terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Tumba de Humayun

Eu às vezes aqui me sinto em Indiana Jones, de tumba em tumba a visitar. Já sei de onde veio toda a inspiração pra aqueles filmes. Os islâmicos que dominaram esta região eram fissurados por construir tumbas para si mesmos, mausoléus para amores ou amigos, e coisas do tipo. Fizeram um monte no tempo em que dominaram esta área, entre os séculos XIV e XIX (até a derrota para os ingleses, que então "libertaram" os hindus do jugo islâmico, hehe sabem como isso funciona). São dos monumentos mais belos da cidade, então tenho passeado bastante.

Depois dessas duas semanas, desde que cheguei, meus dias entraram numa certa rotina: alguma entrevista ou algo relacionado à minha pesquisa pela manhã ou começo da tarde, e em seguida um bordejo pela cidade pra visitar algo ou pra sair às compras (hehehe). Essa segunda-feira, por exemplo, foi um caso bem ilustrativo.

Pela manhã saí pra uma entrevista que tinha marcado num centro de pesquisas energéticas (eles estão com algumas coisas em biocombustíveis). Fui de metrô, evitei os tuk-tuks e da estação fui a pé. Chegando lá o diretor miserávi me fez esperar um século e depois ainda estava com uma cara de tacho. As secretárias, e até os seguranças, são quase sempre muito mais simpáticos. Bom, saí de lá com o trabalho feito e fui procurar um lugar pra almoçar. Delhi é uma cidade extremamente hostil a pedestres: as distâncias são longas, sinal de trânsito, quando existe, frequentemente não funciona, aí fica o guardinha que às vezes apita e às vezes vai conversar com os colegas, e você nunca sabe quando aquela maré de motos e tuk-tuks vai dar a largada em direção a você. E, ah, Delhi normalmente não tem nome de rua. Pra quê?
Ruas sem nome em Nova Délhi. Só as avenidas principais têm nome. No resto, Deus te abençoe. Vá com GPS. Os endereços são tipo "Bairro tal, Casa R-14", e aí vá procurar onde ficam os Rs e de onde começa a numeração. Boa sorte.
Apesar de tudo, graças à perseverança e ao guia Lonely Planet (hehe), achei um lugar pra comer. Comida boa e barata, como é comum aqui. O estilo era tipo padaria aí do Brasil, sempre com o detalhe do local de apreciação religiosa ali pra dar bons auspícios ao comércio do dia. Veja ali o altarzinho atrás do balcão junto da geladeira da coca-cola.
Note o pequeno altar ali perto da geladeira da coca-cola, com uma vela, um breve incenso e algumas imagens de Sai Baba, santo venerado nesta região da Índia (as tradições religiosas variam dependendo de onde você está no país, mas depois a gente fala disso). (Também não confundir com Sai Baba o guru que ainda está vivo; este diz ser a reencarnação do santo, alguns acreditam, outros não).

Estou saboreando minha comida, meu delicioso lassi (iogurte grosso batido com açúcar, servido tradicionalmente gelado numa cumbuquinha de barro), e de repente eu ouço a língua mais bonita do universo, russo. Suspendi a cabeça igual cachorro quando ouve barulho. Vinha um casal já brigando com o garçom. (Casal de meia idade viu gente, antes que imaginem alguma tenista estonteante). Lembram o que eu disse sobre o chai já vir pronto e ninguém perguntar como você prefere? hehe, o tio russo não gostou. Em um sotaque carregadíssimo (que eu não posso fazer aqui, mas que terei prazer em imitar quando nos vermos pessoalmente), "Sem leite! No milk! Eu pedi chá preto!!".

Nesses lugares, junto com a comida vem o famigerado copo d´água. Naqueles copos estilo extrato de tomate, uma água que Deus sabe lá de onde veio. A recomendação é não tomar, então faz-se aquela cara amarela pra o garçom e larga o copo de escanteio. Na sobremesa caí na besteira de pedir um bolo de abacaxi que na verdade foi um verdadeiro abacaxi. Lição aprendida: na Índia, coma coisa indiana, indiano quando se aventura em comida ocidental quase sempre faz cagada (Seu Bhalla, por exemplo, se refere a ketchup como "o molho", e come com pão puro).

