quarta-feira, 13 de julho de 2011

De Minsk ao interior da Bielorrússia

Me instalei na rua Karl Marx, perto da Praça da Vitória e não muito distante da Praça de Lênin. Tudo na Bielorrússia remonta ao comunismo, ou à Revolução Russa de 1917, ou à vitória contra os nazistas na 2a Guerra Mundial. O que mais tem em Minsk são monumentos e memoriais de guerra.

Ficamos eu e uma amiga num flat arranjado por uma colega, esperando o resto do grupo que só chegaria uns dias depois. Na Bielorrússia não há albergue nem pousadinha, só hotel caro pra quando vem delegação chinesa ou de algum outro país comunista, ou turista rico. Então o jeito é alugar flat e pagar por diária, meio que por debaixo do pano. Já na primeira manhã, depois da minha primeira dormida lá, a colega me mandou um SMS: "Os caras estão querendo saber quando é que você vai estar em casa pra eles irem aí pegar o pagamento".

A idéia de que (bielo)russos vêm na sua porta cobrar dinheiro não é muito confortável. Eu respondi o SMS, não deu 10 minutos e um careca branco de olho azul já estava na minha porta. Aí você abre a porta com aquela cara séria de "não sou maria-mole mas também não quero encrenca com você" (lembre-se, nada de sorrisos demais aqui). Não vou mentir: o cara foi até gente boa, embora  como todos os outros  continue falando russo mesmo quando está óbvio que você não entende nada.

Depois de rodar por Minsk, alugamos um carro pra conhecer o interior do país e visitar alguns grupos fazendo trabalhos de conscientização ambiental  que aqui é bem precária. O cara que nos alugou o carro era outro careca de olho azul, que nos fez um comentário muito traquilizador: "As chances são altas de ser parado pela polícia rodoviária", disse ele. "E aqui eles quase sempre querem suborno", completou um colega nosso bielorrusso. Maravilha.

Tivemos sorte e a polícia não nos parou. Pelo caminho vimos plantações de trigo, lagos e florestas, e visitamos dois "acampamentos de verão" ambientais, um pra jovens e outro pra crianças e adolescentes. No primeiro conhecemos os jovens fazendo o trabalho ambiental e ficamos pra almoçar. No menu: sopa de grama (não estou brincando), arroz cozido no leite, e peixe.
Casa modesta numa pequena cidade do interior. Na frente um menino brincava com o cachorro e um senhor boa-praça, o dono da casa, nos servia chá preto.
Lago junto do acampamento que visitamos.
O grupo da nossa primeira visita.
Na beira da estrada. Plantações de canola.
No dia seguinte visitamos as crianças e adolescentes, que - é claro - estavam fascinados com a visita de estrangeiros. Lugar bem legal, onde trabalham diferentes formas de expressão artística misturada com meio ambiente (música, pintura, etc.). Como dança também é arte, acabei sambando. Não literalmente. Numa bela tarde de quarta-feira, lá estava Mairon dançando dança folclórica bielorrussa com a meninada de 13 anos. Suei, me atrapalhei nos passos, mas me diverti pra valer.
Foto com parte da meninada do segundo "acampamento ambiental" que visitamos. Os que parecem mais velhos que 13 ou 14 anos são partes do meu grupo. Não tem fotos de mim dançando porque a câmera estava no meu bolso, ora pois :D (mas outras pessoas tiraram fotos da ocasião, então talvez depois role)
Ateliê de arte ligada ao meio ambiente.
Por fim, preciso dizer que, em Minsk, toda quarta-feira há manifestação contra o atual regime bielorrusso. As pessoas simplesmente se aglomeram numa das praças principais, e fazem silêncio. Sim, porque se protestar abertamente vai preso. Na semana anterior haviam algemado até um diplomata sueco que estava no bolo, e depois soltaram. O regime não manda gente pra a Sibéria, mas continua com aquele sabor de opressão dos tempos de União Soviética. Por exemplo, há uma nova lei na Bielorrússia: é proibido fazer compras em horário de trabalho. Se a polícia te pegar em alguma loja durante o expediente, tá despedido. Certa vez trancaram todas as portas de um shopping center durante o horário de trabalho (sim, na Bielorrússia tem shopping, apesar de tudo) pra que ninguém escapasse, e a polícia foi checando um por um, e todo mundo que devia estar no trabalho perdeu o emprego. Só quem pode é aposentado ou quem estiver de licença. Surreal, não?

Bom, eu, é óbvio, não fui à manifestação das quartas-feiras. Visitei mais algumas coisas, mas não demorei a me mandar à Ucrânia, que é mais leve. Trem noturno, com checagem de passaporte (aduana) às 2:30 da manhã. Uma delícia. O trem até razoável; pra quem já andou na Índia e dormiu no chão em trem da Indonésia, esse foi fichinha. A chatice é só ficar duas horas acordado de madrugada pra a checagem de seus papéis na saída da Bielorrúsia e depois na entrada da Ucrânia. Mas, bem, graças a Deus tudo correu bem, e entrei na Ucrânia com sucesso. Histórias a vir desses dias passados em Kiev, a capital.
Laranja madura na beira da estrada pode ser marimbondo no pé, mas framboesa e mirtilho na beira da estrada são outra coisa. Nessa região do leste europeu você sempre acha tias e vovós vendendo frutas e bordados na beira da pista ou em estações de metrô pra ganhar um trocado. Normalmente os maridos ou já faleceram devido ao abuso de vodca e cigarro, ou não ganham o suficiente.

4 comentários:

  1. Legal sua viagem Mairon!
    Nada como um dever dinheiro à um (bielo)russo mal encarado. Mô cara de cena de filme de mafiosos XD


    Ah, muito bonita a sua amiga.
    (Sim, eu sei quem é XD)

    Abraço cara

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  2. Com essa demora toda, achei q a KGB já tinha te encestado.

    Então realmente plantam canola? Bom saber XD

    E acompanho o relator, muito bonita a sua amiga, que eu também sei quem é XD

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  3. ...Laranja madura na beira da estrada ou tá "bixada" zé, ou tem marimbondo no pé...

    Grande provérbio da cultura brasileira, diria até, quase uma ideologia, uma filosofia de vida... :P

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  4. Que gosto tem a iguaria sopa de capim?
    E, minha curiosidade despertou, quem é sua amiga bonita que todo mundo sabe quem é?
    Eu não sei, mas desconfio alguma coisa do que vem a ser. :) Que frases mais de espionagem retada, tudo debaixo dos panos. hahahaha

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