sábado, 20 de setembro de 2008

O melhor e o pior do Canadá - Parte 8 (final)

2° Melhor - As Coisas Funcionam

Como tudo na vida, isso é algo que você só aprende a dar valor quando não encontra. Depois de anos no Brasil, acostumado com as burocracias, a papelada que sempre se precisa preencher, e com a enrolação que é pra se conseguir documentos, essa estadia no Canadá foi um banho de água fresca.

Você não precisa esperar uma eternidade pra as coisas ficarem prontas, não precisa pegar filas enormes e gastar uma manhã inteira esperando que o funcionário te atenda, não precisa conhecer fulaninho que trabalha lá dentro e que agiliza o processo pra você, não precisa de nada disso. Talvez em outros países a coisa seja ainda melhor, mas se comparado com o Brasil, quase tudo aqui é mais rápido e eficiente.

Por e-mail ou telefone você se comunica bem com quase todas as repartições, os funcionários em geral te tratam bem, eles enviam documentos por correspondência, não é preciso uma infinidade de papéis pra se resolver as coisas, e portanto tudo num geral flui muito melhor. Sem falar que eles te respeitam muito mais e sabem ter educação.

Então, nesse sentido, o Canadá é mesmo excelente. Como diz o ditado, "É preciso conhecer o amargo para se poder apreciar o doce".

1°, O Melhor - Diversidade Internacional

Diversidade internacional, isso é pra mim o maior trunfo do Canadá. É algo realmente especial neste país. Asiáticos, europeus, latino-americanos, canadenses, alguns africanos... são tantas pessoas das mais diversas partes do planeta que você realmente se sente um cidadão do mundo. Tantas culturas diferentes, e juntas. Só pra dar uma idéia, quase metade de toda a população de Toronto (maior cidade do Canadá) nasceu em outro país. Você aqui vê simplesmente tantas caras diferentes que você logo se pergunta: Cadê os canadenses??

Na verdade, é difícil achar um canadense que não tem um pai ou avô de outro país. São sempre poloneses-canadenses, ítalo-canadenses, indiano-canadenses, chineses canadenses... e você vê que eles ainda mantêm muito da origem que têm. No Canadá você vê um pouquinho de cada uma dessas culturas. O Canadá não tem uma identidade própria que seja forte, então a identidade do país é exatamente o multiculturalismo, este micro-universo em que todas as culturas vivem juntas e com liberdade. É em parte por isso que tantos imigrantes chegam ao Canadá todos os anos.

Ônibus e metrôs, especialmente nas grandes cidades, são como uma jornada através do mundo. Num único dia você avista pessoas de mais de umas 15 etnias diferentes, e ouve num só ônibus várias línguas sendo faladas ao seu redor.

As universidades são como uma completa mistura de pessoas provenientes de todas as partes. Numa só semana no Canadá eu conheci pessoas de mais países do que em 20 anos no Brasil. Eu conheci até mesmo pessoas vindas de países que eu nem sabia que existia.

Eu não preciso explicar o valor de uma experiência dessas, os aprendizados de vida que esse contato com estrangeiros traz. Apenas acredite quando eu digo que é uma vivência muito, muito mais poderosa do que você pode imaginar. Poderosa porque ela é capaz de abrir a sua mente e muito; capaz de te acordar pra o tamanho e pra a diversidade do mundo. Basta aproveitar as oportunidades e partir pra conhecer os estrangeiros, de tantas origens diferentes quanto você puder. E aí você vai ver como é essa sensação, de ser como um peixe de aquário que de repente foi jogado no imenso oceano de diversidades e pontos de vista diferentes.

Honestamente, o Canadá pode não ser o lugar onde eu quero criar raízes nessa minha vida internacional, mas foi sem dúvida um lugar perfeito para começar.

domingo, 24 de agosto de 2008

O melhor e o pior do Canadá - Parte 7

3° Melhor - A Segurança

Não importa onde você mora no Brasil, com certeza segurança é um assunto de primeira importância. A gente aí está sempre preocupado em andar na rua sem chamar muito a atenção de ladrão, em observar bem as pessoas ao nosso redor, e em não dar mole. Comparando essa realidade com a do Canadá, o contraste é gritante.

