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Eu pequenino diante da imensa catedral gótica em Quimper. |
Calma, não se confunda. Eu sei que isso chocará a muitos brasileiros, mas a Bretanha fica na França. Não a confunda com a Grã-Bretanha, a ilha que abarca a Inglaterra, o País de Gales, e a Escócia, mais ao norte. O nome comum provém dos povos bretões, uma tribo celta da atual Grã-Bretanha e que, após as invasões romanas na época de Cristo, migrou para esta ponta noroeste da França que viria a se chamar Bretagne em francês — ou Bretanha em português. Já foi também chamada de "Pequena Bretanha", pra a distinguir da Grã-Bretanha.
A Bretanha tem uma forte personalidade regional. (Talvez a maior de toda a França, comparável apenas à ilha da Córsega, onde dizem que se um não-córsego comprar uma casa de veraneio, no verão seguinte a encontrará arrombada).
A Bretanha tem seu próprio idioma regional de origem celta, tem um visual à-là-norte-da-Europa bem distinto, quitutes próprios e característicos pratos com frutos do mar (sobretudo ostras). Aqui também surgiram os famosos crepes franceses, e há talvez a mais antiga tradição de fabrico de sidra de maçã.
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Regiões francesas e a localização da Bretanha. |
Nantes, administrativamente, não é parte da região da Bretanha, mas historicamente é. Portanto, lá você encontrará muito a que me refiro aqui em Quimper em termos de gastronomia e identidade cultural.
A França, que estamos acostumados a conhecer hoje como uma nação unitária e de cultura singular, foi pela maior parte da História um amálgama de regiões com culturas, línguas, e identidades políticas diferentes: a Bretanha, a Borgonha, a Aquitânia, a Occitânia, entre outras. A Bretanha só foi absorvida ao reino francês em 1532, após a filha do duque da Bretanha — Anna da Bretanha — casar-se com o rei francês Luís XII.
Ainda assim a Bretanha guardou enorme autonomia e era tratado como um reino distinto, ainda que sob a mesma coroa. Assistam/leiam/joguem coisas da época de Joanna D'Arc (1412-1431), por exemplo, e verão como os reinos e principados franceses se digladiavam uns contra os outros, inclusive aliando-se ocasionalmente aos ingleses. Foi apenas com os reis absolutistas (como Luís XIV) e depois com Napoleão que as identidades regionais seriam forçosamente suprimidas para dar lugar à identidade nacional.
O mesmo virá a ocorrer com a União Europeia, suprimindo no futuro as identidades nacionais de hoje? Há, inclusive, um novo movimento autonomista aqui na Bretenha, querendo reconhecimento maior às identidades regionais sob a União Europeia — como ocorre com a Catalunha, na Espanha, ou a Baviera, na Alemanha.
Chegue aqui a Quimper e você logo notará uma arquitetura e visual distintos.
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Com casas de estilo bretão, no centro de Quimper. |
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Com a distinta senhora Anna da Bretenha, em Nantes. |
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Castelo medieval bretão em Nantes. Seu fosso foi transformado num parque verde. |
Voltando a Quimper, esta cidadezinha lhe ocupará por um dia. Há um centro histórico pitoresco, uma catedral gótica linda, e as delícias regionais a experimentar. Como eu sei que há muita gente curiosa pra o lado da gastronomia, deixem-me já adiantar o que vocês poderão experimentar aqui nas agradáveis mesas das praças e nos cafés.
A Bretanha, como outras partes da França, é uma região rica em patisseria. Aqui, no entanto, você sente claramente que está numa região de forte influência céltica: às vezes se parece mais com a Inglaterra ou a Alemanha do que com o sul da França, de personalidade mediterrânea. Aqui na Bretanha, prepare-se para comer tortas de maçã, pães doces amanteigados, bolos de chocolate fundido, etc. (Não venha pra cá se estiver de dieta).
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Olha que mesa de café da manhã bonita. Não resisti e comprei um de cada. |
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Calçadões no centro histórico de Quimper. |
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Se quiser se aventurar, pode experimentar também a coca-cola bretã, Breizh Cola. (Breizh é bretão em bretão). O sabor é o de aspirina diluída em pepsi-cola. |
Depois de um pouco circular será a hora de pausar novamente para experimentar algo melhor: sidra artesanal e as galettes tradicionais da região. Os quitutes de maçã são tradicionais em todo o norte da Europa porque aqui os povos celtas já a cultivavam desde a antiguidade. E faziam também a sidra, bebida fermentada de maçã com baixo teor de álcool (4 a 5 graus, em geral). Há vários tipos: doce, seca, semi-seca, e há toda uma cultura em torno dela aqui. A Bretanha talvez seja a região onde a sidra é mais tradicional em todo o mundo.
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Sidra, aqui tradicionalmente tomada nesses copos redondos. Acompanha normalmente as galettes. |
Galettes têm diferentes significados a depender de onde na França (ou no Canadá francês) você estiver, mas as mais tradicionais são as da Bretanha, que são como crepes abertos e com muito recheio por cima. São uma refeição. Eles aqui, que inventaram os crepes para o mundo, guardam a palavra crêpe para as versões doces. (Os crepes franceses, os originais, são abertos ou dobrados no prato; os crepes suíços, no palito, são uma modificação posterior).
Há galettes deliciosas de vários tipos, e talvez a mais característica daqui seja com moluscos do mar no molho de creme. Soa exótico, mas é bastante saboroso.
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Não sou chegado a moluscos, mas esta galette à là bretonne é espetacular. |
Eu sei que a esta altura já tem muita gente babando e com fome. Mas, como nem só de pão vive o homem, não deixe aqui de aproveitar também o belo ambiente desta França menos conhecida, que mistura-se com ares irlandeses e britânicos de Robin Hood, de reminiscências célticas que aqui se fundaram e permanecem, nas entrelinhas, até hoje.
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Interior daquela catedral gótica da primeira foto, no centro histórico de Quimper. |
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Centro de Quimper. |
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Um convite a você. |
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