consideram politicamente incorreto). Roppongi é também onde fica a afamada Torre de Tóquio, muito conhecida de quem já assistiu animês como X ou Guerreiras Mágicas de Rayearth.
Torre de Tóquio no distrito de Roppongi à lua cheia.

No entanto, preciso dizer que me decepcionei. A Torre de Tóquio é bem menor do que eu imaginava, e não me impressionou mais do que a antena de televisão da TV Subaé lá de Feira de Santana. É uma cópia desavergonhada da Torre Eiffel de Paris  isso todo mundo já sabe. Mas o interessante é como as torres tiveram destinos opostos. Inicialmente os franceses odiaram a Torre Eiffel, mas agora é paixão nacional. Já aqui foi o contrário, os japoneses costumavam gostar da Torre de Tóquio, mas hoje parece que ninguém mais liga, especialmente depois que terminaram a antena Skytree em 2012, que é mais alta.

Afora a torre, Roppongi é basicamente bar e boate pra estrangeiro. Basicamente a cada 10 metros você é abordado por algum africano metido a gângster oferecendo libertinagens diversas. "E aí, não está interessado numas garotas? Tem cada uma com peitos do tamanho da minha cabeça".

Continua...

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Comidas estranhas no Japão

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Você gosta de comida japonesa? Adora um sushizinho bem preparado na praça de alimentação do shopping ou na "temakeria" à noite? Gostando ou não, você certamente conhece esses populares rolinhos de arroz envoltos em alga e com um recheio pra inglês ver, que hoje em dia quase todo restaurante a quilo tem. Deve conhecer também o sashimi (peixe cru), e talvez o yakissoba (macarrão frito com legumes, molho de soja e às vezes carne).

No entanto, meu amigo, minha amiga, sinto lhe dizer que isso não é nem o começo. É o mesmo que gringo achar que a culinária brasileira se resume a churrasco e feijoada (e, só pra constar, a maioria deles acha isso mesmo, em parte porque é o que os raros restaurantes brasileiros no exterior enfatizam. Ainda estou pra achar um tutu mineiro, um vatapá baiano, ou um pato ao tucupi paraense no exterior. Nem no Brasil a gente conhece a culinária dos outros estados direito).

Mas vamos a algumas guloseimas da culinária japonesa que você provavelmente ainda não experimentou, e que talvez nem tenha ouvido falar. Não digo que vi tudo, mas estas semanas aqui têm me dado uma imagem mais fiel do que o estereótipo que eu tinha antes de vir ao Japão. E, convenhamos, metade do que eles comem aqui dificilmente faria sucesso no ocidente.

Pra começar, que tal jogar um belo ovo cru por cima do seu macarrão ou do arroz? Aqui muitos pratos vêm com o ovo cru incluso, já quebrado ou pra você quebrar por cima do prato. Bem costumeiro é quebrá-lo no caldo do macarrão e deixar ele cozinhar dentro (ou não). (Abaixo é o meu amigo letão, porque eu não encarei).
Ovo cru por cima do arroz branco. Frequentemente os japoneses jogam no caldo do macarrão no prato. Às vezes cozinha, às vezes não. 

Estou pra ver o dia que os restaurantes japoneses aí vão começar a lhe dar ovo cru pra você jogar por cima.

Outra guloseima aqui são as bebidas e iogurtes de aloe vera, vulgo babosa, esse que aí no ocidente é usado para xampu. O nome "babosa" não deixa mentir: o aloe vera é uma planta estilo caatinga (xerófita), suculenta. E esse, não vou negar, é gostoso mesmo. Daqui a pouco vai fazer sucesso aí no Brasil. Ouvi dizer que a ANVISA já liberou.
Iogurte de aloe vera, comum no Japão.

Agora vem um que na minha opinião é uma das coisas mais tenebrosas que eu já experimentei na minha vida: feijão fermentado. No japonês, eles traduzem meio que como "feijão estragado". Há quem goste. Umas amigas brasileiras que eu encontrei aqui comem animadas, mas dizem que é comida de velhinha. Esse eu comi, e o gosto é exatamente o que você imagina. Como diz o Datena: mostra as imagens, mostra as imagens do feijão estragado...
Feijão fermentado, estragado, ou seja lá o que for. Só sei que o negócio é RUIM como poucas coisas que eu já provei na vida. (Desculpas aos fãs)

Eles aqui comem muito feijão, mas quase sempre é em forma de doce. Eles adoçam o feijão, e comem ou em forma dos grãos mesmos açucarados ou amassam e fazem uma pasta doce usada muito como recheio. Não é má, mas é fácil de enjoar se você comer muito.

