sábado, 30 de março de 2013

Kamakura e o festival do arremesso de feijão

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Visitantes caminhando para o Tsurugaoka Hachiman-gu, templo xintoísta em Kamakura.

Era um belo domingo de sol, apesar de ser inverno. E não era um domingo qualquer: era dia de Setsubun, a festa anual do arremesso de feijão. Essa festa celebra o final do inverno e o começo da primavera  e, portanto, o começo de um novo ano. Nesse dia os japoneses lotam os templos para assistir rituais, para beliscar comidas em barraquinhas montadas, ou simplesmente para saber a sorte (os japoneses ADORAM mexer com a sorte: adoram um joguinho de azar, amuletos protetores, ver as previsões para o futuro... essas coisas).

E é claro que eu não ia ficar de fora, né? Minha sorte, no entanto, já estava traçada. Não era preciso mais papelzinho: aquele de Tóquio que já havia previsto a "melhor sorte", e hoje eu ia começar a ver os resultados.

Para participar deste festival, em vez de ir novamente ao Templo Senso-Ji em Tóquio, resolvi ir vê-lo em Kamakura, uma cidade histórica não muito distante. Levantei cedo e fui ao 7-Eleven (rede japonesa de lojas de conveniência) mais próximo. Tomei a minha dose matinal de "Irashaimaseeeee" e "Ohayô Gozaimaaaaaasu" dos atendentes da loja, e peguei meu sushi nori-maki com ovo doce e legumes dentro, para o café da manhã. (Lembrete: ovo e omelete no Japão são quase sempre doces, assim como feijão. Não se esqueça disso na hora que estiver pedindo algo). Comi na própria loja, que tem um espaço pra isso, e me fui.

Com o transporte público fabuloso do Japão, você vai de qualquer lugar a qualquer lugar sem grande dificuldade. Em uma hora e meia e apenas uma troca de trens eu estava em Kamakura, cidade que foi o centro político do Japão (apesar de não ter sido oficialmente a capital) entre 1185 e 1333, época conhecida como o Período Kamakura na História japonesa, época do primeiro xogunato (uma situação em que há um imperador mas em que quem manda mesmo é um xogum, um líder-ditador militar).

E esse primeiro xogum japonês foi Yoritomo Minamoto, o fundador de Kamakura. Yoritomo foi um nobre de Kyoto, então a capital, que teve sua família toda exterminada nas guerras e disputas por poder que eram tão comuns entre as famílias poderosas no Japão medieval. Aí foi aquela coisa que se tornou clichê em filmes de ação (até em novela): a família que mata quase todo mundo da outra, mas deixa o menino vivo, e esse menino desaparece no mundo e depois volta pra se vingar.

Com a família toda executada, Yoritomo aos 13 anos foi banido de Kyoto e enviado à zona rural. Aos 30 anos se casou com a filha de um poderoso e começou a levantar armas contra os aliados daquela família inimiga (os Taira). Quando os amigos da família Minamoto viram que o descendente ainda estava vivo e na ativa, o apoiaram. E assim fundou-se Kamakura, como um refúgio entre as colinas e o mar. Daqui Yoritomo e seus aliados foram gradualmente ganhando terreno, e pouco a pouco conquistaram o poder, eliminando toda a família rival.

Diz-se que Yoritomo era um samurai excepcional, e que levava tão à risca os códigos de honra que mandou matar até o primo e o meio-irmão quando estes saíram da linha. Quando venceu, o imperador o nomeou Comandante Supremo, e portanto xogum. Mas seis anos depois, em 1198, caiu do cavalo e morreu (essas coisas da vida, hein?). Mas até 1333 o poder continuou centrado em Kamakura.

Oito séculos depois, lá estava eu.
Kamakura hoje.

Por sorte as coisas hoje no Japão são muito mais pacíficas. Não encontrei nenhum samurai pelo caminho; em vez disso, encontrei Sayako, Mayuko, Yumi e Yuka. Calma que eu explico.

Vejam a sorte do indivíduo: desci do trem, Kamakura station, e aí começa aquele ritual costumeiro de procurar mapas pelas paredes e abrir o guia de bolso pra saber por onde ir. E é nessa que eu avisto 4 jovens garotas com uma plaquinha "Guias voluntárias - estudantes da Universidade de Yokohama". Hm? Nani? O.o

 Oi! E aí, como é isso? - chego eu.
 Oi! Tá precisando de guia? Nós participamos do grupo de inglês na universidade e fazemos guia voluntária para praticar - falou Yuka, a mais articulada das quatro.
 Pra dizer a verdade tô precisando sim. E como é isso, vão vocês quatro de guia?
 É.
E eu já sem conseguir segurar o sorriso daquela mamata sultânica de sair na rua com quatro universitárias guias.
 Opa! Então vamos lá. - respondi eu depois de alguns segundos com aquela cara de "sério?".
 Vamos.

