sexta-feira, 31 de maio de 2013

Desembarcando na Turquia: da muvuca às ruínas de Éfeso



A Turquia se tornou um dos destinos favoritos dos brasileiros. Na verdade, os ocidentais em geral finalmente "descobriram" Istambul, a Capadócia e o restante da Turquia. Vide não só a novela da Globo, mas também a quantidade crescente de filmes americanos com cenas no país, a exemplo do último James Bond.

A Turquia é uma versão light da Índia. Se você vier da Grécia (como eu fiz), mesmo a Grécia já sendo um país, digamos, bem animado e descolado, na Turquia você percebe que a coisa sobe um grau, e a muvuca aumenta. Há muito mais gente (75 milhões de turcos comparados a 10 milhões de gregos), a malandragem é maior, e há muito mais pobreza.

Quando eu cheguei já era de tardinha, vendo o sol se pôr do barco que me trouxe da ilha grega de Samos até o porto turco de Kusadasi, na costa do mar Egeu.
Deixando pra trás a Grécia...
E chegando a Kusadasi, na Turquia. Olha o arzão de subdesenvolvimento.

Chegamos eu e a minha mochila ao ponto de fronteira no porto, e passamos sem dificuldade. Eu havia feito uma reserva num hotel simples, mas não parecia lá muito fácil de achar. Tudo o que eu tinha era o nome da rua, número, e uma ideia geral da localização. Comecei a andar e fui vendo os vários bazares, primeiro aqueles bem arrumadinhos pra turista, logo na saída do porto, e depois os bazares mais povão mesmo, parecendo o comércio do centro de qualquer metrópole brasileira. De qualquer forma, aqui em Kusadasi quase tudo alveja os turistas, já que muitos cruzeiros europeus param aqui. São muitos os bares pra alemão rico, as boates "de música típica" que na verdade tocam a macarena ou qualquer esculhambação que faça turista bêbado rebolar, e becos e ruelas escuras cheias de gatos revirando latas de lixo.

Enquanto isso, hotel que é bom, nada. Já era noite, e eu fui pedindo informação a qualquer um, basicamente falando o nome do hotel, da rua, e fazendo aquela cara de indagação. Depois de muito rodar, numa ruela escura -- por onde eu dificilmente andaria se fosse no Brasil  achei o hotel. Lá dentro estava Sezgins, o dono, um baixinho astuto, daqueles coroas morenos de 45 anos que usam camisa polo apertada, cabelinho arrumado, e que se acham o Paolo Maldini.
A bela localização do meu hotel.

Não deu 5 minutos e Sezgins começou a tentar me empurrar pacote pra ir a Éfeso, as antigas ruínas gregas, que ficam bem perto daqui. É claro que eu queria ir, mas a "sabidoria" dele com aquela história de "Tem poucos lugares, se você quiser ir tem que me dizer logo", querendo me vender o peixe dele, era irritante. Apesar disso, aceitei. O pacote de 1 dia incluiria uma ida à casa de Maria (sim, ela mesma, a Maria mãe de Jesus, que se acredita ter morado nesta região depois do calvário), e eu sabia que ir lá por conta própria era difícil, já que fica numa área afastada, e um táxi seria caro demais. Fiz a vontade do Sezgins, deixei minha mochila no hotel (bem furreca, diga-se de passagem), e saí pra comer alguma coisa e dar uma volta. Afinal, eu queria passar não mais que uma noite aqui, e depois de visitar Éfeso e a casa de Maria já seguir viagem pelo interior do país.

(Se alguém estiver estranhando a existência de ruínas gregas na atual Turquia, lembrem-se de que tudo isto aqui era território dos gregos antigos. Depois foi do Império Bizantino  nada mais que uma continuação daquela cultura grega romanizada e convertida ao cristianismo , e foi só lá pelo século XI depois de Cristo que os turcos aparecem por aqui, migrando da Ásia central, daí deflagrando as Cruzadas cristãs para retomada do território, etc.).

