Lago Bálaton, a riviera da Hungria. |
O Lago Bálaton é o maior destino de férias dos húngaros. Como a Hungria não tem litoral, vêm todos pra cá. Na época da Guerra Fria, quando os países comunistas restringiam a ida de seus cidadãos aos países capitalistas do mediterrâneo, o Bálaton era um destino popular para gente na Alemanha Oriental, Tchecoeslováquia e outros deste lado de cá da Europa.
O Lago Bálaton tem cerca de 77km de comprimento e vai até 14km de largura. Às vezes dá pra ver do outro lado, mas é bastante comprido. É o maior lago da Europa Central. Água doce. |
A viagem até aqui são poucas horas de trem de Budapeste. Você faz conexão em algum lugar perdido no interiorzão até chegar em Szabadisóstó. Esse último trecho é meio lento, já que a maior parte dos trilhos não são duplicados. A razão? A Hungria perdeu a guerra. Era aliada da Áustria e da Alemanha, e uma das medidas dos Poderes Aliados (EUA, Reino Unido...) foi desmantelar as bases industriais dos vencidos, e assim desmancharam todos os trilhos duplicados da Hungria, pra dificultar o transporte por trem. Como o país depois veio a ficar sob o jugo da União Soviética, a coisa nunca se regenerou ao nível de antes -- ao menos não aqui, perto de Szabadisóstó. As marcas da guerra continuam presentes afetando a vida das pessoas.
Interior do trem. Calor de derreter o juízo no verão húngaro. |
Nossa metrópole. |
Na manhã seguinte veríamos o lago propriamente. Para o almoço, os anfitriões resolveram fazer um goulásh caseiro, um escaldado de carne tradicional húngaro. Mesmo sendo vegetariano, admito que provei ligeiramente e que o negócio é bom. Trata-se de carne com especiarias várias (os húngaros adoram condimentos, muuuito diferente da culinária alemã-austríaca ou mesmo dos eslavos vizinhos). Procure comer num lugar bom, pois o que não falta em Budapeste é goulásh mentiroso pega-turista. Se lhe venderem como sopa, há uma boa chance de que encheram de água e estão lhe enrolando.
Goulásh húngaro. Esqueça o ovo e os outros acompanhamentos. |
Após um dia de maresia (lagueria?), saímos à noite. Szabadisóstó é só um distrito, então não oferece muito. Há basicamente um cruzamento que é o centro, com um só bar onde Victor, um cantor meio piegas, canta toda noite. Fomos lá várias vezes e ele sempre chama as crianças ao palco pra pelo menos uma música. A parede de fundo do palco já é até a foto dele próprio sorrindo. Canções húngaras que parecem os equivalentes dos clássicos sertanejos daqui.
Mas havíamos alugado umas bicicletas, e pedalamos meia hora até o centro de Siófok, a cidade principal nessa região. Parecia Miami Beach — sem a beach. Carros e luzes por toda parte, música bombando, jovens baladeiros pra todo lado, e até dançarinas quase-nuas dançando no mastro à porta das boates.
Pessoal tomando uma espécie de caipirinha coletiva. |
O dia seguinte foi cheio. Parte resolveu ficar dormindo, e nós — os mais enérgicos — pegamos logo de manhã o ferry com nossas bicicletas para o outro lado do lago. Começamos pela bela área de Tihany, onde há igrejas históricas, vendinhas de artesanato, mansões e muito verde. Isso fica no alto de uma colina, e subir de bicicleta estava fora de cogitação, então estacionamos e fomos a pé. Mesmo a pé é uma subida inglória, mas vale a pena.
Mansões em Tihany, com o lago ao fundo. |
Igreja em Tihany. |
Em baixo há uma área de banho onde você vê a criançada de bóia e aquela coisa toda. Após o passeio em cima, fomos nos refrescar e encontrar o restante do pessoal. Apesar de não ser uma praia de mar (com ondas e talz), é legal. Estavam insistindo pra que eu provasse uma iguaria húngara — bem, talvez não exatamente uma iguaria, mas um lanche, o Lángos [langósh]. Trata-se de uma fritura redonda, do tamanho de uma pizza pequena, com massa de pastel, repleta de creme de leite em cima e queijo. Não é exatamente o lanche leve que os nutricionistas recomendam pro verão, mas eu não quis sair sem provar. O óleo vai descendo, e haja guardanapo.
Comendo lángos na Hungria. Não há como não se lambuzar quando você morde aquele pedaço cheio de creme. |
Por sorte, em Balatonfured há um negócio duma fonte de água -- parecendo essas de Minas e Goiás -- curativa em que o povo faz fila pra encher as garrafas e levar pra casa. Tomei meio litro, e foi também o tempo de digerir e ficar bom. Deu tempo de passearmos pela bela cidadezinha e ver uma feira de artesanato e produtos típicos à beira do lago.
Entre outros, o pessoal comeu do tradicional pão com banha de pato (passada como se fosse manteiga), que os húngaros adoram, e tomamos do vinho húngaro tipo Tokaji Aszú, que é bom. (Não tem nada de azul no vinho; a pronúncia é Tokái Ássu, hehe). É de cor topázio, e a qualidade é medida em número de putônios. Acho que vai de 1 a 5.
Passeando à beira do lago em Balatonfured. A feirinha de produtos típicos é debaixo desse boulevard de árvores. |
O vinho Tokaji Aszú húngaro, cor de topázio e avaliado em putônios. Tem sabor de vinho banho adocicado, que me lembrou uma mistura de rolha com passas de uva branca. É saboroso. |
Feirinha muito agradável. Já a volta de ferry à noite, com as bicicletas no meio do povo, já não foi tão agradável assim, meio muvuca, mas deu certo. Na chegada, ainda deu tempo de pegar as últimas canções de Victor no barzinho de Szabadisóstó. Ele — sem saber que eu estava presente — nos "brindou" com Ai se eu te pego no fim do show. A empolgação dele cantando em português faria Michel Teló tremer. Claro que o pessoal fez lobby pra que eu me apresentasse como brasileiro e subisse ao palco com Victor (ele, claro, ficaria maravilhado), mas não fiz isso. Talvez tenha perdido minha chance de subir ao estrelado na Hungria, mas é isso mesmo.
O dia seguinte era dia de partir, depois de uma folga muito agradável e bem típica aqui no interior da Hungria. Mas antes de tomar o trem de volta a Budapeste ainda paramos pra almoçar. Um calor miserável, daqueles que fica ainda melhor quando você entra num restaurante fechado quente e toma aquela sopa que te esquenta ainda mais. Foi preciso muita destreza pra evitar que o suor da testa pingasse na minha sopa de cebola. Afora isso, estava gostoso.
A Hungria reserva das coisas mais interessantes (e desconhecidas pra nós) na Europa. Vale muito a pena. As pessoas são bem risonhas e descoladas, a cultura é muito rica, e a culinária se tornou das minhas favoritas (mesmo saltando fora das banhas de pato e companhia). De quebra, ainda é um país barato de se visitar. A única coisa de pouco valor aqui nesse país é a moeda (o forint — são em média 300 pra 1 euro), pra a sorte dos turistas.
Uma hora ainda continuo, com posts sobre Budapeste.
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