E recolheram a plaquinha, e começava o meu dia de tratamento VIP. Aaah, país maravilhoso.

Nossa primeira parada foi o Templo Tsurugaoka Hachiman-gu, construído pelo próprio Yoritomo no século XII. É o maior da cidade, e portanto onde rola a folia do festival do arremesso de feijão. E, afinal, o que é esse tal festival? O Setsubun ("divisão das estações", numa tradução livre) é a celebração do fim do inverno e começo de um novo ano para a natureza. As pessoas jogam grãos torrados (hoje feijão, mas originalmente soja) pela porta de casa, como que para jogar fora os encostos e os problemas, e depois comem feijões torrados para trazer a sorte. Nos templos há música, comidas, competições, desfiles em trajes tradicionais, e os organizadores no palco jogando pacotinhos de feijão torrado para a multidão. Dizem que em alguns vêm prêmios em vez de feijão. Como eu disse, os japoneses adoram essas coisas de sorte.

No caminho para o templo, a primeira paragem são as barraquinhas de comida. Aí tem de tudo, desde  galinha frito até "uva do amor"  igual à conhecida maçã caramelizada, mas com uva.
Barraca de espetinho na festa do arremesso de feijão. Aquele cheirãããão. É servido?
Na barraquinha de uva do amor. Havia maçã também, mas eu preferi algo diferente. E o gosto é aquele de açúcar mesmo.

Além disso tomei sorvete (desses de máquina) de batata-doce roxa na casquinha. Tem gosto de creme açucarado, mas com aquela pontinha de sabor de batata-doce. Não é mau. Havia também de chá verde.

Mas como nem só de comida vive o homem (nem mesmo eu), nós seguimos para o templo. Passamos por umas pontezinhas de pedra bem bonitinhas, e fomos subindo escadarias para queimar as calorias enquanto as meninas me explicavam a história de Kamakura.
Visitantes no Tsurugaoka Hachiman-gu. Pontos turísticos no Japão estão quase sempre cheios de gente (em grande parte, japoneses).
Com dois senhores em trajes tradicionais.

Abundavam também os pontos de venda de amuletos e papeizinhos da sorte, como sempre. Há amuletos pra tudo, desde sucesso nos estudos até para parir bem. E há os papeizinhos da sorte como os que eu havia tirado em Tóquio, dando um "status" de como anda a sua sorte no momento.
Vitrine de amuletos à venda, cada um para um propósito. 50 yenes dá 1 real, pra quem quiser  uma ideia dos preços.
Balcão de vendas de amuletos e de palitinhos da sorte, onde uma menininha tira o seu.
Menininha amarra a sua má sorte no templo, para que ela fique lá e não a acompanhe.

Como a festa em si só começaria à tarde, nós fomos almoçar ali por perto. Achamos um restaurante de donburi, arroz-numa-tigela-com-algo-em-cima. Como entrada, salada de polvo, e para beber, refrigerante de melão.
Minhas amáveis guias em Kamakura.
Salada de polvo e refrigerante (verde) de melão. Tenebroso. O polvo, que eu experimentei por curiosidade, parece que você está comendo uma borracha. E o refrigerante, imagine o gosto que teria chiclete bubaloo de melão. Pronto, é isso aí, só que no copo pra você beber gelado. Maravilha, hein.

Já o donburi foi mais normal, só mesmo a tigela de arroz com legumes cozidos em cima e um molho.

Dali saímos e voltamos ao templo bem na hora em que os organizadores vestidos em trajes tradicionais estavam do palco atirando saquinhos de feijão para a galera. Não, não consegui pegar um. Os japoneses são vorazes! Vá nessa de que eles são quietinhos. Nessas horas não tem quietude certa. Mas com essa minha linda cara ocidental, uma tia me deu um pacotinho, e eu pude comer meus feijões da sorte para o ano que se iniciava.
Espécie de procissão de saída depois do arremesso de feijão.
Mulheres também vestidas em trajes tradicionais.
Formosas jovens japonesas.
Meu pacotinho de feijões torrados que ganhei.
Cenário geral da área do templo, com árvores, água e pontes.