Na saída, dei de cara com uma híjra, éééé... aqueles travestis que são chamados de "o terceiro sexo", e que pedem dinheiro a você senão lhe seguem, fazem escândalo e lhe rogam praga. Eu não queria nem uma coisa nem outra, nem dar dinheiro nem receber praga de traveco. Ele(a) estava parando os transeuntes, pegou um casal que ia na minha frente. Eu escapei pela tangente antes que ele(a) viesse em mim.

Na solina tipo 2h da tarde em Feira de Santana (peguei até uma corzinha), saí andando em direção a um monumento "próximo". Foi o forte de Purana Qila, habitado pelo imperador Sultão Humayun no século XVI. Esse império islâmico a que me refiro, que dominou esta região, foi o Império Mogol (não confundir com Mongol; o mogol, ou mughal em inglês, se originou no Afeganistão, e dizem ter origem nos descendentes de Gengis Khan, daí a semelhança do nome).
Entrada para o forte e cidadela de Purana Qila, construída no século XVI pelo Sultão Humayun e seus sucessores. Em Nova Délhi.
Dentro, quase sempre uma mesquita, como neste caso. Numa coisa a novela acertou: essas ruínas são verdadeiros points de encontro para namorico de casais. Muitas Mayas e muitos Bahuans pelas ruínas, assim como mendigos tirando uma soneca também.
Frente da mesquita construída em Purana Qila. Hoje não funciona mais, mas é o prédio mais inteiro desse complexo de ruínas.

Humayun foi derrotado e forçado a voltar pra o Afeganistão por Sher Shah, que tomou esta área e continuou as construções, como esse observatório aí abaixo. Pouco depois Humayun pediu ajuda aos Persas e retomou esta área, e transformou esse prédio aí abaixo em biblioteca para ele. Malfadado, porém, ele caiu da escada dessa biblioteca e morreu. Em 1556.
O Sher Mandal, torre octagonal construída em arenito vermelho. Foi observatório e também biblioteca, de onde caiu Humayun, Sultão do Império Mogol.
Sua esposa, inconformada, mandou construir uma bela tumba para o finado marido. É a Tumba de Humayun, que eu visitei outro desses dias. De certa forma é o oposto do Taj Mahal, que é um mausoléu construído pelo imperador por conta da morte de sua amada (mas o Taj só entra em cena um século depois). Seguem algumas imagens do local.
Portão de entrada para os jardins da Tumba de Humayun. Construção de 1562, a mando de sua viúva.

A Tumba de Humayun
Esta é a Tumba de Isa Khan, um nobre afegão. Sua tumba se encontra nos mesmos jardins da de Humayun.
Vista lateral da tumba de Humayun. Aqui mais pra baixo na foto, o nascedouro do atual rei de Delhi, Aedis aegypti.

3 comentários:

  1. Nossa senhora, quanta coisa bonita!! Embasbaquei :O
    aheuiheauiheaiu, o atual rei de Delhi foi ótimo.

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  2. Ai Mairon!!!
    Fiquei deslumbrada com suas fotos...toachandoque vc nasceu pra fotografia migo...larga a Biologia!!! hehehehe
    E eis que estou aqui a ouvir musica japonesa (sim...) e rolei de rir com o post do Chakka (putz!), pensando que deve ser fantástico viver aventuras em lugares tão diferentes né? Até ando me animando de deixar aquela mochilada europeia e tentar no Japão...quer ir tb?
    Beijos migo! Se cuida! Ou em japones "Chūi shite kudasai! Sugu ni o ai shimashou!"

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  3. Estava devorando o texto e fascinada com as fotos quando leio a legenda - atual rei da Índia. Parei 2 minutos e pensei: meninooooo, lá tem Rei é? Zorra, eu não sei nada da Índia, preciso ler pra não dar mega-foras quando Mairon voltar. Aí terminei a frase e quase me embolo de rir! hahahahahahahahahahahah Beijão, fica com Deus!

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