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Teotihuacán, uma das mais impressionantes cidades antigas da Mesoamérica. Estamos no México, perto da capital. Teotihuacán é um sítio que precede até mesmo a cultura asteca. Trata-se das ruínas de uma antiga cidade indígena, datada do século I antes de Cristo. Diz-se que a cidade vingou ao longo de todo o primeiro milênio depois de Cristo, provavelmente com uma população de várias diferentes etnias indígenas da região. As ruínas estão surpreendentemente bem preservadas. As enormes pirâmides do sol e da lua continuam aqui, e é possível subir os seus íngremes degraus — o que eu fiz, não sem antes tomar uma dose de tequila pra sacanear o estômago já pela manhã.
Cheguei ao México esta semana. Já no aeroporto fui congratulado com uma pérola de um compatriota brasileiro. "Ah, eu não sei preencher isso aqui, não", dizia a mulher de um casal de meia idade diante do formulário de imigração. Nada além do habitual, o que o Brasil também exige aos estrangeiros que chegam. O formulário estava em espanhol e em inglês. O oficial da alfândega dizia-lhes que eles não podiam passar sem preenchê-lo. O homem do casal brasileiro, aparentemente sem entender patavinas do espanhol do mexicano e em tom de cumplicidade comigo, então me solta: "Eles veem que tem voo chegando do Brasil, deviam pôr aqui alguém que falasse português, né?". Eu fiquei sem jeito de dizer que, se assim fosse, teriam que pôr gente que falasse todos os idiomas do mundo, já que aqui chegam voos de todas as partes.
Ajudei-os e se resolveram. Mas eu fico meio de cara com essas pessoas que viajam a um país estrangeiro sem a mínima noção do idioma. É a mesma coisa que fazem os norte-americanos, que chegam à Europa achando que todo o mundo fala inglês. Ou o que fazem os russos, os chineses, e outros — não é exclusividade de brasileiro. Parece síndrome de país grande, habituado a conceber a vida exclusivamente em seu próprio idioma, gente nada habituada a interagir com estrangeiros que não falam a sua língua.
Achei o Aeroporto Benito Juárez bem demodê, diga-se de passagem. Mas deixemos a Cidade do México para um post futuro. Comecemos respeitando a cronologia histórica aqui nestas aventuras no México, com um dos que foram dos meus primeiros passeios ao chegar. Vamos a Teotihuacán.
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Vendedor de bugigangas com o típico sombrero mexicano em Teotihuacán. |
Cheguei num desses tours guiados, desses que duram o dia todo. De quebra, antes de Teotihuacán, passaríamos numa oficina de produtos de rocha obsidiana, extraída na região. Esse é o vidro vulcânico que os astecas — e povos que os precederam — usavam para confeccionar armas e ferramentas. (Pra quem lê As Crônicas de Gelo e Fogo ou assiste a Game of Thrones, esse é o tal dragonglass, "vidro de dragão" de que falam; existe de verdade).
Acabou sendo uma grande mostra de vários produtos da região, incluso bebidas. O nosso guia, Luís, era um senhor já meio idoso, com cara de mexicano e sotaque de texano quando falava inglês (no nosso grupo éramos todos estrangeiros). Andava feito George Bush, como se tivesse uma pistola na cintura. Com sua cara de malandro, fazia comentários de que só ele ria, enquanto olhava astuto para nós. Levou-nos para um outro malandro, Ricardo, que nos tentaria vender produtos caros — coisa pra gringo ver — na sua oficina. É um desses acordos hiper-comuns entre agências de viagens e lojas caras aonde trazem os turistas.
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Produtos feitos com rocha obsidiana, o tal vidro vulcânico, polido. |
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Os produtos eram caros, mas bem bonitos. |
Ricardo, que acolheu o nosso grupo, vinha com a sua lábia de vendedor pra cima de mim: "De qual você gostou mais? Posso fazer um preço especial. De onde nos visita?", etc. Tô na sua. Acho que não havia nada por menos de 100 reais, os mais baratos.
A parte boa, belezas à parte, foi que tivemos uma pequena mostra de como o agave — planta suculenta de clima áridos — sempre teve mil utilidades para as pessoas daqui, incluso na fabricação de bebidas. Pra quem não sabe, a tequila é feita dessa planta.