No Brasil ninguém é louco de deixar a casa vazia com a porta aberta; pelo contrário, a porta fica trancada até quando a gente está em casa. No Canadá casa nenhuma tem muro ou grade, a rua chega direto na porta, que fica frequentemente aberta. Caso você saia e esqueça de trancar, provavelmente vai ainda assim encontrar tudo no lugar quando voltar.

Às vezes acontecem uns furtos, mas só se você der muita bobeira (tipo deixar uma bicicleta de 300 dólares na rua, sem cadeado. Aconteceu com um amigo meu). O risco de ser assaltado é quase zero, seja no carro ou a pé, mesmo que você ande por aí mostrando iPod, corrente de ouro, celular, relógio rolex ou o que for. Assalto a ônibus não existe, nem risco de sequestro relâmpago, nem nada dessas coisas.

Então isso tudo lhe dá uma tranquilidade enorme, sem preço mesmo, ainda mais quando você conhece a realidade perigosa aí de muitas cidades do Brasil, em que na rua a gente precisa estar sempre alerta. Nesse aspecto, o Canadá é mesmo outro mundo.

Continua...

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O melhor e o pior do Canadá - Parte 6

Melhor - Os canadenses tratam bem os outros e sabem respeitar as diferenças

Eu já comentei como os canadenses não se abrem muito facilmente, mas deixando isso de lado, preciso dizer que aqui no Canadá você é geralmente muito bem tratado - isto é, pelo menos pra os meus padrões, talvez em outros países seja ainda melhor.

O Canadá nesse sentido me deixou uma impressão muito boa. O povo aqui é gentil e prestativo, mesmo se você for um completo estranho. Praticamente em qualquer lugar que você vai você é recebido com um sorriso, educação, e gentileza. Às vezes as pessoas na rua até sorriem pra você só de você cruzar o olhar com o delas! Aonde que no Brasil isso acontece? Normalmente o que você recebe de volta, longe de ser um sorriso, é aquela cara de "Qué que tá me olhando??".

Outra coisa muito boa é que os canadenses estão acostumados a ter estrangeiros por toda parte, muitos dos quais não sabem direito inglês ou francês (Obs: no Canadá inglês, ninguém sabe francês; e no Canadá francês, depende. Não faça como eu que veio pra cá pensando que todos os canadenses falam os dois). Mas o importante é que aqui eles são muito pacientes e tratam bem mesmo se o seu inglês não for afiado.

Mas o que eu mais gosto mesmo é que aqui eles são educados sem serem formais demais. Você tem aqui um ambiente respeitoso mas ao mesmo tempo informal. As pessoas usam trajes casuais e linguagem informal quase em todo lugar, deixando você bem à vontade. Até mesmo pessoas de autoridade, tipo um professor, te tratarão quase como iguais. Em inglês todo mundo é "you", então aqui no Canadá não tem nem essa coisa de "o senhor", "a senhora" (Inglaterra são outros 500, hein, apesar de o idioma ser o mesmo). Nesse sentido, o Canadá é até mais informal do que o Brasil, onde muitos professores acham que são Deus (às vezes até sem ter nem um milionésimo da competência Dele)

Por aqui ser uma cultura mais individualista, os canadenses respeitam e muito a privacidade dos outros, assim como o direito de cada um viver a vida do jeito que preferir. Não importa o jeito que você se veste, o quanto pesa, sua orientação sexual, eles entendem que todas as pessoas merecem respeito e aqui é isso que você encontra. Eles não vão dar pitaco em sua vida, ninguém vai lhe botar apelidos se você for assim ou assado, e dificilmente você será discriminado por ser seja lá como for. Isso vale até quando você não está presente; é muito difícil ver canadenses fazendo fofoca ou falando mal dos outros pelas costas.

É realmente a idéia de que as diferenças, e as pessoas em geral, merecem respeito. E pra um país tão multicultural como o Canadá, isso é um bem e tanto.

Continua...

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O melhor e o pior do Canadá - Parte 5


5° Melhor - A Natureza

A natureza no Canadá é simplesmente fantástica. Mesmo pra quem vem do Brasil, riquíssimo em patrimônio natural, o Canadá pode ainda assim impressionar. Até mesmo porque a natureza aqui é bem diferente, como seria de se esperar. Talvez você já tenha visto na internet fotos das paisagens canadenses; das Montanhas Rochosas, das pradarias do centro da América do Norte, das florestas temperadas em volta de Vancouver na costa oeste, ou das folhas que ganham cor alaranjada no outono. Se é bonito em foto, na realidade tudo é muito mais fantástico. Se você ainda não viu imagens desses lugares, não deixe de conferir algumas neste site.

