sábado, 10 de setembro de 2016

Afeição masculina no Mundo Árabe e na Índia: O reverso da medalha da segregação de gêneros?


Túnis, Tunísia. 
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Afeição masculina no Mundo Árabe e na Índia: O reverso da medalha da segregação de gêneros?

Quem viajar ao mundo árabe ou à Índia vai notar logo duas coisas de cara. A primeira, conhecida, é a separação entre homens e mulheres no mundo público. Verá poucas mulheres recepcionando clientes em lojas, em restaurantes, ou em qualquer instância onde haja contato com estranhos; e verá pouca interação entre homens e mulheres, de fato. Os grupelhos na rua são caracteristicamente de mulheres de um lado, e homens do outro.

A outra coisa que lhe chamará muito a atenção, como ocidental do século XXI, é a proximidade física que existe entre os homens aqui. A afeição a que você assiste entre aqueles homens de outro modo tão machões é chocante: rapazes sentados no colo um do outro, senhores andando de mãos dadas ou até mesmo com os dedos mindinhos entrelaçados na rua, e homens estranhos beijando-se no rosto. Tudo isso eu vi ao vivo quotidianamente.


Um latino-americano típico que veja essas cenas achará logo que são todos gays  mas aí o seu cérebro dará um nó, pois esses homens árabes ou indianos conservadores claramente não são homossexuais. Muitas vezes são inclusive homofóbicos. Como pode isso? 

Índia.
Se é estranho ou chocante, o é apenas porque estamos usando o prisma errado, acostumados que estamos com as sociedades latinas. Associamos afeição a sexualidade, e tendemos a crer (erroneamente) que todas as pessoas do mundo se comportam de acordo com os mesmos parâmetros. Na cultura árabe, toque é sinal de amizade e reciprocidade. Distância entre homens é vista como sinal de desdém, como se você se achasse superior àquele outro.

Nós nem nos damos conta de que no próprio Ocidente as coisas já foram muito diferentes do que são hoje.


No Brasil, como em todas as sociedades latinas, hoje há flerte constante entre homens e mulheres, contato social intenso entre os gêneros, e afeição em público num nível que você não vê em nenhuma outra parte do mundo. 


No Mundo Árabe ou na Índia, em contraste, isso é praticamente vetado, só ousado pelos mais jovens em privado ou às escondidas. Caminhei com amigos da Índia e via as mulheres rapidamente se agruparem e os homens andarem entre si; em festas, fiquei surpreso ao ver que os homens iam para um lado, e as mulheres para outro. Por outro lado, se você for homem, provavelmente os seus amigos indianos ou árabes o agarrarão de um jeito que provavelmente o deixará desconfortável. Os homens aqui no mundo árabe pedem licença a você no ônibus com uma mão demorada no seu ombro que mais parece um ato de carinho  no Brasil, certamente seria sentido como um flerte.  


Mulheres entre si, homens entre si.
E aí eu fico a me perguntar até que ponto essa maior afeição masculina não é o reverso da medalha da segregação de gêneros. A mim parece coincidência demais que ela seja tão comum exatamente nas culturas onde essa afeição pública e quotidiana é coibida entre homens e mulheres. Alguns psicólogos dizem que afetividade precisa ser expressada, e se não vai de uma forma, vai de outra. É algo sobre os indianos e árabes que a maior parte dos ocidentais não conhece.

A você aí que já está glorificando a sociedade latina e vendo o comportamento deles, árabes ou indianos, como "válvula de escape" por não fazerem isso entre homem e mulher, lembre-se da homofobia incrível dos homens latinos, do machismo, e questione a sua pressuposição de que tal afeição deve existir apenas entre homens e mulheres. Afinal, se duas mulheres podem se cumprimentar aos beijos, por que não o poderiam fazer também os homens?  


E, além do mais, as coisas já foram muito diferentes cá no Ocidente. Quer ver? Veja abaixo essas fotos "chocantes" do que era o normal das coisas há um século atrás. Fico a me perguntar, inevitavelmente, se a diminuição da segregação de gênero no Ocidente foi quem levou, também, a um distanciamento entre os homens. 


Quis apresentar esse lado do Mundo Árabe e da Índia a vocês, e deixo a pergunta no ar.





Quem no Ocidente se aventuraria a tirar uma foto assim hoje?

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