Por exemplo, eles aqui também fazem a nossa mistura de arroz com feijão, mas no doce.
Bolinhas de arroz (moti) na calda doce de feijão.
Bolinhos de arroz com recheio de feijão doce.

Por fim, o meu belo picolé de chá verde com recheio de feijão.


Picolé de chá verde com recheio de feijão.

Não é mau, embora a princípio seja meio estranho mosdiscar os grãozinhos de feijão e sentir o sabor doce. Questão de hábito, imagino eu.

Essa massa de chá verde eles aqui usam pra tudo: sorvete, recheio de bolo, de biscoito, cobertura de chocolate, etc. Isso eles fazem com o matcha, que é um pó verde de chá verde, misturado na água quente para fazer o chá ou usado para fazer esses doces (e vocês nem imaginam o que eu fiz com ele, mas essas são cenas dos próximos capítulos).

Passando de feijão para frutos do mar, que tal esses polvos com um ovo de codorna na cabeça?
"Delicious!". Polvo com ovo de codorna enfiado na cabeça. Me faz pensar em coisa de Alien.

Eles também usam pernas de polvo secas como lanchinho. Abaixo umas com o meu amigo letão, que é mais avestruz do que eu.
Perninhas de polvo secas como lanche.

Pra me redimir, e não ficar uma imagem negativa, há coisas deliciosas também. Eu disse que no sushi do ocidente o peixe é para inglês ver; saquem só como é o daqui.
Sushi no Japão. Há mais peixe que arroz.

Nesse restaurante os pratos vão passando, você pega o que quiser e paga proporcional. Eles vão fazendo na hora. Sushi aqui, eu tenho a impressão, é como pizza aí no Brasil: não é algo que você coma sempre, mas de vez em quando você dá aquela saída e vai no lugar especializado. Os próprios japoneses dizem que não é comida de todo dia. O todo dia aqui costumava ser arroz e peixe mesmo, mas já há algumas décadas vem mudando. Hoje em dia eles comem muita carne de porco (da gorda), e há bastante coisa frita também. Meio que me surpreendi, com toda aquela fama de "dieta saudável" que eles tem. Não é a toa que, em uma geração, diabetes e obesidade aqui já se tornaram problema de saúde pública como em outras partes do mundo. E certamente não é pelo feijão fermentado, nem pelo aloe vera ou pelo ovo cru.

Eu descobri outros pratos também, que nunca havia visto no ocidente, mas esses virão junto com as histórias. A seguir começo a fazer o cidade-a-cidade, começando por Tóquio.
Sushi bar em Tóquio.

(Pra quem gostou do tema, veja mais guloseimas nesse outro post cá, Um Jantar em Osaka)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Indo ao templo no Japão

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Pessoas indo ao Templo Senso-ji no bairro de Asakusa, Tóquio.

Ir ao templo aqui no Japão é um programa muito mais corriqueiro que ir ao templo (à igreja) no Brasil. Excetuando-se alguma ocasião especial como os festivais, é algo bem casual: passear nos jardins, lavar as mãos na água sagrada, talvez acender um incenso, fazer uma prece diante do altar, e tirar um papelzinho da sorte. Parece uma espiritualidade pessoal de dia-dia (como no caso dos Celtas ou dos índios das Américas), mais do que uma religião instituída e organizada no caso das igrejas cristãs, do judaísmo ou do islã.

Eu sempre fui fã do animismo japonês, e não podia ficar sem fazer uma visita. Pra dar uma base, "animismo"  vem do grego anima ("alma", daí palavras como animais ou animado), e descreve a visão de que todos os seres vivos  e às vezes os não-vivos, tais como os rios ou as montanhas  têm uma alma, ou uma energia espiritual. Essa visão é a base dos mangás e animês japoneses, com seus personagens que manipulam essa energia que os japoneses chamam de ki (e que recebe outros nomes em outras culturas, e que é também a base de coisas bem reais como a acupuntura chinesa e o yoga indiano).

No Japão essas crenças recebem o nome de Xintoísmo (ShintoShin, espíritos, e to, estudo ou filosofia). São tradições espirituais tão antigas quanto o próprio Japão e que tem várias deidades, como o espírito das chuvas, da montanha tal, etc. Não há uma figura central. No Século VI chegou da China o budismo, e começou a mistura. O budismo é originalmente indiano, mas da China ele veio já modificado e com elementos Zen, que é uma escola de Budismo surgida na China e que enfatiza a meditação. Hoje em dia, há um belo sincretismo entre Xintoísmo e Budismo aqui no Japão, e a maior parte das pessoas frequenta templos de ambos. Por exemplo, casamentos seguem rituais xintoístas, já os funerais são cremações budistas.
Estátua de Buda com flores nos jardins do Templo Senso-Ji, Asakusa, Tóquio.