Não há sombra de dúvida: os melhores lugares a se visitar no Canadá são as áreas naturais. Você pode até querer ir nos pontos famosos tipo a CN tower em Toronto, ou as Cataratas do Niágara (que são numa área bastante urbanizada, então não espere parque natural ao redor, ou nada parecido com Foz do Iguaçu). Sinceramente, estes são lugares que vale a pena mais pra você dizer que foi. Os parques e reservas naturais valem muuuuito mais a pena. Se você alugar em carro então, aí você tá feito (e não é difícil, no país inteiro tem locadoras de carro por toda parte). Os canadenses te dirão com a maior animação onde você deve ir, quais lugares visitar, o que vale mais a pena ver, etc. E aqui vão algumas sugestões minhas:

- Algonquin Park. A umas 5h de carro ao norte de Toronto. Pode se dizer que é um dos locais mais bonitos a se visitar em Ontario, e talvez até em todo o Canadá. Isso vale especialmente se você for no outono, quando dá pra ver as árvores mudando de cor e as florestas quase todas alaranjadas com as folhas caindo.


- "Chutes de Montmorency", ou Cataradas de Montmorency. Na minha opinião, são mais bonitas que as do Niágara. Ficam perto de Québec City, e sem dúvida vale a pena visitar. As cataratas são bem bonitas, e a área natural ao redor também é interessante.

- Toda a região das Montanhas Rochosas. Ali tudo é espetacular. Eu recomendo muito: Banff, Jasper e Canmore, todas na província de Alberta. Ali você precisa mesmo alugar um carro. O percurso entre Jasper e Banff é considerado pela National Geographic um dos 10 mais bonitos de todo o mundo. E realmente é fantástico. As paisagens são maravilhosas, com montanhas, lagos cor de esmeralda, cataratas, florestas, e vida selvagem por todo o seu redor. Dá até pra ver alces e ursos na beira da pista. E aí é que tá a vantagem do carro: você pode parar onde quiser, quando quiser, pra tirar fotos, fazer trilha, etc. De ônibus você não tem essa facilidade.

Amigos meus também foram na West Coast trail na Ilha de Vancouver (perto da cidade, na costa do Pacífico). Lá, a praia e cidade de Tofino parece ser também um opção ótima. Dizem também que há áreas muito bonitas nos territórios do norte do Canadá (no verão, senão você congela, hehe), e também na costa leste perto do Labrador. Em resumo, se você vier ao Canadá, não perca por nada a chance de visitar as áreas naturais do país. São o que há de mais bonito a se ver. Ver na foto é só aperitivo. Tenho certeza absoluta de que você não vai se arrepender de conhecer tudo aquilo com os seus próprios olhos.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O melhor e o pior do Canadá - Parte 4

Um intervalo breve: O Canadá francês

Antes de passar pra os pontos bons do Canadá, há uma pausa importante a fazer. Como eu imagino todo sabe, o Canadá é parte inglês, parte francês. As duas partes são consideravelmente diferentes, não só na língua, mas na cultura e em muito mais. Tem até quem diga que o Québec (a província onde os canadenses franceses estão concentrados) deveria ser considerado parte da América Latina. E de fato, em muita coisa eu acho o Québec mais parecido com o Brasil do que com o restante do Canadá.

Muito dos pontos ruins que eu apontei aí abaixo se aplica ao Canadá inglês (especialmente a Ontario), mas não tanto ao Canadá francês. Os canadenses franceses tendem a ser mais soltos, menos reservados, e normalmente mais calorosos - tudo isso que você esperaria de latinos (e não esqueçam que os franceses também são latinos). Outra coisa é que eles, no Québec, são basicamente uma "ilha" de cultura francesa rodeada pelo Canadá inglês e pelos Estados Unidos. Então eles têm sempre feito um esforço enorme pra se manter, e o resultado é que eles têm uma identidade muito mais forte do que o Canadá inglês (que, em muitos aspectos e especialmente no entretenimento e na cultura, acaba sendo uma extensão dos Estados Unidos). Por exemplo, os canadenses franceses têm sua própria música típica, sua própria indústria cinematográfica, uma culinária própria, etc; coisas que a gente realmente não vê no Canadá inglês.


