segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Kovalam: Indo à praia na Índia


Saindo de Goa, continuei a beira-mar. Em Goa a visita foi mais historica, entao esperei um pouquinho mais para ir mais ao sul, em Kerala (esse estado lááá na pontinha sul da Índia), e finalmente me encontrar com os deuses do mar e ver de perto a fama de os indianos tomarem banho de roupa.

Minha jornada à praia começou pela singela cidade de Thiruvanamthapuram (lê-se algo como "Trivandrum", hehe), a capital de Kerala. (Os keraleses e sua lingua, o Malayalam, sao mestres em ler palavras enormes como se tivessem tres silabas. Falam mais rapido que a velocidade da luz, e sao muito amistosos, tem o jeito sangue-quente igual os latinos).

De Thiruvanamthapuram uma rápida rodada de tuk-tuk até Kovalam, a rainha das praias do sul da Índia. Não vi muuuita majestade, pra dizer a verdade - acho que as praias brasileiras são melhores. Mas eu não podia deixar de experimentar uma praia indiana.

O primeiro dia, porém, não deu praia. Caiu o maior pé d'água - trovoada com ventos fortes e as ondas quebrando. Também teve o seu sabor, foi interessante. Mais interessante ainda foi ver que os indianos não saem da praia só porque começou a chover. Os firanghis estrangeiros todos bateram em retirada quando a água começou a cair, mas a indianada toda continuou lá. E não eram só os jovens não; a trovoada braba e as mamães a fazer o maior promenade na beira da praia. Uns com guarda-chuva, outros não; os homens às vezes de calção ou sunga, às vezes com roupa de escritório, hehe. E, sim, todas as mulheres de roupa até o tornozelo. A maior comédia é vê-las suspendendo o sari pra ir molhar as pernas na água. Aí vem aquela onda e enchaaaarca, hehe.
Banhistas indianos na praia de Kovalam, em Kerala

Como bom brasileiro, achei logo meu point numa barraca. De lá foi que notei uma figura inusitada no meio do povão: o salva-vidas. Esqueça o gostoso malhadão de filme americano ou de novela da Globo. Esse salva-vidas era um fulano franzino, de bigodinho, barriga saliente, e vestido de camisa azul-polícia, chinelo e boné. Esqueça também aquelas torres de observação; o salva-vidas aqui fica numa cadeira dessas de plástico debaixo dum sombreiro na areia com uma garrafinha d'água do lado. Ah, e o apito. O apito é importantíssimo. Ele é que preenche o sentimento que o homem indiano tem de ter e mostrar autoridade. O salva-vidas aqui apita por tudo, mais do que árbitro de futebol. E aquela bandeira vermelha que às vezes fica fincada na areia quando a a maré não está pra nado, ele pega e sacode e gesticula igual manifestante de partido comunista. O mais legal é quando rola "desacato a autoridade", ou seja, quando o crispim na água nao dá ouvidos ao apito ou finge que não viu as bandeiradas. Aí o salva-vidas levanta nervoso ([it] com uma mao segurando uma toalhinha  pra cobrir a cabeca da chuva igual a minha avó quando vai abrir o portao no chuvisco). A combinação de pouco físico e pose de autoridade me lembraram o jardineiro lá de casa, Seu Nilson, sujeito franzino, de poucos dentes, que fala errado, mas que consegue ter a auto-confianca de um capitão do exército quando fala. É engracado. O salva-vida que eu vi aqui tem a mesma pose.
E é pontual: deu 5h da tarde ele botou todo mundo pra fora d'água.
Salva-vidas indianos na praia de Kovalam

No segundo dia eu finalmente caí no mar. Água meio traiçoeira, mas boa. Nada como um bom relax na beira da praia, umas frutas tropicais... aaahhh maravilha. Nesse segundo dia estava um solzão. Dessa vez o salva-vidas foi pra dentro d´água controlar o pessoal de lá, hehehe. Fazia pose matando as ondas no peito (nem sempre dava certo, o que era o mais engraçado).

Uma diferença crucial com a maioria das praias brasileiras é que aqui não tem música. As barracas não tem som, e não tem ninguém com o som do carro ligado tocando o último batidão. Por um lado é bom, dá pra ouvir o mar. Por outro, às vezes dava vontade de ouvir uma música animada indiana pra entrar no clima de que eu estava na Índia, e não tinha.

De todo jeito valeu esses dias de sombra e água fresca. Ia precisar. Duas longas viagens de trem na classe popular me esperavam: 17h de Thiruvanamthapuram a Chennai, e 24h de Chennai a Mumbai. Pra revolucionar os seus conceitos de o que é uma viagem longa. Are baba.
Coqueiros e mar em Kovalam
Banhistas indianos. As mulheres, como ficam sem jeito de se molhar com roupa, as vezes entram todas juntas e de mãos dadas na agua.
No norte de Kerala, rapazes indianos abordando a moca ocidental pra uma foto junto com eles. Super tipico.

Praia de Kovalam, extremo sul da India

Um comentário:

  1. Poquei-me de rir com o salva-vidas indiano! Oh gente, tomar banho de mar usando sari, NINGUÉM MERECE!

    ResponderExcluir