Passada a procissão e atirados os feijões, zarpamos. Ali, na verdade, não é a principal atração de Kamakura. O ponto principal é uma grande estátua de Buda, a segunda maior do Japão, um daibutsu (nome dado no Japão a essas estátuas gigantes do Buda).

Ela fica mais afastada, então pegamos o trem e em 15 minutos estávamos lá. Mais lojinhas no caminho, e ao final um pequeno parque-jardim, com a estátua de de bronze de 13m do Buda no meio. É uma sensação quase mística, tê-lo assim calmo, sereno e enorme de frente a você.
Estátua  de bronze (oxidado) do Buda em Kamakura, de 1252. Ficava dentro de um pavilhão coberto que foi varrido por tufões e tsunamis nos séculos XIV e XV. O Buda, contudo, se manteve.
Visitante olhande o grande Buda de frente. É impressionante. Dá vontade de fixar o olhar nele e entrar em meditação.

Além do Buda em si, há também uma versão gigante das suas famosas sandálias de cânhamo. Diz a lenda que certa vez o Buda estava andando descalço, já com os pés machucados, algumas crianças o viram e fizeram de corda um par de sandálias para ele.
E as sandálias gigantes do Buda, em Kamakura.

É uma visita rápida mas bem impressionante. Saindo dali, com a tarde já caindo, me despedi do pessoal e fui à ilha de Enoshima, a uma meia hora dali. Quando você vê o mar no Japão bate aquela sensação de: "E se desse um tsunami agora, eu corria pra onde mesmo?". Mas graças a Deus não teve nada; nem terremoto eu senti.

A área é bem turística, e você percebe claramente de onde vem a inspiração para alguns jogos de video game que os japoneses fazem. Sério: você se sente em Super Mario Sunshine, Yoshi Island, Donkey Kong ou algum jogo assim bem colorido e bem "feliz".
Oceano Pacífico na costa leste do Japão, com vista para a Ilha de Enoshima ao entardecer.
Propagandas no Japão. Pelo que me traduziram, o filhote diz à mãe que quer arroz com curry. Os japoneses também bastante o colorido nas coisas.
Deixo vocês com algumas fotos da ilha de Enoshima e do ponto alto dessa visita a Kamakura, o daibutsu. Já era hora de voltar para Tóquio, pois no dia seguinte me esperava o trem-bala com destino a Kyoto, a antiga capital.
Templo na ilha de Enoshima.
Visitantes formam fila para passar pelo portal e orar à frente do templo em Enoshima. Os japoneses creem que, passando pelo portal, você deixa as energias ruins para trás.
As onipresentes máquinas de chás, cafés e refrigerantes. Até mesmo nos cantos mais improváveis.
E o daibutsu.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Descobrindo Tóquio: Parte 2


Depois das luzes em Shibuya e das ofertas de garotas em Roppongi, achei que era hora de algo mais construtivo para temperar. Tóquio  e até certo ponto o Japão  são isso: tradição e espiritualidade de um lado, combinadas com uma frenética sociedade do trabalho, entretenimento e consumo do outro. Eu sei que é clichê dizer isso sobre o Japão, mas é a verdade. No entanto, não acho que os dois lados estejam tão bem equilibrados quanto dizem.

Trabalho (das 8 ou 9 da manhã até as 9 ou 10 da noite, às vezes com trabalho extra e não remunerado no fim de semana, e quase sem férias durante o ano) e consumo hoje parecem muito mais fortes. O Japão é o país onde eu me senti mais próximo desses filmes de ficção, não só pela tecnologia mas também pelas alterações sociais e no ambiente. Não é a toa que os japoneses produzem tão bem esse tipo de obra, a là Cyberpunk, com pouca ou nenhuma natureza não-transformada restando e indivíduos solitários rodeados de máquinas. Devem estar antevendo onde podem ir parar.

Então meu tempero pra a Tóquio moderna foi ver as origens da cidade, no Edo-Tokyo Museum e no Parque do Palácio Imperial.
Parque do Palácio Imperial, centro de Tóquio.

Pra quem não sabe, o Japão "sempre" teve e ainda tem um imperador, que é como a rainha britânica ou as outras monarquias da Europa: há um parlamento e um primeiro-ministro, que é quem manda, mas há uma figura de Estado com poder simbólico. No Japão, por definição a capital é onde o imperador mora. Entre 794 e 1869 foi Kyoto, a clássica capital japonesa, mas desde 1869 passou a ser Tóquio, que antes era conhecida pelo nome de Edo.