Nem tudo lá é melhor. Por exemplo, os canadenses franceses fumam muito mais do que os outros. Mas o que eu preciso dizer é que felizmente eles escapam de muitas dessas coisas que eu apontei aí abaixo como ruins no Canadá. Por exemplo, eles são menos gordos, e são visivelmente mais abertos. Sobre o conhecimento deles sobre outros países, eu sinceramente não sei. Mas o que digo com segurança é que lá se come infinitamente melhor. A culinária deles tem uma raiz francesa que é perceptível (por exemplo, eles têm pães e queijos muito bons), mas há também muita coisa original e que você não encontra na França. Tudo é mais gostoso que no Canadá inglês, até coisas simples tipo pizza ou um pedaço de bolo.

Felizmente, muito dos pontos positivos que eu vou começar a mostrar se aplicam tanto ao Canadá inglês quanto ao francês. Então se você vier aqui, vai poder experimentá-los onde quer que esteja. Mas eu recomendo mesmo que tente visitar ambas as partes, inglesa e francesa, e aí você pode conferir as diferenças com os seus próprios olhos, verificar o que eu estou dizendo, e certamente perceber muito mais por sua própria conta.


quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O melhor e o pior do Canadá - Parte 3

1° lugar, o pior: A Comida

Sabe, dá pra se acostumar a ver pessoas mais gordas que no seu país de origem, dá pra aceitar que eles não conheçam muito sobre outros países, não é o fim do mundo. Dá até pra se acostumar com as conversas rasas daqui (só não se acostume demais) e dá pra compreender que pessoas de países diferentes são diferentes também, e que aqui os amigos não são tão próximos. Mas má notícia, meu amigo: não dá pra viver sem comer.


Isso quer dizer que aqui você tem que enfrentar a comida canadense diariamente. E o que isso significa? Bem, comida "canadense" mesmo não existe. O que se tem aqui é uma mistura de comidas asiáticas (muito boas!) e *respira* dos Estados Unidos (...). Se você pode pagar um bom restaurante todo dia, tudo bem, mas a maioria não pode. Então vamos às compras.

Frutas e verduras é o que dizem que a gente mais deve comer.
Aqui, se prepare pra uma dosezinha esperta de pesticidas nelas (ou então se prepare pra tomar uma bela de uma facada no bolso, caso seja rico o bastante pra comprar orgânico). No caso das maçãs (que é o que mais tem aqui), há um bônus extra: cera. É isso mesmo, você não leu errado não. Aqui as maçãs são enceradas pra ficarem bem brilhantes e reluzentes, igual na história da Branca de Neve.

Outras frutas temperadas são boas, mas só durante o verão (junho-setembro) e se você for comprar com os agricultores. No supermercado, meu filho, você tá condenado a fruta e verdura da Califórnia. Elas são grandes e bombadas igual ao Schwarzenegger, e água pura (ah, eu quis dizer água e pesticida puros). E as frutas tropicais, como banana? Hmm... na verdade aqui eles não conhecem banana. Eles têm uma fruta que, olhando, é a mesma coisa (eles até chamam de banana!), mas o gosto é de papel machê. E vende bastante! Aqui o povo compra elas quando estão duras feito uma batata, e com frequência quando ainda estão verdes, e aí deixam amadurecendo em casa. Que gosto pode ter um negócio desse? O mesmo pra a maioria das outras frutas tropicais.

E se você for um fã de sucos?
No Canadá, eu admito, é difícil se tornar um. Sabe quais tipos de sucos você encontra no supermercado? Suco de laranja, com polpa; suco de laranja, sem polpa; suco de laranja, "com um bocado de polpa"; e suco de laranja, com cálcio (????). Sério, e pra quem conhece suco de laranja de verdade, isso daqui é um purgante. Além de suco de laranja, você encontra basicamente suco de maçã e de cranberry (uma frutinha vermelha que tem aqui). Mas mesmo esses se parecem mais com água colorida e com gosto de vitamina C. Na boa, custa tanto assim botar umas frutas com água e açúcar e bater no liquidificador pra vender nas lanchonetes e cafeterias?

