quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Bangalore e os rituais de porta de loja

No post passado fiquei devendo a vocês uma foto das bananeiras amarradas na frente da loja, pra trazer bons auspícios no Diwali (Festival das Luzes). Então aqui vai.
Bananeiras amarradas na frente de lojas no período do Festival das Luzes, pra trazer bons auspícios.

Essa loja era até chique, mas desde essas até lojas ralé e boteco colocaram bananeira na porta. Não sei se a tradição se estende por toda a Índia, mas pelo menos aqui nessa parte do sul é assim. Essa foto já foi tirada em Bangalore, depois que deixei Hyderabad. Aqui já é um clima bem mais de "sul" - mais presença cristã e influência colonial européia, comida diferente, e o povo mais descolado (Ah, e como eu disse antes, as línguas também são completamente diferentes, mas pra quem não entende nada faz pouca diferença se eles estão falando hindi ou kannada, a língua desta região - e não, não tem nada a ver com o Canadá). Eu diria até que o pessoal aqui é mais gente boa e  finalmente  menos "pega-turista". Aleluia!

E sobre as mulheres, aqui finalmente você vê mulher trabalhando nos hotéis e recepções, embora ainda sejam minoria. Mas pelo menos estão lá e falam com você normalmente.

Mas deixa eu falar dos rituais de porta de loja, que anunciei no título. Além das bananeiras, esta semana peguei um ritual mais "trabalhado" na rua aqui do hotel (ou presenciei um "trabalho", no sentido umbandístico da palavra, hehehe). Devia ter dado alguma zica na loja.

A princípio pensei que era parte dos fogos de artifício e talz - a meninada estava por toda parte botando bomba na rua (acho que pra sacanear os tuk-tuks, sei lá), e de vez em quando você via estrelinha e vulcão (daqueles que acende no chão e sobem as luzes coloridas). Mas dessa vez era uma chama mesmo acesa na porta da loja, e o cara  que depois se revelou ser o dono da loja  com uma melancia com pavio (?). Ele (descalço) foi lá acender a melancia na chama que estava no chão. Pronto, agora é que essa zorra vai explodir e vai voar melancia em todo mundo. Negócio surreal. Apressei até o passo pra escapar da melancia explosiva - e fiquei olhando com o pescoço entortado enquanto andava, já que a curiosidade era muito forte.

Que nada, não explodiu. Em vez disso, o cara tacou a melancia acesa no chão com força e ela se espatifou toda (e sim, voou em quem estava perto). Daí vem o sacerdote, que já estava dentro da loja (vestido igualzinho o pândite da novela, com aquela toga branca e a cabeça meio raspada), e passa o incenso enquanto recitava algo que o barulho da rua não me deixou ouvir. De relance peguei o cara ainda ajeitando a chama depois de espatifar a melancia, olha ae.
Comerciante durante ritual de purificação de loja em Bangalore, ajeitando a chama após espatifar uma melancia no chão.

E não era nem loja ralé, como vocês podem ver aí. Bangalore aqui, na verdade, parece ser bem mais organizada que as cidades anteriores que eu visitei. Pelo menos as ruas do centro tem calçada (êêê!!), os sinais de trânsito funcionam, tem faixa de pedestre (que os carros param em cima, mas aí também você ia querer demais, isso aqui ainda é a Índia). Dá uma sacada aí no jeitão da cidade.
Bangalore em sua área mais classe média-alta. Ruas decentes e boas lojas ao redor.

Eu falei que havia igrejas aqui. Na verdade, tem três só na minha rua e uma bem defronte do hotel, ortodoxa (embora a maioria sejam católicas romanas). É interessante porque até então eu não tinha visto igreja nenhuma na Índia. Mas aqui no sul há uma herança colonial mais forte (tanto portuguesa quanto inglesa), e há inclusive vários indianos cristãos. Quando fui dar uma olhada na Igreja de São Patrício, da foto abaixo, estava tendo missa (em inglês) e com até uma boa quantidade de pessoas - embora não estivesse lotada. Pra contrastar arquiteturalmente em estilo, um templo hindu também aqui da cidade que eu visitei.
Igreja de São Patrício em Bangalore, do século XIX
Templo hindu em Bangalore, dedicado a um dos filhos do deus Shiva.

Mas o local pra visitar mesmo em Bangalore, dizem todos os guias, é o Templo da Sociedade Hare Krishna, então eu fui lá. (Câmeras proibidas, então vocês vão ver só o lado de fora). Esse movimento, pelo que eu soube, na verdade se iniciou nos Estados Unidos, embora por um indiano. Aí os centros foram se espalhando... e até aí no Brasil têm uns. Na verdade, eu achei mais comercial do que templo mesmo, embora o vão central seja bonito e o cantar conjunto dos sacerdotes com o povão entoando tenha um impacto.

Hare Krishna Hare Krishna
Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama
Rama Rama Hare Hare

Entrada para o Templo Hare Krishna em Bangalore.

(Krishna e Rama foram duas encarnações do deus Vishnu na religião hindu. Os indianos dizem que eles existiram mesmo, e tem até os lugares onde nasceram e talz. Mas, tal como Moisés e os personagens da Bíblia, as únicas provas da existência acabam sendo mesmos as escrituras das respectivas religiões).

O templo tem um belo altar de ouro e um chão limpo onde você pode se sentar, meditar etc. Há sininhos, incenso, chamas, com direito a tudo. (Só se entra descalço). Para entrar, inclusive, há duas opções. Uma é a entrada normal (que eu peguei), a outra é a mais hardcore, a de quem vem orando. Nesse caso, você fica igual num jogo de ludo; há 108 quadrados no chão em que você vai pisando um a um e dando a volta no templo. A cada um você precisa recitar o mantra hare krishna aí acima, e aí você avança. Hehe, quando vocês vierem aqui podem tentar essa via.

Bom, hoje eu tomei um café da manhã abastado mas já está me dando fome, então não vou me demorar muito mais. A comida daqui do sul uma beleza. Mais arroz do que pão - o que eu pessoalmente prefiro, embora eles aqui façam tudo de arroz inclusive bolinhos e panquecas. Belos molhos com leite de côco, gengibre, pimenta do reino e cravo-da-índia (tinha que ser daqui mesmo!). E boas frutas, tais como no nordeste do Brasil. Tomei até milk-shake de sapoti outro dia desses (que aqui é conhecido como chikku). (Éééé... podem zoar dizendo que eu achei "chico" gostoso, hehehe).

Xô ir me embora que eu ainda tenho coisa pra fazer antes de pegar meu ônibus pra Goa. Vô pro litoral. Hehehe. Ver um pouco de praia e de herança portuguesa, lá que foi colônia até 1961. Vamos que vamos, e dou notícia a vocês de lá.

Abraço!

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