sexta-feira, 29 de abril de 2016

Stromboli e as Ilhas Eólias, sul da Itália

O sul da Itália tende a ser tão associado à máfia que poucas pessoas no Brasil sabem do seu lado romântico e aconchegante. Poucos de nós vêm à Itália e visitam suas ilhas, mas são muitas delas aqui, um pouco similares às gregas, tipicamente mediterrâneas, e com um aroma italiano. 

De Taormina, facilmente organizam-se tours de barco pelas chamadas Ilhas Eólias, um pequenino arquipélago ao norte da Sicília. É pra quem busca tranquilidade e lindas vistas do mar.

Pra quem gosta de aventura  e de mitologia grega  vale fazer um passeio específico ao entardecer ao redor do vulcão de Stromboli, uma das ilhas. Ele fumega à noite com lava incandescente e tudo. Foi o que fizemos.
Rochas no mar rumo ao vulcão de Stromboli. A parte habitada da ilha fica do outro lado, mas bem ali, perigosamente próxima ao vulcão.
Saímos de manhã cedo num ônibus rumo ao porto. Já aviso que ele ziguezagueia pela estrada. Os navios são vários, e quanto mais gente, mais barato. Procuramos um preço acessível e acabamos num enorme, com um guia maçante que narrava tudo em quatro línguas. (Não bastasse a repetição, ele tinha o irritante hábito de ficar fazendo perguntas confirmatórias, tipo "Hm?", ao final de cada frase em inglês e em alemão. Dava vontade de ir lá e jogar ele no mar.)

A alta estação destas ilhas, como por todo o Mediterrâneo, é entre abril e setembro. Quando vim, como já estávamos em outubro, as ilhas estavam pra lá de quietas. Pode ser bom se você estiver buscando tranquilidade. Se quiser o máximo do movimento, serestas à noite, todos os bares funcionando etc., prepare-se para o calor e venha no meio do verão (junho-julho-agosto).

Um porém nestas ilhas é que o mercado é inteiramente turístico, então você fica exposto a péssima qualidade de comida italiana. (Veja se consegue alguma indicação de alguém daqui e encontra um lugar bom. Eu não tive essa oportunidade e fiz aqui das piores refeições do ano. Ver Comendo na Itália: Particularidades, dicas e alertas. Nós almoçamos um macarrão num restaurante pra turista que nem merece ser retratado. E o jantar no barco foi uma massa nível "restaurante universitário".) 

Ao menos a vista não desapontou. A natureza raramente desaponta, muito menos aqui no Mediterrâneo. 
Vistas ao norte da Sicília. Esta na ilha de Panarea, a primeira das Ilhas Eólias onde ancoramos.
Eu não tinha noção do quanto esta parte do mar é acidentada. Há rochedos por todo lado, além dos vulcões. Comentando com pessoas no navio melhor familiarizadas com a região, me disseram que foi muito daqui que os gregos antigos desenvolveram seus mitos sobre as górgonas, sereias, e criaturas marinhas em geral. Eram nesses rochedos que, supostamente, viviam as sirenes que encantavam os marinheiros, às quais Ulisses teve que resistir na sua Odisséia, e que assustavam tanto os navegadores gregos antigos da vida real. 

Era, supostamente, aqui no sul da Itália que esses monstros viviam. (Lembrem-se que o território da civilização helênica de antigamente incluía todo este sul da Itália, então chamado de a Magna Grécia.)
Quadro do pintor inglês Herbert James Draper, Ulisses e as sirenes (1909), da passagem na Odisséia na qual Ulisses pede que lhe amarrem ao mastro do navio para que ele não deixe o barco, encantado pelo canto das sirenes. As sirenes eram "monstros" marinhos, que tinham aparência feminina atraente mas que devoravam as pessoas. (O quadro original encontra-se na Ferens Art Gallery, na Inglaterra.)
Os marujos tinham medo dessas encostas, pois dizem que é aí que elas viviam.
Cair do sul no mar das Ilhas Eólias. Você pode imaginar a sensação dos marujos gregos de antigamente, crendo que toda sorte de criaturas habitavam estes mares e aquelas rochas.

Nas ilhas em si você tem um sem-número de casinhas brancas tipicamente mediterrâneas, com portinhas bonitinhas e às vezes uns pequenos jardins.  
Em Panarea, uma das Ilhas Eólias. Elas são parecidas.
Ruelas estreitas e lojinhas. (Estarão mais movimentadas no verão europeu.)
Em Panarea. Vivendo.
Como aqui é a Itália, os principais pontos de referência nos vilarejos destas ilhas são igrejas. Encontrei até Cosme e Damião numa delas.

Acho, contudo, que foi fora duma dessas igrejas, "no mato", que vi uma das imagens cristãs mais impressionantes de minha vida. Talvez por sua genuína simplicidade, condizente com o autêntico cristianismo.  
Igrejas muito bem decoradas (mais do que eu imaginava, dada a simplicidade do lugar).
Cosme e Damião. (Caso você esteja a se perguntar, eles eram gregos, nascidos na Arábia, e viveram no século III.)
Alguém pôs esta imagem de Jesus aqui na rocha. Talvez a mais genuína que já vi.
A atração principal da viagem era pra ser a visão do vulcão de Stromboli à noite, com derramamento de lava no escuro. Só que não. Outros viajantes, e amigos, me garantem que quase toda noite há erupção, e nós ficamos lá por duas horas no barco aguardando após o jantar, e não ocorreu. Acontece. 

Com ou sem erupção, o pôr-do-sol sobre o mar, ali flutuando em meio àquelas rochas, foi lindo. E com ou sem erupção, não deixou de ser um lugar muito formoso de visitar. Só reprovei a comida "pra turista", mas aqui me parece difícil escapar dela.

Deixo vocês com 5 fotos que não resisti fazer por lá. A primeira é da casa onde a célebre atriz Ingrid Bergman e outros gravaram o filme Stromboli (1950), do diretor Roberto Rossellini. As outras quatro são esculhambação.
Casa onde foi filmado Stromboli (1950), filme italiano de Roberto Rossellini com Ingrid Bergman.
Já esta outra casa tinha um nome bastante curioso.
Estes cidadãos estavam conversando na área de Stromboli perto do porto. Pareciam saídos de alguma comédia teatral, mas era a rua. Coisas da Itália.
A casa amarela que era branca.
Não resisti a esta foto do vulcão de Stromboli.

Assim encerramos, eu e minha amiga holandesa, o passeio pela Sicília, após ver as cidades de Siracusa, Noto, e Taormina. No próximo post, vou para outra parte do mundo.

Um comentário:

  1. Uaaaauu que beleza esse sul da Itália, que belas casinhas brancas à semelhança de Santorini, ruelinhas calçadas lindas portas azuis e as belíssimas flores, tudo isso diante de paisagens de majestosa e impressionante beleza. Linda a região. Fiquei tambem impressionada com a visão daquele Cristo tão autêntico em meio à natureza, em busca Pai. Rara beleza. Adorei. Amo o Mediterrâneo e seu mar azul, suas gostosas ilhas. Parabéns viajante brasileiro. Um grande abraço.

    ResponderExcluir