Eu estou ficando no bairro de Asakusa, em Tóquio, onde está o Senso-Ji, o maior templo budista da cidade, e foi lá que eu resolvi conferir essa religiosidade japonesa pela primeira vez.

A ida ao templo geralmente começa com o atravessar de um portal onde diz-se que termina o espaço ordinário dos homens e começa o espaço sagrado. Diz-que que passando por debaixo do portal você se purifica. São mais comuns nos templos xintoístas, mas os budistas às vezes também têm.
O Kaminari-mon, ou portão do trovão, na entrada para o Templo Senso-Ji. (Percebam também as faixas de pedestres na diagonal, comuns aqui no Japão).

Os templos aqui no Japão são quase sempre rodeados de jardins, com pedras, água e plantas. Além disso, em templos budistas há às vezes um pagode, que é esse prédio comprido. (Não, não tem absolutamente nada a ver com o estilo musical brasileiro. Esse "pagode" originalmente se referia às festas dos escravos nas senzalas).
Templo Senso-ji e seu pagode lateral. Tóquio.

Uma coisa que você quase sempre acha nos templos aqui do Japão, sejam budistas ou xintoístas, é uma fonte de água sagrada com umas panelinhas de cabo comprido para você pegar. Não digo água "benta" porque, até onde eu sei, ninguém benze. Ela é sagrada por estar no templo, às vezes num altar ou com orações gravadas na pedra ou na madeira. Às vezes as pessoas bebem, mas a princípio é só para molhar as mãos.
As pessoas lavam as mãos na fonte sagrada. A imagem me parece ser de alguma deidade budista, com os dragões. (A propósito, se estiver estranhando eu falar de deidades no budismo, saiba que aqui no Japão o budismo é cheio de deidades, como o guardião dos trovões, o guardião dos ventos, entre outros).

Nos templos frequentemente há também incenso  e a mim, pessoalmente, é um incenso mais agradável que o da Índia, onde as pessoas são mais pobres e muitas vezes o incenso é barato e enjoativo. Aqui normalmente são só as varetinhas queimando, mas no Senso-Ji há um verdadeiro "caldeirão de fumaça", com várias varetinhas e as pessoas tentando abanar a fumaça pra si e se esfregar com ela.
Incenso no Templo Senso-Ji. As pessoas puxando a fumaça pra si, esfregando-se com ela, e orando. (Obs: a máscara que a mulher está usando não tem a ver com o incenso. É que os asiáticos têm medo de doença e frequentemente usam máscara em lugares públicos). 

Outra atividade muito comum é o omikuji, ou tirar a sorte. Há vários tipos, mas o mais comum é depositar uma moeda e tirar uma vareta de uma caixinha, como eu estou fazendo aí abaixo. Na varetinha vem um número, e aí é só abrir a gavetinha correspondente.

Notem, no entanto, que apesar de os japoneses usarem normalmente os números arábicos, neste caso são os números japoneses, que são esses tracinhos aí. Me senti um analfabeto completo procurando pela minha gavetinha, comparando o traçado pra ver se era o mesmo.
Eu tirando omikuji pra ver a minha sorte.

Bem, não sei se é a vida ou se é sacanagem dos sacerdotes do templo  ou se são os sacerdotes tentando retratar a vida  mas quase sempre sai "má sorte", hehe. Aí o que se deve fazer, segundo a tradição, é amarrar o papelzinho numa árvore (supostamente passando a sua má sorte para a pobre da árvore) ou em algum lugar do templo, onde "os deuses tomam conta". A minha, no entanto, nem foi a "boa sorte", foi a "melhor sorte", que dizem ser bastante rara e que me rendeu uma rodinha de japoneses espiando boquiabertos o meu papelzinho, hehehe.

Por fim, há umas plaquetinhas de madeira que as pessoas compram e onde podem escrever desejos e pendurar no templo.
Plaquetinhas com desejos no Templo Senso-Ji. Embaixo, os papeizinhos de má sorte amarrados.
Plaquetinha de algum(a) brasileiro(a) que passou recentemente pelo Japão.