Aaah, café! Isso é que o povo aqui bebe com frequência, não suco. Na minha opinião, café é o exemplo emblemático do grande problema da alimentação aqui no Canadá: muito poucos sabores naturais e muita coisa artificial. Esqueça o café forte e saboroso do Brasil, de outras partes da América Latina e do sul da Europa. Aqui café é "chafé", e eles bebem nuns copos enormes de meio litro (não tô brincando não). Mas como eu disse, comida no Canadá é uma combinação de escassos sabores naturais e muitos sabores artificiais, e isso vale pro café. Então aqui eles oferecem café com sabor de nozes, baunilha, caramelo, e até umas verdadeiras quimeras tipo café com sabor de framboesa ao chocolate. Fique à vontade pra imaginar o gosto disso, porque existe mesmo.

E não é só com café. Aqui você encontra chocolate quente com gosto de morango, refrigerante com sabor de cereja, e é claro nada disso é sabor de verdade. É tudo artificial. Olha pra esse sorvete, por exemplo. Sabor: Arco-íris.
Na boa, arco-íris? Se aí no Brasil os sabores são coisas de verdade, tipo manga, côco, chocolate... aqui eles inventam esses nomes pra novas combinações das mesmas coisas: açúcar, gordura e aditivo químico. Tem sorvete sabor bolo de aniversário, biscoito de não sei o quê, rastros de alce, rastros de caribu, etc. (Até hoje eu ainda não entendi direito qual é a diferença entre esses dois últimos.)

E aí é que tá o grande problema: em qualquer lugar que você vá você é cercado por essas comidas porcaria, "junk food".
E é tudo muito barato. Com o dinheiro pra comprar 500ml de suco feito na hora você compra mais de 5l de coca-cola. Depois pergunta porque é que tem tanto canadense obeso. Essas máquinas aqui embaixo são pelo corredores da universidade. Estão por toda parte.



Agora procure por um suco ou algo assim mais saudável e você não acha (e quando acha, é o olho da cara). Eu não critico a comida canadense só por criticar, mas sim porque não precisava ser assim, ainda mais num país tão rico. As pessoas deviam perceber como essa alimentação daqui é horrenda e começar a dar mais valor a comida de verdade. Tem comidas decentes aqui que poderiam estar mais disponíveis. E com tantos imigrantes aqui, é uma chance de ouro pra eles aprenderem um pouquinho com cada um e começar a mudar as coisas.

(Pra quem está no Brasil, recomendo dar muuuito valor o que a gente come aí, porque normalmente a gente só dá valor a algo quando perde)

domingo, 27 de julho de 2008

O melhor e o pior do Canadá - Parte 2

2° Pior - Os canadenses são gentis com estranhos, mas não muito próximos como amigos

Qualquer um que já tenha vindo ao Canadá certamente notou o quanto os estranhos te tratam bem, na rua ou onde quer que você vá. Os canadenses são gentis e prestativos, mas raramente isso se transforma em amizade de verdade. No último post eu comentei como eles evitam assuntos pessoais nas conversas, e isso só ilustra um comportamento que é amistoso, mas bastante fechado em relação aos outros.

A "religião" aqui é a individualidade e o espaço pessoal de cada um, em todos os sentidos. Então, por exemplo, você mal tem contato físico com os seus amigos (pois, supostamente, é respeitar o espaço pessoal da pessoa é mais importante). Nada de mão no ombro, abraço apertado, tapinha ou sentar no colo. Aperto de mão, só da primeira vez que se conhece, depois nunca mais. Beijo pra se cumprimentar então, esqueça. Você também não aborda ou pergunta sobre coisas pessoais (religião, sentimentos, relacionamentos etc), porque "isso é pessoal", e portanto não é pra se conversar a respeito. E, finalmente, você não faz piada ou dá aquela tiradinha saudável com a cara da pessoa, a menos que seja algo muuuuito de leve. Então o que você tem são basicamente relações cordiais, simpáticas, mas distantes, em que de fato se compartilha muito pouco um com o outro.

Mas me diga, não é exatamente essa abertura com o outro, tornando a relação cada vez mais próxima, exatamente o que cria amizade entre duas pessoas? Sem dividir o que você realmente pensa e sente, a amizade fica sem substância, e assim sem profundidade. Afinal, como é possível sentir qualquer ligação por alguém que conhece tão pouco sobre você, e que você também conhece tão pouco? Eu digo conhecer de verdade, saber o que vai por trás daquela "maquiagem" social que todo mundo põe no dia-dia, uns mais, outros menos.

