sexta-feira, 1 de julho de 2011

Na última ditadura da Europa: a Bielorrússia

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Rumo à Bielorrússia, a última ditadura da Europa

Acho que poucas pessoas no Brasil sabem que esse país existe. A Bielorrússia (ou Belarus) fica entre a Polônia e a Rússia, no leste europeu (mapa abaixo), e é considerada  a última ditadura da Europa. Aqui é como se a União Soviética nunca tivesse acabado: o país é comunista e autocrático; a KGB (serviço secreto soviético) ainda funciona; e nas praças ainda se vê estrelas soviéticas daquelas com a foice e o martelo, igual nos tempos de Stálin.

Mas deixa eu primeiro explicar eu me meti nessa.

Desde o começo do ano estou me voluntariando numa campanha de justiça ambiental de uma ONG européia. Como essas coisas são novidade nesta parte da Europa, resolvemos vir pra cá pra conhecer. De quebra, é verão, e resolvi juntar o útil ao agradável e curtir um pouco de férias por aqui. Serão 4 semanas nesta viagem: Bielorrússia, Ucrânia, Romênia e Estônia.

As trapalhadas começaram antes mesmo de eu chegar. A Bielorrússia não é parte da União Europeia, e pra pedir o visto bielorrusso é necessário carta-convite de alguém de dentro do país, com informações detalhadas do anfitrião. Minha anfitriã foi uma amiga de uma amiga e que atende pelo apelido de "big bitch" (não estou brincando) e que faz o favor de ter esse nome no e-mail. Agora imaginem a minha cara chegando na embaixada com esse e-mail no formulário. Sorriso amarelo? Nem pensar. Não com esses soviéticos. Pelo que entendi e ouvi falar, nessa cultura da Rússia e países vizinhos você chegar já sorridente é sinal de falsidade. Na Indonésia um sorriso lhe abre portas; aqui ele pode lhe bater a porta na cara. Os (bielo)russos são sérios com estranhos, e normalmente esperam o mesmo de você. (Na verdade, esse povo lhe olha com uma cara de desconfiado e de poucos amigos - às vezes como se estivessem p#tos com a sua cara só de você estar olhando).

Mas no fim das contas, tirei o visto sem problemas e não houve comentários sobre "big bitch". Chegara a hora de voar. Agora eu lhes pergunto: sabem como desembarcar três vezes no mesmo dia, no mesmo aeroporto, sem nunca ter voado? Eu sei. Perdi o voo. Circulei pelo aeroporto de Amsterdã feito bola de ping-pong tentando descobrir outra forma de chegar a Minsk, a capital. (O pessoal no portão de desembarque devia estar achando que estava doido tendo repetidos déjà-vu). Mas ao contrário de Roma, nenhum dos caminhos levava a Minsk. Só restava um jeito: ir de trem.

32 horas de trilho separavam Amsterdã de Minsk, atravessando a Holanda, a Alemanha e a Polônia. Um pouco mais demorado que o previsto, mas me levaria até lá. Sentei junto com um holandês que estava indo a Moscou e um inglês que estava indo até Pequim de trem (!). O holandês teve de saltar fora em Varsóvia (na Polônia) porque não se ligou que o trem atravessava a Bielorrússia e até pra atravessar você precisa de visto. Ficamos eu e o inglês, e começamos a passar tempo com Danili, um menino bielorrusso no trem (a mãe era um charme só).
Com pequeno bielorrusso no trem de Amsterdã a Minsk.
O trem não era tão esculhambado quanto os da Índia e da Indonésia, mas parecia saído direto da Guerra Fria. Era razoavelmente confortável  - para os padrões dos anos 70. O mal era só que fumar era permitido, como nos tempos de outrora. E, colega, russo fuma e bebe. Se você acha que bebe bastante ou que conhece alguém que é beberrão, seus padrões vão mudar na hora que você ver um russo bebendo. Os próprios condutores já tinham aquela cara de que estão permanentemente sob vodka, com aquele olho de peixe morto igual do Zeca Pagodinho.

