sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Uma Espanha autêntica: Em Valencia, a cidade da paella

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Valencia mostra uma Espanha autêntica. Pouco turística, a cidade que inventou o prato espanhol mais famoso do mundo se foca em si mesma. Esqueça as hordas de turistas. Valencia é uma cidade movimentada, mas movimentada por espanhóis. Graffiti nas ruas dividindo espaço com igrejas mui católicas, cafés servindo café con leche, e pernas de porco dependuradas nos bares  tudo à moda espanhola.

O toque regional é dado pelas coisas escritas em valenciano nas ruas. Como capital da Comunidad Valenciana (uma das 17 "comunidades autônomas" que compõem a Espanha), Valencia é próxima de Barcelona, capital da vizinha Catalunha. Ambas eram parte do reino medieval de Aragão. Sua língua, portanto, é praticamente idêntica ao catalão, mas aqui eles gostam de dizer que é "valenciano". 

Na prática, todo mundo aqui fala tanto o castelhano quanto o catalão/valenciano. (Mas não chame castelhano de "espanhol" aqui, ou eles te corrigirão. Chamar seu castelhano de "espanhol" foi a política de Madrid para obliterar as línguas regionais, e eles aqui reagem.)

E na prática, Valencia é quase uma Barcelona sem turistas. É para quem quer dar uma pausa no turismo e experimentar um pouco do dia-dia normal na Europa.
O que seria a rua Calle de San Pablo em castelhano vira Carrer de Sant Pau em valenciano.
Cheguei aqui a Valencia de trem, vindo de Barcelona. Era uma manhã fresca e ensolarada de primavera, daquelas boas pra se sentar a uma mesa na calçada tomando vagarosamente um café.

Havíamos, eu e minha amiga romena, reservado um apartamento de Jesus, um espanhol. (Este Jesus terminou sendo até parecido com o original, e era simpático.) Nós ficamos à beira da cidade antiga, no centro de Valencia, a parte mais interessante de visitar.

Valencia é uma cidade pacata, que parece melhor pra morar do que pra visitar como turista, mas que não deixa de ter seus atrativos.

Além disso, aqui pudemos ir à praia comer paella no almoço à beira-mar, como fazem os espanhóis. (Comer paella na janta é coisa de turista, dizem os valencianos, inventores do prato.)
A tranquilidade em Valencia, convidando a uma vagarosa xícara de café na calçada.
Curiosamente, nós sem querer acabamos começando a visitar pela parte feia do centro (no oeste), que depois nos recomendariam evitar. É hoje uma área meio largada, povoada atualmente por mendigos e viciados em drogas. Não é exatamente a cracolândia, mas você percebe a vibe. É algo que acomete muitas das cidades europeias com suas populações de excluídos.
A parte "acabada" no centro de Valencia. Hoje parece habitada por muitos imigrantes pobres, tanto do leste europeu quanto da África.
"Nenhum ser humano é ilegal".
Mais para o miolo do centro as ruas ficam mais cênicas, o casario melhor preservado, e há mais movimento. Estávamos achando Valencia sem graça, mas fomos mudando de opinião.
Ruelas quietas do centro de Valencia. Como eu disse, não há hordas de turistas aqui.
Ruas tranquilas.
Mas não ache que é tudo parado. Há aquele movimento "família" de dia de domingo, sobretudo quando se aproxima o fim do dia.
Fim de tarde em Valencia, com famílias passeando.

Da tranquilidade vocês já se convenceram. Mas há em Valencia também coisa bonita pra ver. Não são monumentos como a Sagrada Família em Barcelona, mas merecem atenção.
A catedral de Valencia.
Interior da catedral.
A abóbada.
O popular Mercado Central, também com sua abóbada.
O Mercado Central lembra um pouco o de São Paulo, e acaba sendo um lugar legal de visitar e onde fazer um lanche. (Só abre de manhã.)

Demos umas voltas e fomos finalmente almoçar, na praia. Mas o programa de "praia" aqui na Europa é diferente do brasileiro. Se no Brasil vamos quase sempre pegar um sol, entrar no mar e curtir as ondas, aqui na Europa em geral não há ondas, e quase sempre a água está muito fria. Acaba sendo mais um programa de curtir a orla tomando um drinque ou café à beira-mar, olhando a água e tomando uma brisa ou sol.
Tonho da Lua esteve aqui fazendo esculturas de areia. 
Calçadão na praia de Valencia. É deveras quieto, nada comparado às movimentadas praias urbanas do Brasil. Acho que aqui acaba sendo um reduto de verão, mas que fica semi-vazio no resto do ano.