A cultura aqui vai exatamente na contramão dessa idéia de abertura. Como eu comentei no post anterior, ela estimula conversas rasas (sobre se vai chover, etc.) em vez de conversas sobre opiniões ou sobre assuntos pessoais. Ela estimula a individualidade, e não o compartilhar com o outro. Estimula também a polidez (mesmo que falsa) em lugar da espontaneidade e da franqueza. E, assim, as pessoas acabam adquirindo um comportamento bastante fechado em vez de aberto. Pode-se chamar de "reservado", uma palavra mais branda, mas o resultado de brando não tem nada: poucas relações de proximidade, pouca intimidade entre amigos, pouca habilidade pra expressar o que se realmente pensa e sente, e pouco jogo de cintura pra falar de coisas pessoais. Além disso, aqui leva uma eternidade pra uma pessoa se abrir com a outra. A coisa avança muuuuito mais devagar do que no Brasil ou em culturas mais calorosas, onde a vida social acaba sendo também muito mais intensa.

Eu acho que cada cultura tem algo a aprender e a ensinar a outras. Então talvez isso seja algo que o Canadá precisa aprender com as outras culturas que eles aqui chamam de mais "quentes" (os africanos, latino-americanos, europeus do sul, e outros). Pois sem se abrir, sem relações de proximidade, e sem amizades calorosas e com substância, eu sinceramente acho que se perde a melhor parte de ser humano.

Continua...

sábado, 19 de julho de 2008

O melhor e o pior do Canadá - Parte 1

Eu vou começar o blog com uma série do que eu achei de melhor e pior aqui no Canadá. Depois de morar aqui por 2 anos, acho que há bastante coisa que eu posso dizer com a minha visão de estrangeiro. Muita coisa do nosso próprio estado ou país a gente nunca percebe até que tenha saído de lá e vivido em outro lugar. É aí que a gente ganha um referencial pra comparar, e começa a perceber o que o nosso país tem de bom e de ruim, ou simplesmente de diferente, e que o torna único.

Isso também vale pra outros países, que a gente compara com o nosso, então eu me pergunto se não há muita coisa que os próprios canadenses não percebem sobre o Canadá, já que na maior parte passaram a vida toda aqui e não conhecem outras realidades. Por isso é que eu acho que meu ponto de vista de estrangeiro pode ser de alguma ajuda. E, é claro, acho que vai ser também interessante pra aqueles que nunca tiveram a oportunidade de morar aqui e que não ainda conhecem muito sobre o Canadá e os canadenses.

Então farei dois Top 5, um com o que eu achei de melhor e outro com o que achei de pior no Canadá (lembrando, é claro, que isso é só minha opinião).
Apesar de quaisquer pontos negativos, estes anos aqui têm sido uma experiência maravilhosa, então eu gostaria de concluir essa série com os pontos positivos do Canadá. Desse modo, não tenho alternativa senão começar com o que há de ruim. Então, sem mais delongas, aqui vai, do menos pior pra o pior de todos.

5° Pior - Os (e as!!!) canadenses são frequentemente obesos(as) (e não parecem se importar muito com isso)

Ok, não é todo mundo, há muitos canadenses que são sadios e em forma, tanto homens quanto mulheres. Mas só pra dar uma idéia, 60% da população tem sobrepeso e 1 em cada 4 canadenses é obeso (estatísticas oficiais). Felizmente o Canadá sabe que é uma das nações mais "pesadas" do mundo, mas eu tenho minhas dúvidas se o povo aqui se importa mesmo com o peso que tem. Vindo aqui você provavelmente ficaria impressionado com o tanto de gordos na rua. Se no Brasil sua roupa é M, aqui com certeza você será P, e assim por diante. Há aqui também o tamanho GGG, que no Brasil eu pelo menos nunca vi.