Edo ganhou proeminência desde 1603 quando, após um período de guerras, a família Tokugawa se apossou do poder e constitutiu uma espécie de governo militar (xogunato) centrado aqui. O imperador continuou a imperar de Kyoto, mas quem mandava de fato era o xogum, em Edo. Então foi um período de centralização no Japão, conhecido como Período Edo, e que durou até 1868. Esse foi também um período em que o Japão se isolou do resto do mundo. Relações dilomáticas eram mantidas somente com a Coréia e um pouco com a China para o comércio. Os holandeses eram o único povo ocidental com permissão para fazer comércio aqui. Os portugueses, que haviam vindo nos idos de 1500 até 1603, foram expulsos e ficaram proibidos de aportar, em grande parte porque estavam disseminando o cristianismo, que foi proibido. (Aaah, jesuítas).

Pra quem não sabe, há uma série de palavras japonesas que vem do português, por exemplo: Arukoru (álcool); Bídoro (vidro); Birodo (veludo); Kappa (capa de chuva); Koppu (copo); e Tempura (sim sim, a famosa comida japonesa dos legumes que a gente chamaria de "à milanesa", é uma receita portuguesa, com ovos, levada ao Japão, e o nome vem da palavra "tempero").

Algumas maquetes do Edo-Tokyo Museum dão uma ideia de como era Edo entre 1603 e 1868.
Representação do porto de Edo, atual Tóquio.
Antigo interior da casa de um carpinteiro. Um só cômodo.
Representação das antigas ruas de Edo, atual Tóquio.
Interior de casa em Edo. Três gerações da família num só cômodo.
"Banca de revistas" da época, com livros ilustrados e tal.
Livros da época entre 1603 e 1868, inspiração para os mangás modernos.
Representação de Edo\Tóquio já nos séculos XIX e começo do XX, com influências arquitetônicas do Ocidente.

Devia ser uma sujeira, né? Na verdade, relatos de ocidentais visitantes na época dizem que Edo era, na verdade, bem mais limpa que as cidades europeias (ou brasileiras). A guia do museu me explicou que havia todo um sistema de coleta de resíduos orgânicos para serem levados à zona rural como fertilizantes. Havia também brigadas populares de incêndio, já que quase tudo era de madeira e palha, e bons níveis de organização comunitária.

No século XIX o poder dos Tokugawa foi se enfraquecendo, e  com uma ajudinha dos estrangeiros, em especial dos Estados Unidos  outras famílias tomaram o poder e restauraram a autoridade de fato do imperador, que mudou-se para Edo e transformou-a em capital, agora com o nome de Tóquio. Essa foi a chamada Restauração Meiji em 1868, que levou a um período de rápida modernização no Japão e abertura novamente ao ocidente (sob grande pressão dos Estados Unidos).

Mas aí o Japão começou a querer dar uma de gostoso, a invadir a Coréia, Taiwan, a China, o Vietnã, e a querer ser imperialista com o lema de "a Ásia para os asiáticos". Envolveu-se em guerras e acabou experimentando, ele também, as agruras da guerra moderna.
Tóquio após bombardeio americano na Segunda Guerra Mundial.

Eu saí do museu com sede. Por sorte, nas ruas do Japão há máquinas automáticas de vender tudo  água, refrigerante, suco, chá quente, café e até banana. Eu lembro que assistia a Cybercops quando era criança e achava engraçado como os caras achavam um painel eletrônico escondido em qualquer lugar da cidade. Finalmente entendi. No Japão, até o beco mais escuro e o calçadão mais abandonado vão ter no mínimo uma maquininha de bebidas.
Máquina de vender banana e pedaços de manga fatiada numa estação de metrô. (A cada X dias vem um carinha da empresa que renova os  produtos e coleta o dinheiro).

Peguei um chá de gengibre quente (pois as máquinas tem uma parte de bebidas geladas e outra de bebidas quentes) e depois um café espresso de latinha. O café tem a qualidade que você imagina, com aquele delicioso gostinho de conservante e de lata de alumínio no final.

(Dica do viajante: No Japão, evite café, chocolate e pão. Deixe esses pra quando visitar a Europa. No Japão, prefira o chá verde, os doces tradicionais, e o arroz).
Café espresso na latinha quentinha da máquina.