Apesar de demorado e cansativo, o trem me levou até o país aonde eu queria chegar. O negócio é que ele parou logo depois da fronteira, na cidade de Brest, e eu precisei trocar de trem. Cadê agora saber onde que achava passagem e qual era o trem certo?
Entardecer em Brest, cidade bielorrussa na fronteira com a Polônia. Meu caminho até Minsk.
A sinalização é toda em russo, que usa o alfabeto cirílico em vez do latino. E aí, dá pra entender aonde você tem que ir?
E (bielo)russo dificilmente fala inglês. Na Indonésia falavam mais inglês do que aqui. Aqui ou você fala russo ou fala russo (ou arrisca bielorrusso, que é parecido mas mais exótico ainda). Agora me imaginem nessa estação aí catando saber onde é que se achava passagem pra Minsk, e sem dinheiro local. Aqui é o rublo bielorrusso, e graças a Deus dava pra sacar no caixa automático (nessa parte eles viraram capitalistas, hehe!). No fim das contas - e depois de a mulher do guichê ter ficado p#ta com a minha cara porque eu não entendia o que ela falava - eu consegui as passagens pra Minsk. O engraçado é que aqui eles continuam falando em russo com você mesmo que você não entenda.

Cheguei a Minsk às 3h da manhã. Deu ainda pra pegar a lua no céu, e uma amiga foi me buscar (não, não foi a big bitch, essa eu acabei não conhecendo em pessoa).
Madrugada em Minsk, capital da Bielorrússia, em frente à saída principal da estação de trem.

A cidade é um charme, e muito mais atraente do que eu imaginava. Imaginei um lugar decadente, feio, acabado. Mas que nada, os prédios principais são super conservados (melhores que na Polônia, Eslováquia e outros locais que visitei), e as ruas são bem largas e boas. Pra quem quer ver com os próprios olhos, confira as fotos abaixo.
Vista da minha janela.
Praça da Independência (da União Soviética quando esta se partiu em 1991)
Praça da Independência, Minsk
Decorações em Minsk com a bandeira rubro-verde da Bielorrússia
Centro de Minsk.
Se não me engano, a Praça da Vitória, referente à vitória Soviética frente à Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial.
E falando em soviético, o símbolo aqui se conserva firme e forte. Estação de metrô "Praça de Lênin". Cada estação de Minsk tem uma decoração diferente.
Como eu disse, me surpreendeu. E é interessante ver como o país não é nenhuma potência econômica (muito pelo contrário) mas as coisas são relativamente bem arrumadas. Claro, há bastante prédio residencial sem sal, feio. E aqui o dia-dia também funciona de maneira um tanto diferente. Por exemplo, praticamente não há supermercados; há mercadinhos e mercearias daquele tipo em que você aponta os produtos na prateleira e o vendedor detrás do balcão pega pra você. Dificilmente há produtos de marca ocidental (coca-cola é uma das poucas exceções), e não se acha muita coisa nas prateleiras. Produtos locais (pão, batata...) são baratos; o que vem de fora (normalmente de outros países comunistas como Vietnã e Cuba) é caro.

Por ora eu acho que já dá uma idéia da Bielorrússia. No próximo post eu conto como me instalei por aqui e a viagem de carro que fiz ao interior do país: De Minsk ao interior da Bielorrússia.

4 comentários:

  1. AEHuaehuehue, olha aonde você foi parar, Mairon!!
    Tem vídeo seu dançando né? Espero que sim heauheu!

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  2. Meu Deus migo!!!
    Super dez tua nova viagem!!!
    Mas cuidado: você não pesquisa um soviético, ele que pesquisa vc!!! hahahahaha
    Beijos e boa sorte!

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  3. Oieeee só salvando nos favoritos! :p
    Depois volto pra comentar certiho
    Abs

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  4. Da Ucrânia não dá pra dar uma passadinha em Belô amigo?ahahahaha!Linda sua narrativa querido a gente se sente no proprio lugar, porque vc não escreve um livro?bjos com saudades, Deus te abençoe sempre.

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