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Da agave se lasca também "folhas" assim, que Ricardo puxou ali na hora. Os antigos indígenas daqui as usavam como papel, para escrever e desenhar. |
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Da ponta se faz uma agulha para costurar com as fibras da planta. Com essas fibras se fazem roupas, tapetes, e tecidos de vários tipos. Fica coisa fina mesmo. |
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E, claro, da tal água de mel também se faz a tequila, destilada, ou o pulque, fermentado. É o que está naquela jarra de suco, e experimentaríamos. |
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Eu tomando pulque. Ô negócio "disinfiliz". |
De fato, nada como uma dose de destilado, já pela manhã, antes de subirmos as íngremes pirâmides indígenas que nos aguardavam. Tomamos à maneira tradicional, pondo sal e limão na língua antes de virar a dose. Outro negócio sem nenhum apelo comigo, mas pelo menos não tinha textura de cuspe.
Depois desse programa, fomos afinal às ruínas de Teotihuacán, já devidamente alcoolizados.
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Escadaria da Pirâmide da Lua, vista de baixo. |
Subir a Pirâmide da Lua era fichinha, se comparada à do sol. No entanto, por ficar na cabeceira da avenida, dá uma visão impressionante.
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Escadaria da Pirâmide da Lua. Os degraus são altos e íngremes. Percebam algumas pessoas "catando fichas", com as mãos no chão para subir com melhor equilíbrio. |
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A vista de cima da Pirâmide da Lua, diante da Avenida dos Mortos. Ali ao lado esquerdo, no horizonte, está a Pirâmide do Sol, ainda mais alta. |
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Eu lá em cima. |
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Já lá embaixo, com a Pirâmide da Lua ao fundo. |
O nome "Avenida dos Mortos" também foi interpretação asteca, pois acreditaram que as pequenas elevações aos lados da avenida eram túmulos. (Os arqueólogos viriam depois sugerir que eram, na verdade, templos). Hoje essa avenida é um longo passeio de mais de 3km de extensão. Para onde você olhar, impressiona a retitude e a simetria das construções, com ângulos e formas geométricas precisas.
Nos aposentos onde vivia a antiga elite da cidade, ainda é possível ver afrescos nas paredes em cores vivas, com desenhos de aves coloridas e deidades, além de imagens esculpidas nas colunas.
Depois dessas primeiras paradas — e de comer dois picolés e dois sanduíches caseiros com queijo, tomate, alface, cebola e abacate, porque estava com fome — fui finalmente à Pirâmide do Sol. Subestimei o tamanho da coisa, o da fila que estava para subir, e o tempo que levaria para chegar até em cima.
A base da pirâmide são 220x230m. De altura são 65m que você sobe levantando a perna até quase rasgar as calças, de altos que são os degraus. Quando você pensa que chegou, se dá conta de que está apenas na metade. As pessoas parecem formigas em comparação. Você chega ao alto botando o coração pela boca.
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Gente subindo na Pirâmide do Sol em Teotihuacán. |
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De outro ângulo. |
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Uma vista do alto. |
Desci já quase sem fôlego, doido por um lugar onde me sentar. Mas não dava. Tínhamos o tempo contado, pois o guia nos aguardava do outro lado para prosseguirmos com o passeio, ao final da avenida — que eu caminhava e parecia não acabar nunca. Atrasei-me, e quando vi Seu Luís perguntei se era o último. "Você é o segundo", disse ele espiando por cima dos meus ombros pra avistar quem mais vinha. Ainda esperamos uma boa meia hora até aparecerem os restantes. Entre eles havia uma islandesa enorme, de facilmente mais de 100kg, que eu ficava a imaginar como havia se havido nos degraus.
Com a criançada a brincar tresloucada com apitos que soavam como o rosnar de jaguares (onças), sentei-me à beira de umas lojas para tomar água e ar. Volta e meia vinham vendedores ambulantes com bijuterias de prata falsa e esculturas de ônix e outras pedras dizendo que era obsidiana.
Em tempo chegaram todos. Era só o começo das minhas andanças no México.
Nossa que epopéeeiiia. Mas que é impressionante isso la é. Muito corajoso o senhor meu caro. fiquei impressionada com a altura com a beleza e a imponencia do lugar. Valeu o esforço. Pelo visto civilização com alto conhecimento.
ResponderExcluirConfesso que imaginando você tomar o cuspe, depois a tequila, no meio das pirâmides, acabou me fazendo rir alto!
ResponderExcluirFotos espetaculares!