Fui tomando meu espresso enlatado enquanto caminhava para o Parque do Palácio Imperial, onde há um tour grátis com guias voluntários aos sábados. Cheguei lá  carregando a latinha vazia o tempo inteiro, pois no Japão praticamente não há lixeiras na rua  e encontrei os guias Yusuke e Issamu, um coroa animado que nos falou da história de Tóquio e nos explicou vários hábitos da cultura japonesa, como o de cumprimentar curvando-se em vez de apertando as mãos, pois os japoneses tradicionalmente acham intrusivo demais tocar a outra pessoa. Ele explicou que o respeito que você demonstra é proporcional ao quanto você se curva (90 graus sendo o máximo).

Entrar na atual morada do imperador requer uma burocracia enorme, mas o parque em si é lindo. As fotos não me deixam mentir.
Parque do Palácio Imperial em Tóquio.
Parque do Palácio Imperial em Tóquio.

Issamu nos explicou que esses jardins foram elaborados, em parte, para que o imperador pudesse contemplar a natureza sem ter que sair de sua propriedade, onde poderiam atentar contra a sua vida. O mesmo vale para as outras mansões e senhores de terra, que também não podiam simplesmente sair andando por aí. É nessa que entram os ninja, assassinos sorrateiros que eram contratados para eliminar essas pessoas importantes.

Resolveram demonstrar armas como o shuriken (as estrelas ninja cortantes), e para isso pegaram alguém pra vestir de ninja. Adiviiiiinheeeeeem quem escolheram? Isso mesmo.


Eu "vestido de ninja" (vulgo: com uma camiseta preta na cabeça) sendo fotografado na demonstração de como atirar as estrelinhas.

Com o cair da tarde o parque fecha, as luzes da cidade se acendem, e fica impossível não deixar Tóquio abraçar você.
Luzes à noite no distrito de Shinjuku.
Às vezes o abraço é bem literal. Hordas de japoneses no cair da tarde no distrito de Harajuku, Tóquio.

Shinjuku é chamado de o segundo centro de Tóquio. É onde fica a humilde prefeitura de 48 andares, e onde há também uns guetos tidos como redutos da yakuza, a máfia japonesa. De fato, há uns becos bem esquisitos e cheios de tocas de coelho.
Prédio da prefeitura de Tóquio.
Vista do distrito de Shinjuku do alto da prefeitura.
Becos em Shinjuku. Aquele cheiro maravilhoso de fritura. E, sim, isso ENCHE de gente.
Em Shinjuku à noite.

Mas após o parque, minha ida foi para o distrito de Harajuku. Se Shinjuku é tipo um centrão, Harajuku é tipo a Savassi de Belo Horizonte, o Batel de Curitiba, ou o bairro da sua cidade onde as classes mais altas vão se divertir e desfilar moda no final de semana.

Hooordas de pessoas. Rapazes de cabelo laranja e moças de sainha e salto alto sem saber andar, você vendo a hora de ela torcer o pé.
Jovens desfilam em Harajuku, Tóquio.

No final, ainda fui ver o que a noite reservava em Akihabara, o distrito dos eletrônicos e dos animês. Entrei em cada cafofo de fliperama, com cheiro de cigarro (pois fumar é permitido nesses interiores) e jovens com caras de saídos da escola, do trabalho, ou da festa à fantasia. A quantidade de bugingangas coloridas (DVDs, bonecos, etc.) faz você se sentir na 25 de Março, em São Paulo, ou em Ciudad del Est, no Paraguai  só que, é claro, com muito mais limpeza e segurança, e acho que mais luzes também.
Distrito de Akihabara, dos eletrônicos e animês.
Jovens num prédio com 5 andares de arcades. 

E ao fim do dia, voltando pra casa, a quiromante de toda noite, no ladinho do passeio, com uma vela numa banquinha aguardando transeuntes interessados em saber a sorte escrita na sua mão. Pra quem acha que isso são crendices de sociedades pobres, o Japão está aí para desafiar você.
Quiromante oferecendo leitura da sorte nas suas mãos.

É uma sociedade econômica e tecnologicamente avançada, só que mais espiritualizada que a Europa ou os Estados Unidos. Aqui as coisas se misturam, em vez de haver uma ala cristã conservadora e uma ala progressista materialista. É diferente, e não é tão fácil de entender, e talvez exatamente por isso seja tão fascinante.