Apesar disso, chegamos bem e sem problemas. Já era noitinha em São Petersburgo, a bela capital imperial russa. A cidade foi erigida pelo czar (imperador) Pedro, o Grande, em 1703, numa tentativa de remodelar a Rússia de acordo com a estética e os costumes da Europa ocidental. Ele passou anos viajando para aprender as maneiras europeias, e quando voltou empregou uma série de mudanças, desde econômicas até coisas tipo obrigar a corte a vestir-se à maneira ocidental, obrigar todo mundo a se barbear, proibí-los de cuspir no chão, etc.
...e fundou esta cidade para ser a capital dos czares russos. São Petersburgo foi, portanto, a capital da Rússia até 1918, quando os revolucionários soviéticos transferiram o centro do poder político de volta a Moscou, que já havia sido a capital antes. O nome "São Petersburgo" não foi dado pelo czar Pedro em homenagem a si próprio, mas sim ao apóstolo Pedro. O nome mudou para Petrogrado na Primeira Guerra Mundial, pois acharam que o russo "grad" para cidade era preferível ao germanismo de "burgo", a língua dos inimigos. Daí a partir de 1924 os soviéticos abandonaram São Pedro de vez e a rebatizaram de Leningrado, já que aqui o revolucionário soviético Lênin fez carreira. Em 1991, depois de um plebiscito, a cidade voltou ao nome original de São Petersburgo. O importante, seja como for, é que aqui — e não Moscou — foi o centro de atividades tanto de czares notáveis como Pedro e Catarina quanto de Lênin e da Revolução do Outubro Vermelho, que transferiu o poder aos soviéticos. Então aqui há mais o que visitar do que em Moscou (sugiro uns 4 a 5 dias).
Nevsky Prospekt, ou Avenida Nevsky, a principal de São Petersburgo. |
Já no inverno o tempo estava friozinho, chão molhado da neve derretida, mas nada impossivelmente frio como a gente sempre acha que está quando imagina a Rússia. O centro da cidade fica particularmente bonito à noite. Você esbarra em várias construções históricas — sobretudo igrejas e palácios convertidos hoje em museus — e fica sem saber qual é a mais bonita. E, ao contrário de Moscou, São Petersburgo é uma cidade fácil de circular a pé.
Vista da janela do Apple Hostel, o nosso albergue na segunda viagem — ninguém gripado. Esses pátios interiores entre os prédios largos são hiper-comuns na Rússia e por toda a ex-União Soviética. |
Catedral de Kazan (1801) no centro de São Petersburgo. |
Canais semi-congelados em São Petersburgo. |
Não há dúvidas de que São Petersburgo é uma cidade mais elegante e mais clássica do que Moscou. Se assemelha um pouco mais ao que encontramos na Áustria ou na Alemanha. Há quem critique, dizendo que tudo é imitado (veja, por exemplo, como a Catedral de Kazan se parece com a Basílica de São Pedro em Roma, ou como a Igreja do Sangue Derramado parece a Catedral de São Basílio em Moscou). Seja como for, é inegável que São Petersburgo tem muito charme. Andar por aqui à noite é a glória.
O ponto mais turístico da cidade é, provavelmente, o Palácio de Inverno transformado no Museu Hermitage, fundado pela czarina Catarina, a Grande, em 1764. O museu é na verdade um complexo de vários prédios, entre eles o Palácio de Inverno (abaixo).
Um primo meu, em frente ao Palácio de Inverno em São Petersburgo. (A minha foto saiu borrada). |
Palácio de Inverno durante o dia e no verão, na minha primeira visita à cidade. (É pra olhar pra o palácio, não pra as pernas da moça). |
Retrato pintado de Leo Tolstói, escritor russo de obras antológicas como Anna Karenina e Guerra e Paz. |
Interior palaciano do Museu Nacional Russo. |
Outra atração fundamental na Rússia é o balé. Em Moscou há a companhia Bolshói, já aqui em São Petersburgo há o Mariinsky — ambos você precisa agendar com meses de antecedência se quiser ingressos pro assentos menos caros. Fui ao Mariinsky em ambas as vezes em que estive em São Petersburgo, e não me arrependi. Não é aquela coisa oh-meu-Deus-que-coisa-estupenda-affee-maria, a menos que você seja muito entusiasta da dança. Mas já que veio até aqui, assista. Vale a pena.
Na primeira visita à cidade nós fomos de ônibus até o teatro, eu e meus quatro companheiros de viagem, e saboreamos novamente a maravilhosa delicadeza dos serviços russos. Eles aqui têm um método pra lá de eficiente para cobrar a passagem no ônibus: como na maior parte da Europa, não há cobrador, você compra o bilhete da passagem antecipadamente. Mas em vez de mostrar o bilhete ao motorista, eles aqui têm uma tia com uma bolsa a tira-colo se esprememendo e esbravejando no meio do ônibus lotado e querendo ver a passagem de todo mundo. Conosco ela gritou feito uma condenada (em russo, é claro) até entendermos que ela queria ver os nossos 5 bilhetes todos ao mesmo tempo, pois ela achou que estávamos repassando o mesmo bilhete um para o outro e mostrando um de cada vez. (E você aí reclamando dos cobradores no Brasil...).
Na segunda viagem eu simplesmente evitei os ônibus e fomos a pé.
No Teatro Mariinsky, nas varandinhas. Sim, o interior do teatro já vale a vinda. |
Já se você não é tão chegado nessa coisa mais clássica e prefere aqueles ambientes à lá Guerra Fria e União Soviética, não deixe de ver o Museu de História Política, onde fica o antigo gabinete de Lênin e a varandinha de onde ele discursava às multidões de operários. De quebra, você verá muitos cartazes de propaganda soviética (que são, inclusive, dos souvenirs mais populares aqui na Rússia).
O braço forte vermelho esmagando a cobra nazista. |
Tipo: "Meu pai se alistou, e o seu?" |
Escritório da época — com direito a decoração natalina. |
Antigo escritório de Lênin, com a porta para a varandinha de onde ele discursava. |
Por fim, deixo vocês com as fotos dos Palácios de Pedro (Peterhof) e de Catarina, cada um um dia inteiro de passeio, pra ver os jardins e os interiores super-decorados — mas só vale a pena nos meses mais quentes do ano (maio a outubro).
Ruas e praças de São Petersburgo no inverno. |
O largo Rio Neva, que corta a cidade, semi-congelado. |
Nos jardins do Peterhof, palácio do czar Pedro nos arredores de São Petersburgo. |
Entrada para o palácio. |
Jardins nos arredores. |
Fontes mis e estátuas de ouro na face interna do palácio. |
(E aí você se pergunta por que é que a classe trabalhadora russa se revoltou...). |
Com o audioguia no interior dourado do Palácio de Catarina, também nos arredores da cidade. |
Nos jardins do Palácio de Catarina, com as folhas começando a ganhar cor em setembro. |
Caí fora antes de gripar, mas a tempo de ver essas belezas da capital imperial russa. Uns dias aqui valem muito a pena. No verão há esse "plus" de poder ver os palácios. Um dia ainda retorno à Rússia pra tomar o trem transiberiano — e, é claro, contar aqui.
до свидания! [Da svidâniya], Rússia! Até a próxima! País novo no próximo post...
Migo, que lugar bonito!
ResponderExcluirEste palácio de Catarina é muito legal!
Só não consegui de notar duas pessoas "peladas" - a moça e vc, de camiseta!!! E tava nevando!!! Como que consegue?