Mas não viemos exatamente pela praia, e sim pela paella.

A paella é uma espécie de risoto espanhol feito com mariscos, legumes e azeite de oliva. É sempre feito numa panela específica (a paellera), larga e rasa, onde é também servida pra várias pessoas (não há paella individual), e o arroz fica ainda ligeiramente crocante.  

A origem é das refeições comunitárias e de família do medievo. Os árabes trouxeram o cultivo do arroz da Ásia para a Espanha no século X, e a partir daí os camponeses o misturaram ao azeite de oliva e legumes da região. Com o peixe e mariscos, os cristãos daqui depois adotaram o prato como algo que podia ser comido na quaresma, quando os cristãos em geral evitam carnes. 

Há hoje versões diversas, com frango e até coelho, mas optamos pela clássica.
Nossa linda paella com camarões, servida tradicionalmente na própria panela.
Esta foi, em 1992, a maior paella do mundo, feita aqui em Valencia com cinco toneladas de arroz. Alimentou 100 mil pessoas.
Comemos tranquilamente com alguns outros poucos turistas  inclusive um espetaculoso casal italiano gay, desses italianos esportivos com espírito de celebridade que fazem galhofadas e usam óculos escuros dentro de restaurante. Casa cheia, mas nada daqueles grandes grupos de turistas. Os turistas aqui são quase todos viajantes independentes.

Ao fim do dia, encontrar-me-ia com María (ou María del Carmen, como ela não gosta de ser chamada), uma amiga valenciana.

Fomos dar umas voltas na cidade, comer tapas e, depois, expor-nos a umas sobremesas malignas. 
Com María, e atrás um pouco do patrimônio arquitetônico de Valencia.
Agora de outro ângulo. Casario da época da Espanha imperial.
Arte mais moderna. Cantora numa panela de paella. Criatividade valenciana.
Tapas, petiscos típicos de fim de dia na Espanha. Aqui temos queijos, pão, patatas bravas e os onipresentes presuntos, que os espanhóis adquiriram o hábito de comer há séculos atrás para distinguirem-se dos judeus e muçulmanos (que não comem porco). 
Olhe que coisa mais maligna esse bolo. Sem comentários.
Valencia acabou sendo uma estadia tranquila e sossegada  de caminhadas pela cidade, cafés aqui, beliscos ali, rever amigos e passar um tempo leve. Seria muito diferente do que me aguardaria dali a poucos dias na Tunísia, norte da África, de volta ao mundo árabe. 

Deixo vocês agora com algumas fotos do Jardín del Turia, um leito de rio transformado em parque municipal, e mais do passeio por lugares bonitos de Valencia.
O Jardín del Turia, um extenso parque feito nos anos 60 sobre o que era o leito do Rio Turia. Após uma grande inundação em 1957, os valencianos decidiram desviar o curso do rio para fora do centro da cidade, e aqui fizeram este parque. Embora a ação ecológica seja discutível, o parque é amplo e aprazível. 
Um dos portões medievais da cidade. Antes havia o rio na saída, agora há aquele parque. 
Na Cidade de Artes e Ciências. É mais um museu interativo, desses onde vão turmas da escola aprender sobre ciências. O exterior é de acesso livre e muito bonito.
Raluca e eu tomando uma horchata de uma tia latino-americana que encontramos. (Horchata é uma bebida fria e levemente doce feita de amêndoas, arroz ou outras sementes. É típica em países de língua espanhola.) 
Tomando um chocolate na tradicional Horchatería de Santa Catalina, que é chocolateria também.
A autêntica Valencia.

Um comentário:

  1. Cidade charmosa, com um misto de influencias italianas, mouras, parisiense e da própria Espanha. Adorei a mistura do medieval e do moderno.Curiosa a mudança do curso do rio. a paella é mesmo uma delicia, e na terra dela então deve ser melhor ainda.Adorei as ruelas, os casarões com sacadas, os lampiões o casario, as luzes das parças e o mar azul com o céu sem nuvens. Bello mediterrâneo. E a chocolateria então, parecia uma delicia o chocolate. A paella gigante foi uma onnnda haha. Adorei. a cidade tem um ótimo astral. Bom ver os amigos e passar assim um tempo gostosa e tranquilo. Bela avenida à beira mar e as palmeiras que lembram o Brasil e o norte da África. Bela cidade. É isso ai viajante. Essa Espanha é mesmo linda. Boa continuação da viagem

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