Se você for numa praça de alimentação as maiores filas são sempre pra o que há de menos saudável (ok, no Brasil não é tããão diferente, mas acho que aqui é ainda pior). A gente acaba sempre encontrando a típica família "feliz": pais gordos e os filhos já rechonchudinhos se empanturrando de batata frita e coca-cola. Se estivessem fumando provavelmente todo mundo iria criticar, e ainda ficar aborrecido de ver adultos fumando junto das crianças. Concordo. Mas por que é tão diferente no caso de comer porcaria? Sinceramente não acho que a saúde dessas crianças (ou dos pais delas) vá ser muito melhor do que se estivessem fumando.

Outra coisa é que as pessoas aqui simplesmente se acostumam com isso. Como a maioria tem sobrepeso, ser assim é simplesmente normal. A maioria nem parece se incomodar muito, e de repente estar sem saúde vira o comum. Facilmente você vê na rua umas mulheres gordas gordas vestidas quase igual a Jennifer Lopez. Eu aplaudo o aparente conforto delas com a imagem que têm, mas infelizmente isso significa também que se acostumam a não ter saúde. Na América Latina as pessoas simplesmente se sentem esteticamente desconfortáveis quando estão gordas, e normalmente fazem algo a respeito. Eu acho, sim, que no Brazil as pessoas se preocupam um pouco demais com a aparência (especialmente as garotas, que sempre acham que estão gordas), mas sem dúvida o senso de auto-imagem delas ajuda a estar mais em forma e mais saudáveis. (E, é óbvio, o resultado pra que vê é também muito mais agradável. Eu falo sério quando digo que mesmo as gordas se vestem igual a Jennifer Lopez...)

4° Pior - Os canadenses não são muito afiados quando se trata de geografia mundial

Ok, no Brasil nós não somos todos excelentes em geografia, mas isso é principalmente porque a maior parte das pessoas simplesmente não termina a escola. Mas antes mesmo de entrar na universidade a gente já aprende um bocado de coisa sobre outros países... história, geografia, língua. Meu Deus, a língua...
Sério: pelo menos metade dos canadenses que eu conheci pensavam que no Brasil se fala espanhol. Alguns até começam a falar em espanhol comigo e estranham quando eu digo que não falo espanhol. Alguns até perguntam: "E o que é que vocês falam, então?". Os europeus que eu conheci aqui, ao contrário, praticamente todos sabiam que no Brasil se fala português.
Falando em europeus, eles aqui também sofrem um bocado. O melhor caso foi de uns amigos da Suíça e que sempre eram perguntados: "Sua cidade fica perto de Estocolmo?"
Semana passada me perguntaram se Buenos Aires era mesmo no Brasil. E não foi a primeira e nem a segunda vez.

Eu fui numa espécie de centro de biologia aquática em Vancouver, com animais, reprodução de ecossistemas aquáticos e talz, e tinha uma seção sobre a Bacia Amazônica com um mapa. Sério: pelo tamanho no mapa, eu acho que até São Paulo e Minas Gerais faziam parte da bacia amazônica. Se bobear chegava até o Rio Grande do Sul e o Uruguai. Depois pergunta porque é que tantos norte-americanos pensam que o Brasil é só amazônia.

3° Pior - Conversa "rasa"

"Hi, how are you?"
"I'm good! What about you?"
"Great!"
"Good!"

Não parece aquelas conversas-modelo em aula de inglês? Pois é, e isso acontece de verdade.
Eu pessoalmente não gosto dessas respostas automáticas que são tão comuns aqui na América do Norte, mas tá bom, dá pra entender se for uma conversa no elevador ou com o caixa do banco. Mas com pessoas que você conhece? Fala sério.

Quantas vezes, conversando com seus amigos, você se pega falando sobre o tempo, sobre se vai chover, etc? Canadenses costumam ser reservados, normalmente eles não falam de coisas pessoais mesmo entre amigos, então você pode conhecer a pessoa por 2 anos e se pegar conversando com ela sobre a previsão do tempo que falou que ia fazer sol no fim de semana. Peraí, né.

De repente você percebe que "conhece" a pessoa por um bom tempo e que na verdade você não sabe nada sobre ela, e nem ela sabe nada sobre você. E frequentemente fica nisso. E de fato, a profundidade de uma relação é a mesma das conversas que você tem com a pessoa, e no Canadá a gente gasta tempo demaaais em conversa em que ninguém diz nada do que realmente pensa, que não leva de nada a lugar nenhum, e que nem mesmo ajuda duas pessoas a se conhecerem.

Continua...