As ruas do centro de Kusadasi. O "kebab" ali, pra quem não conhece, é um misturão com caldo de infinitos tipos.
Calçadão em Kusadasi com lojas orientadas principalmente para os turistas.
Cantor vestido de Elvis fazendo cena para turistas num bar.
As inúmeras propagandas de cabaré nas ruas de Kusadasi. Cada um menos autêntico que o outro.

Dei uma volta mas não estava a fim de entrar sozinho em cabaré. Eu bem tinha vontade de ver algo com música e dança típicas da Turquia, mas não se iluda. Esses cabarés daqui não tem nada de típico, são um bando de bares pega-turista bem genéricos com dançarinas enfeitadas e algumas músicas pop pra fazer europeu achar que está conhecendo a Turquia. É mais fácil ouvi-los tocar kuduro que qualquer música tradicional turca.

Circulei aproveitando-me do meu disfarce de turco. Afinal, com a minha cara, ninguém aqui diz que eu sou estrangeiro  o que é uma vantagem ótima pra evitar a chateação dos lojistas chamando você a toda hora pra ver isso ou aquilo, como acontece com os pobres alourados que vem aqui. Toda a minha solidariedade a vocês que são mais branquinhos. Comprei umas roupas de algodão excelentes e baratas depois de barganhar (aqui, como na Índia, quase nada tem preço fixo, depende de quanto o vendedor quer te cobrar), e caminhei pra conhecer a área. Vi desde os calçadões repletos de lojas até as ruas de trás, bem quietas, cheias de gatos revirando lixo. Os muçulmanos têm certas restrições aos cachorros  na Indonésia eu aprendi que eles consideram a saliva do cachorro algo "impuro", e que muitos creem que onde tem cachorro os anjos do senhor não vêm (agora durma com um barulho desse e diga que passou a noite bem).

Sentei em algum lugar pra comer, no que foi o equivalente turco aos trailers que vendem sanduíche nas cidades brasileiras. Aqui são os doners (um tipo de pão chato aberto no meio com algo dentro) e os kebabs, que tradicionalmente são carnes ou outros preparos em molhos condimentados, mas que na versão fast-food foi resumido a pedaços de carne de terceira prensada suando gordura. Daí a mágica do doner kebab, que é a tal carne dentro do tal pão -- pra quem não sabe, o fast-food mais comum na Europa hoje em dia.

Obviamente eu pedi outra coisa. Fiquei com a versão de falafel, que são aqueles bolinhos de grão-de-bico fritos com tempero e que você acha em qualquer restaurante turco ou árabe. De quebra, vieram vagens cruas, que eles aqui pelo visto comem como tira-gosto.
Minha mesa de fast-food, com os apetrechos característicos e as vagens de tira-gosto.

No dia seguinte, eu mal havia desfeito a minha mochila. Eu estava preparado para ir a Éfeso, à casa de Maria, e para zarpar para outra cidade ao retornar. Na internet eu havia visto indícios de que o último ônibus pra onde eu queria ir saía às 4 da tarde, e o Sezgins havia me jurado que o passeio acabava e retornava a Kusadasi às 3. "Fique tranquilo que quando você chegar eu olho os ônibus pra você. Se não der, você fica aqui mais uma noite, e viaja na manhã seguinte", complementou ele. Você também ficou com aquela ponta de suspeita de que o baixinho queria me passar a perna? Por via das dúvidas, saí com mochila e tudo, e a dexaria na van que havia chegado pra nos levar ao passeio.

A seguir, a ida a Éfeso, à casa de Maria, e a tentativa de escapar do Sezgins.


Um comentário:

  1. nossa mae..o que e que e iso...que ruela horrorosa.. hahaha..imagino o hotel....haha e que figura louca o tal do dono do hotel...haha... de bobo nao tem nada..mal sabia que estava lidando com alguem que ja manjava a dele...haha

    e coitado dos cachorros....eita povo pirado..haha deve ser por isso que preferem os bichanos..haha

    menino..que cousa horrivel aquelas comilancas... adorei as malandragens dos tais cabares para turista ver..olhe...

    uaaauu..que aventuras....

    impressionantes essas ruinas...
    uaauu..vamos ver o que rolou..uaaauuu

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