O altar principal normalmente não pode ser fotografado, mas é simples e de bom gosto. Nos budistas há normalmente uma imagem do Buda em meditação, arranjos de flores, alguns penduricalhos dourados no teto, velas, incenso, e às vezes algumas oferendas de frutas. Já nos tempos xintoístas há, em vez da imagem de Buda, alguma imagem da deidade específica daquele templo ou orações escritas em papel ou madeira.

Como em toda e qualquer religião no mundo capitalista de hoje, há lojinhas de produtos a serem comprados. Os principais são os omamori, ou amuletos da sorte. Os mais comuns que vi são para passar em prova, ter segurança no tráfego, saúde, dinheiro, amor, entre outros. São pequenos, do tamanho de um chaveiro, normalmente uma bolsinha de pano ou algo de metal que você pode guardar ou amarrar em algum lugar. Os japoneses adoram. Às vezes há alguns específicos para o seu signo zodiacal chinês. 2013 como será o ano da cobra, há muita coisa com motivo de cobra.

E, é claro, como este é um templo grande e turístico, há as barraquinhas de comida e de souvenirs em geral que abundam por toda parte. Parece quermesse. É uma animação só, e partir do meio-dia junta uma multidão.
No corredor de lojinhas que leva até o templo.
Quitutes sendo preparados e vendidos nos arredores do templo. Um verdadeiro festival.
Gente amontoando para comprar bolinhos de arroz fritos com diferentes recheios, como massa de chá verde, gergelim ou feijão adoçado.

Mais sobre as comidas do Japão depois. Por ora, deixo vocês com fotos do Senso-Ji, o maior templo de Tóquio, à noite, depois da turba.
Templo Senso-Ji à noite, Tóquio.
Templo Senso-Ji à noite, Tóquio.
Pagode iluminado junto ao Templo Senso-Ji à noite, Tóquio.
Entrada do Templo Senso-Ji à noite, Tóquio. As portas estão fechadas, mas naquela caixa vermelha as pessoas jogam moedas e dali fazem preces.
Templo Senso-Ji e a lua cheia.
Senso-Ji.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

O Banheiro Japonês

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O Banheiro Japonês: Incrível em todos os sentidos

Chegou a hora de falar dessa parte exótica, que costuma ser suja em outros países aqui da Ásia (lembrem-se dos tenebrosos banheiros da Índia e da Indonésia, porque eu me lembro). Mas aqui no Japão os banheiros são limpíssimos e são uma atração à parte.

Eu, na verdade, passei a ficar com pena dos japoneses quando viajam, relando aí por essas privadas frias e inóspitas mundo afora, em comparação. Pra você ter uma ideia: alguma vez na vida você já foi numa privada da TOSHIBA? Pois é.
Privada da TOSHIBA. Só no Japão.

A atração fica por conta daquele controlezinho ali do lado. Como nos demais países da Ásia, o papel higiênico foi algo importado do Ocidente, e não é o que as pessoas aqui normalmente preferem (apesar de em lugares públicos ele estar quase sempre disponível). Porém, os japoneses fizeram um jeito todo tecnológico de se limpar com a aguinha. Bem vindos ao seu controle de bordo:

O botão azul dispara um jatinho d'água bem certeiro que vai lá onde a luz do sol não bate, e você pode ajustar direção e força. Para parar, é só apertar o STOP. Daí dá pra regular uma série de coisas, como vocês podem ver ali no adesivo na parede com tradução em inglês: ajustar o foco pra frente ou pra trás, ajustar a pressão da água, a temperatura da água, a temperatura do assento, e assim vai. (A opção "Clean up for women" eu não testei, mas não é difícil supor do que se trata). Há, por fim, o ventinho que seca.

Opinião pessoal? Eu usei uma vez, mas fiquei com o bom e velho papel higiênico. O jatinho é "engraçado" demais, e além disso não me deu a certeza de que ficou limpo mesmo (ao menos não para usuários inexperientes como eu). Acho que há razões para a TOSHIBA não ter lançado esse troninho mágico no mercado ocidental até hoje.

E você, usaria?

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Ah! Já ia esquecendo as famosas sandalinhas de banheiro para não sujar os pés. Como os japoneses normalmente estão de meia ou descalços dentro de casa ou no interior de certos lugares públicos (ex. alguns restaurantes), e banheiro, por mais japonês que seja, pode ter umas sujeiras indesejáveis no chão  digamos, porque algum cidadão tem uma mira ruim ao apontar o seu instrumento para a privada  eles deixam disponíveis essas sandalinhas públicas, que você calça no banheiro e deixa lá ao sair.
Parece um pouco sandalinha de avó, mas é útil.
Sandalinhas de banheiro no Japão, para evitar que você suje a meia ou o pé.